Você tem uma tarefa urgente para terminar. De repente, seu smartphone faz um barulhinho para te avisar de uma nova mensagem no WhatsApp. Se você é do tipo que ignora a notificação para continuar firme no trabalho, parabéns pela força de vontade. Mas saiba que nem sempre essa determinação é suficiente para manter a concentração. Na verdade, o efeito pode ser o contrário.
Pelo menos é o que conclui um estudo conduzido pela Universidade Estadual da Flórida. Um grupo de pesquisadores da instituição realizou testes com 150 voluntários para compreender os mecanismos das distrações causadas pelas notificações dos dispositivos móveis. O trabalho sugere que, dependendo das circunstâncias, é melhor (ou “menos pior”) checar logo a verificação para se ver livre dela.
A concentração é um processo bastante complexo. A mente precisa ignorar vários estímulos externos para mantê-la. Isso não é fácil, afinal, o cérebro fica “monitorando” o que acontece ao seu redor permanentemente. Acima de tudo, esse é um mecanismo de sobrevivência: o alerta constante é importante para que você possa notar um perigo a tempo de se proteger ou fugir.
Nas distrações de origem tecnológica há um agravante: sem perceber, a gente persegue estímulos que causam bem-estar. Você tem uma sensação de recompensa quando, por exemplo, alguém curte a sua foto no Instagram. É por causa da expectativa em torno desses curtos, mas deliciosos momentos de satisfação que é tão difícil ignorar as notificações.
Como se não bastasse, há ainda a questão da urgência: e se aquela mensagem no WhatsApp tratar de algo que tem que ser resolvido logo?
Mas, sabendo que um precioso período de tempo passará entre dar aquela conferida no WhatsApp e voltar ao ritmo de trabalho, você decide ignorar a notificação. Pela lógica, é melhor olhá-la depois de concluir a sua atividade.
Para saber se essa estratégia aparentemente simples funciona, os pesquisadores submeteram os 150 participantes do estudo a um teste de atenção. Cada um deles ficou diante de uma tela e recebeu a seguinte instrução: toque no visor toda vez que o número exibido mudar, exceto se aparecer o 3.
Fácil, né? Se você estiver concentrado, é. É por isso que o teste foi dividido em duas fases. Na primeira, os participantes foram interrompidos por notificações de diversos tipos de seus smartphones; na segunda também, com a diferença de que eles tiveram que responder as chamadas e mensagens de texto assim que as notificações apareceram.
Em ambas as etapas as interrupções causaram desconcentração e, consequentemente, erros. Pudera: se você tem que falar ao telefone ou digitar uma mensagem, fica mais difícil prestar atenção no que acontece na tela, obviamente. O que surpreendeu é que, na primeira fase, os erros se mantiveram acentuados depois que as notificações apareceram, mesmo com elas não tendo sido verificadas.
O tipo de notificação não fez diferença. Tanto sinais sonoros quanto notificações dadas só por vibrações fizeram os voluntários perderem a concentração. Como explica Cary Stothart, líder da pesquisa, “não importa se a pessoa ignora a mensagem ou não atende a ligação: assim que ela sabe que há uma notificação no smartphone, a sua concentração fica fragmentada e os resultados dos testes pioram”.
No estudo, os pesquisadores também explicam que as notificações dos dispositivos móveis têm tanto “poder” de interrupção que mesmo deixando o celular longe para conseguir terminar a tarefa você pode ter dificuldade para se concentrar.
“As notificações táteis e auditivas dos celulares, mesmo tendo curta duração, promovem pensamentos irrelevantes e dispersão mental, prejudicando qualquer tarefa que exija concentração ou atenção prolongada”, completa Stothart.
É claro que a ocorrência ou a intensidade desse tipo de problema varia de pessoa para pessoa. Presumo que os indivíduos mais ansiosos são os mais suscetíveis a esse tipo de interrupção. Fato é que, dada a quantidade de informações a que nos sujeitamos hoje, qualquer um está fadado a ter que fazer esforço para se concentrar.
Se você percebeu que a situação descrita aqui se encaixa no seu cotidiano, a melhor solução, provavelmente, é a mais óbvia: desative as notificações por algum tempo; se for o caso, deixe o modo avião ativado até a conclusão da tarefa. Você também pode tentar “sabotar” os seus impulsos: deixe para postar aquela foto no Instagram mais tarde, assim você não fica ansioso para conferir as curtidas.
Mas pode ser que nem essas medidas surtam efeito. Foco, concentração, e atenção são habilidades tão delicadas, digamos assim, que há cada vez mais cursos, livros e pesquisas tentando indicar o caminho para que você possa desenvolvê-las melhor.
Embora haja divergências entre as abordagens propostas, todos os estudos parecem concordar em um ponto: o fator preponderante para a concentração é o propósito. Refletindo sobre o que você espera alcançar com a sua atividade ou identificando as suas reais motivações, fica mais fácil para o seu cérebro entender aquilo como prioridade e, assim, levantar escudos contra as distrações.
Se intuitivamente — e não apenas racionalmente — a tarefa que você executa lhe parecer mais importante, a notificação no celular ou outras distrações não serão tão relevantes.
Com informações: Money.com, El País