Carros que se pilotam sozinho já fazem parte de posts recorrentes aqui no Tecnoblog. Já no episódio 33 do Tecnocast falamos sobre sua programação e como eles devem estar “prontos para matar”. Em outros posts comentamos sobre sua segurança, acidentes, fator de tecnologia disruptiva, questões legais, éticas e toda uma gama de assuntos que devem fazer parte desta realidade futura. Hoje vamos falar do que esse futuro nos reserva e como podemos fazer para evitar que ele seja, digamos, traumático.

Já conseguimos vislumbrar muitos dos benefícios que esses veículos podem nos trazer, como menos acidentes (ou acidentes menos letais), rotas cada vez mais inteligentes, corridas de táxi coletivas e mais baratas e, como eu espero com todas as minhas forças, a ausência de babacas parando sobre duas vagas nos estacionamentos.

Mas um estudo (PDF) da Universidade de Leeds, no Reino Unido, em colaboração com a Universidade de Washington e com o Laboratório Nacional Oak Ridge, dos Estados Unidos, acabou por levantar uma outra hipótese um tanto quanto incômoda.

A popularização de carros autônomos poderia piorar ainda mais a situação do trânsito nas grandes cidades.

Mas como isso seria possível?!

Pois é, entendo sua indagação, principalmente quando a gente pensa que a tendência é ter menos carros nas ruas, ou que os carros iriam conseguir operar com distâncias mais próximas entre si, ou mesmo “se conversar”, e esse trânsito seria distribuído pelas vias de forma inteligente.

Mas dentro de uma simulação mais prática e levando em considerações variáveis comportamentais humanas, esse cenário muda de figura. Segundo o estudo, apesar dos custos de energia de fato diminuírem bastante com carros autônomos, existe a possiblidade de vermos mais pessoas comprando mais carros, dependendo da cultura local.

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Peguemos como exemplo algo recorrente em cidades brasileiras: se optarem por ir de carro ao trabalho, ou outro destino ligeiramente mais longe da cidade, o sujeito precisa passar horas estressantes dentro do carro.

Quando eu morava no bairro de Moema, em São Paulo, cheguei a demorar três horas para chegar ao escritório que ficava próximo a Santo Amaro, também na zona sul da cidade. Estamos falando de uma distância de pouco mais de 10 quilômetros, gente. Três! Horas!

De Moema a Santo Amaro

Cheguei a pensar em vários outros tipos de transportes possíveis para chegar ao meu destino, como a combinação de ônibus e trem, ônibus e bicicleta, apenas bicicleta, helicóptero (mentira) e até mesmo pedalinho pelo Rio Pinheiros, tamanho desespero.

Todavia, se meu carro é quem vai fazer o serviço de transporte, esse período deixa de ser estressante e eu posso utilizar essas horas para outras tarefas dentro do carro. Estou sentado confortavelmente. Posso unir a falsa sensação de segurança de um carro, à possibilidade de me ater a outras coisas que não somente o trânsito.

Isso permitiria realizar reuniões, assistir filmes, colocar a leitura em dia e afins.

Mas o que isso tem a ver com uma piora no trânsito, Toad?

Calma cara! Tô chegando lá!

Se a tarefa de dirigir deixa de ser um estorvo, mais pessoas podem se sentir tentadas a adotar o carro como meio de transporte. Pessoas que moram longe e que costumeiramente já passariam mais tempo em transportes públicos ou de massa, poderiam querer comprar seus carros e passar todo esse tempo com mais conforto e comodidade.

Pessoas com problemas de locomoção não precisariam mais comprar carros adaptados, o que reduziria o custo, sendo esse um incentivo capaz de colocar milhares de carros adicionais nas ruas, numa sociedade que levaria então um estilo de vida ainda mais “carrocêntrica” (neologismo, trabalhamos).

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E como evitar esse pandemônio automobilístico? A melhor saída seria implementar sistemas cada vez mais amplos e acessíveis de transporte sob demanda. Um só carro conseguiria traçar uma rota para coletar os passageiros e rodar quase sempre com sua capacidade de ocupação máxima.

A Uber já tem um modelo bem parecido com isso, chamado uberPOOL, mas ainda como motoristas humanos. Veja que coisa mais antiquada! Mas funciona bem, uso bastante aqui em Atlanta e chega a custar até 40% mais barato que o uberX.

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WithPool

Devo colocar um adendo providencial aqui: algumas pessoas estão comentando que o compartilhamento de transportes assim pode ser perigoso e que você deve evitar a todo custo. Eu gostaria de lembrar essas pessoas que transporte coletivo nada mais é que um compartilhamento de meio de transporte. Os riscos e os cuidados devem permanecer.

Tanto esse sistema quanto um modelo que utiliza carros autônomos precisariam de penetração de mercado. Como disse Don MacKenzie, professor assistente do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Washington e um dos coautores do estudo: “Um sistema de taxi robô funciona melhor quando todo mundo está usando: mais demanda significa mais oferta, o que significa tempos de espera menores e serviços mais rápidos. Se todo mundo está usando, então não existirá a necessidade de possuir um carro próprio”.

Não preciso dizer que este cenário também se aplica ao Brasil, certo?

Agora, na sua opinião, quem vai vencer esta corrida? A GM e o Lyft, buscando um mercado de compartilhamento de transporte, ou a Tesla, com o foco mais individual?

Bonus Stage

Já mostrei pra vocês como é um carro Tesla por dentro?

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Matheus Gonçalves

Matheus Gonçalves

Ex-redator

Matheus Gonçalves é formado em Ciências da Computação pelo Centro Universitário FEI. Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e especialização em usabilidade e game development, atuou no Tecnoblog entre 2015 e 2017 abordando assuntos relacionados à sua área. Passou por empresas como Itaú, Bradesco, Amazon Web Services e Salesforce. É criador da Start Game App e podcaster do Toad Cast.

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