5 fatos que marcaram as operadoras em 2018: franquia na banda larga, 4G de 700 MHz, queda da TV paga e mais

Franquia na banda larga fixa voltou às discussões, cobertura de 4G melhorou bastante e os pequenos provedores ficaram maiores

Lucas Braga
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• Atualizado há 1 ano
Imagem: albertoadan/Pixabay

Nem parece, mas já chegamos ao final do ano e muita coisa aconteceu durante o período nas telecomunicações. Embora não tenha sido um ano de implementação de novas tecnologias ou de grandes escândalos com a Anatel, 2018 foi importante para que as operadoras se estruturassem para crescer nos próximos anos.

Em 12 meses, a cobertura de 4G cresceu substancialmente, os pequenos provedores se deram melhor que os grandes, a telefonia fixa e a TV por assinatura perderam mais assinantes e o tema da franquia da banda larga fixa, ainda sem solução definitiva, voltou às discussões.

Confira os principais destaques na retrospectiva de telecom do Tecnoblog.

O ano é dos pequenos provedores

As operadoras tradicionais estão enfrentando uma concorrência que era inimaginável cinco anos atrás. Em 2018 os pequenos provedores de internet ultrapassaram Oi e Vivo no market share de banda larga.

Dados de outubro da Anatel indicam que, juntos, os pequenos provedores representam 25,3% do mercado, enquanto a Vivo possui 24,7% e a Oi conta com 19,8%. É o famoso comer pelas beiradas: enquanto as grandes operadoras não ligam muito para a expansão nas cidades menores, os pequenos se aproveitam da demanda da população e oferecem o serviço, normalmente através de fibra ótica.

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A situação é pior para a Oi, que oferece serviços fixos em todos os estados do Brasil com exceção de São Paulo. Pela falta de investimentos devido à recuperação judicial, a operadora continua vendendo banda larga com tecnologia xDSL, sendo que em muitas cidades do interior a velocidade máxima oferecida mal chega a 5 Mb/s. A Vivo já possui maior cobertura de fibra ótica, mas a expansão se concentra em cidades com alto potencial financeiro, enquanto cidades menores e municípios atendidos por xDSL pela antiga GVT possuem pouca ou nenhuma expansão de FTTH.

É fato que os pequenos provedores passaram a incomodar os grandes grupos de telecomunicações. Tanto é que a Oi fechou um grande contrato com a Huawei e promete expandir consideravelmente a cobertura de banda larga com fibra ótica no Brasil, enquanto a Vivo direciona boa parte dos investimentos também para expansão de fibra.

A maior concentração de clientes continua com o grupo Claro, que fechou o mês de outubro com 30,3% do mercado. É a única grande operadora que conseguiu efetivamente aumentar o número de clientes. A TIM segue expandindo de forma discreta a cobertura do TIM Live, que chegou a cidades do Norte, Nordeste e Centro Oeste.

Franquia na banda larga fixa, mas zero-rating no celular

A polêmica da franquia na banda larga fixa começou em fevereiro de 2016 por conta da Vivo e ainda não foi resolvida. Embora as operadoras estejam proibidas de aplicar limites, a liminar da Anatel pode cair a qualquer momento e abre espaço para as empresas reduzirem a velocidade ou mesmo cortar o acesso após o consumo da franquia estabelecida.

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As operadoras continuaram pressionando a Anatel para retomar o assunto, o que não é um bom sinal para os usuários de banda larga fixa. A partir de 1° de janeiro de 2019, quem assume a presidência da Vivo é Christian Gebara, que foi entrevistado pelo Tecnoblog quando comandou a fusão com a GVT e defendeu o corte de internet após o término do limite de dados estabelecido.

Mas as empresas também reformularam diversas vezes seus planos de telefonia móvel em 2018, e algo ficou unânime: todas possuem WhatsApp sem descontar da franquia na maioria dos planos, e existem muitas opções com franquias exclusivas para serviços de streaming.

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Quem começou com essa tendência foi a TIM, que no final de 2017 oferecia planos do pós-pago com duas franquias de internet, sendo uma para Netflix e YouTube e outra para o resto da internet. A Vivo copiou em seguida com o Double Play, incluindo uma franquia tanto para serviços de vídeo como de músicas. A Claro aderiu ao modelo no segundo semestre de 2018, enquanto a Oi também lançou planos com Netflix e YouTube ilimitados. Além disso, Oi, Claro e TIM também possuem diversos planos com redes sociais ilimitadas, como Twitter, Instagram e Facebook.

A prática é chamada de zero rating e é um assunto controverso pois dependendo da interpretação fere o princípio de neutralidade de rede, que está previsto no Marco Civil da Internet. No entanto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) entendeu que as operadoras podem oferecer acesso a apps sem descontar da franquia.

Mais cobertura de 4G (obrigado, 700 MHz!)

Dados do Teleco de novembro informam que a cobertura 4G está disponível em 4.302 municípios por pelo menos uma operadora, cobrindo 95% da população brasileira. 431 cidades receberam a tecnologia durante o ano de 2018.

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A líder de cobertura é a TIM, que chega a 3.218 cidades. A Vivo está em segundo lugar, com 3.048, enquanto a Claro atinge a marca de 1.962 e a Oi segue com discretos 840 municípios. Quem mais expandiu em 2018 foi a Claro, com 553 novas cidades em 2018, seguida pela Vivo, com 448. A TIM passou a oferecer o serviço em 215 cidades durante 2018, enquanto apenas 27 municípios receberam a cobertura da Oi.

A grande verdade é que as operadoras conseguiram crescer e melhorar sua cobertura graças à frequência de 700 MHz, que foi amplamente ativada durante 2018 graças ao desligamento da TV analógica.

Além disso, as empresas se uniram para compartilhar infraestrutura, permitindo expandir o serviço com custo significativamente mais baixo. 2018 marcou acordos entre TIM e Oi, TIM e Vivo e TIM e Claro permitindo roaming na rede 3G sem custo extra para o usuário.

Menos fronteiras para usar o celular no exterior

É muito comum comprar um chip de uma operadora local ao viajar para o exterior, mas esse hábito irá diminuir com o tempo. Foi em março de 2018 que a Comissão Interamericana de Telecomunicações (Citel) firmou um acordo com 19 países das Américas para eliminar as tarifas de roaming internacional.

Dentre os países estão Estados Unidos, Canadá e Argentina, destinos populares entre brasileiros. A implementação possui prioridade média com prazo para 2022. O Chile ficou de fora do compromisso geral, mas firmou um acordo com o Brasil que prevê o fim das tarifas de roaming entre os dois países em até um ano.

A Claro foi uma operadora que se destacou no uso internacional: após lançar o Passaporte Américas no fim 2017, a operadora trouxe o Passaporte Europa no mês de abril e recentemente criou o Passaporte Mundo, em que clientes de planos pós-pagos pagam uma anuidade para utilizar os serviços do seu plano em até 80 países. As outras operadoras continuam cobrando fortunas por diárias de internet e ligações.

Queda na TV paga e telefone fixo

Com exceção da Oi, todas as operadoras perderam assinantes de TV por assinatura. Com a popularização da banda larga, acesso à TV pirata e o custo reduzido dos serviços de streaming de vídeo, muitos brasileiros estão preferindo manter apenas banda larga em casa. A TV paga apresentou queda anual de 2,26% entre outubro de 2017 e 2018.

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Para não perder tanto, operadoras criaram parceria com algumas plataformas: a Vivo disponibilizou o app da Netflix nos set-top boxes para os assinantes da Vivo TV Fibra, além de vender assinatura do Amazon Prime Video para seus clientes com pagamento na fatura da operadora, enquanto Oi e TIM possuem parceria com Netflix e oferecem 3 meses grátis para os assinantes de banda larga.

Já o telefone fixo não tem muito jeito: o serviço perdeu 5,6% dos clientes entre outubro de 2017 e 2018. Com o amplo acesso aos celulares, a telefonia fixa já não faz sentido para muita gente.

O que esperar para 2019?

Na telefonia móvel, imagino que as operadoras sejam mais agressivas na oferta de planos controle. A Vivo possui boa receita e gasto médio por usuário, mas Claro e TIM certamente terão estratégias para converter a base de clientes do pré-pago em planos com pagamento mensal. A própria TIM já deu seus primeiros passos, acabando com o bônus de internet no pré-pago e deixando o plano caro, confuso e com custo-benefício ruim.

Também é de se esperar uma expansão maior do 4,5G, tecnologia que permite maior velocidade ao agregar diferentes frequências. Os 700 MHz que se popularizaram em 2018 são úteis para cobrir grandes áreas com menos antenas, mas em áreas de grande densidade é inteligente utilizar frequências como 1.800 MHz, 2.100 MHz e 2.600 MHz para suportar mais usuários e entregar mais banda. Além disso, é muito provável que algumas operadoras façam o refarming da frequência de 850 MHz, utilizada atualmente com 2G e 3G.

Já tem gente interessada na compra da Nextel, e talvez o processo de venda tenha destaque em 2019. E, com a chegada do iPhone XS e XR, as operadoras brasileiras provavelmente darão seus primeiros passos com a tecnologia eSIM. Ela já é utilizada atualmente por Vivo e Claro com smartwatches, mas novos smartphones com a tecnologia do chip virtual surgirão no ano de 2019 e essa é uma demanda que as operadoras deverão atender para agradar seus clientes.

Usando smartphone

O próximo ano também será importante para o 5G no Brasil: embora as operadoras não tenham pressa com a tecnologia, 2019 será importante para definir os rumos da nova geração de redes no Brasil, além de um possível leilão de frequências que viabilizará a novidade.

Em infraestrutura, as operadoras investirão firmes na expansão da rede de fibra ótica. Enquanto Vivo e Oi não conseguirem expandir seu serviço de fibra com maior agilidade, os pequenos continuarão comendo pela beirada ao atingir regiões esquecidas pelas grandes operadoras. Além de possibilitar acessos fixos, uma vasta rede de fibra é importante para entregar qualidade na telefonia móvel. Com uma expansão discreta para fora do eixo Rio-São Paulo, é esperado que a TIM expanda o serviço TIM Live para novas capitais.

A não ser que um milagre aconteça, as desconexões de linhas de telefonia fixa devem continuar e a TV por assinatura deverá seguir perdendo clientes. Com a expansão da rede de fibra ótica, Oi e Vivo passam a oferecer TV por assinatura via IPTV, mas isso não deve ser suficiente para retomar o crescimento do setor.

E, com uma nova direção da Anatel e um novo governo pela frente, também imagino que o debate de franquia na banda larga fixa voltará ao protagonismo. Embora a agência reguladora tenha proibido o limite na internet fixa com uma liminar, é importante dar um ponto final nesse assunto.

O que você espera de 2019 para as telecomunicações?

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Lucas Braga

Lucas Braga

Repórter especializado em telecom

Lucas Braga é analista de sistemas que flerta seriamente com o jornalismo de tecnologia. Com mais de 10 anos de experiência na cobertura de telecomunicações, lida com assuntos que envolvem as principais operadoras do Brasil e entidades regulatórias. Seu gosto por viagens o tornou especialista em acumular milhas aéreas.

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