Em números: como os carros autônomos ainda dependem de você no volante

E como anda a briga para ver quem será o primeiro a lançar um automóvel que não dependa de nenhum humano

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

Google, Tesla, Ford e outras companhias estão testando carros que dirigem sozinhos. Nos próximos anos, o objetivo é chegar ao nível máximo de autonomia, no qual nenhuma intervenção humana será necessária. Mas os automóveis ainda estão aprendendo a lidar com situações mais complicadas no trânsito — e, pela primeira vez, o Google divulgou publicamente seus números de “desengates”.

Até agora, os carros autônomos do Google percorreram mais de 4 milhões de quilômetros em vias públicas. Eles já sabem o que fazer quando uma estrada está em obras ou até reagir a situações peculiares, como cavalos cruzando a pista ou automóveis vindo na contramão.

Entre 2015 e 2016, o número de desengates, quando o carro do Google não sabe como lidar com a situação, reduziu drasticamente. Em 2015, os veículos autônomos do buscador exigiram intervenção humana 0,8 vez a cada 1.000 milhas (1.609 km) percorridas em vias públicas. Um ano depois, esse número caiu para 0,2 vez.

Considerando toda a distância percorrida no ano pelos automóveis com carinha feliz, isso significa que, em 2015, os carros andaram 682.895 km e os condutores tiveram que intervir 341 vezes; em 2016, a distância aumentou para 1.023.330 km, mas o número de interrupções diminuiu para 124 vezes.

O Departamento de Veículos a Motor (DMV) da Califórnia publica relatórios de outras empresas, incluindo Tesla, Ford, General Motors, Honda, Nissan, Mercedes-Benz, Bosch e Volkswagen. Os dados não estão padronizados e nenhuma companhia percorre tantos quilômetros quanto os carros do Google, o que dificulta a análise, mas dá para dizer que o pessoal de Mountain View está indo muito bem.

A Tesla andou apenas 885 km em testes nas estradas da Califórnia em 2016, gerando 182 desengates — mais interrupções do que o Google obteve em mais de um milhão de quilômetros percorridos. A Bosch, que modificou um Tesla Model S para desenvolver sua própria tecnologia de direção autônoma, também não impressionou: foram nada menos que 1.442 desengates em 1.582 km.

Os números das fabricantes em 2016 foram os seguintes (Honda e Volkswagen não fizeram testes em estradas públicas da Califórnia naquele ano):

  • BMW: 1 interrupção em 1.027 km;
  • Bosch: 1.442 interrupções em 1.582 km;
  • General Motors: 149 interrupções em 15.658 km;
  • Google: 124 interrupções em 1.023.330 km;
  • Delphi: 178 interrupções em 5.029 km;
  • Ford: 3 interrupções em 950 km;
  • Mercedes-Benz: 336 interrupções em 1.083 km;
  • Nissan: 28 interrupções em 6.597 km;
  • Tesla: 182 interrupções em 882 km.

Como apenas o Google está fazendo testes mais extensos na Califórnia, não dá para comparar o desempenho entre as montadoras de forma justa. Mas, se a gente montasse um ranking de quem está à frente no desenvolvimento de um veículo totalmente autônomo, só para ter uma noção, ele ficaria assim:

  1. Google: 0,12 interrupções a cada 1.000 km;
  2. BMW: 0,97 interrupções a cada 1.000 km;
  3. Ford: 3,16 interrupções a cada 1.000 km;
  4. Nissan: 4,24 interrupções a cada 1.000 km;
  5. General Motors: 9,51 interrupções a cada 1.000 km;
  6. Delphi: 35,4 interrupções a cada 1.000 km;
  7. Tesla: 206 interrupções a cada 1.000 km;
  8. Mercedes-Benz: 310 interrupções a cada 1.000 km;
  9. Bosch: 912 interrupções a cada 1.000 km.

Alguns números exigem mais atenção. Em defesa da Bosch, devo ressaltar que o relatório dos alemães aponta que todos os desengates foram classificados como “testes planejados de tecnologia”. Já a Tesla conta com uma forte ajuda de seus consumidores: enquanto os motoristas utilizam o modo semi-autônomo já existente nos carros da marca, a Tesla aprende como lidar em diversas situações. Por isso, a empresa de Elon Musk pode avançar bastante em pouquíssimo tempo.

Também vale considerar que as “interrupções” podem ser por inúmeros motivos. Algumas acontecem por erros humanos (o veículo autônomo estava mudando de faixa, mas um motorista estava vindo em alta velocidade ao lado, por exemplo) e outras por problemas no software (o sistema de condução autônoma travou ou decidiu fazer uma curva que poderia colocar em risco a vida dos passageiros).

Se tudo correr como esperado, os primeiros veículos totalmente autônomos devem chegar nos próximos um ou dois anos. A estimativa varia de acordo com a empresa: FordGeneral Motors e Toyota acreditam que terão carros que não precisam de intervenção humana em 2020; a Tesla espera algo para 2018; e a Volkswagen estima que nós, pobres humanos que fazemos besteiras no trânsito, poderemos ficar obsoletos em 2019.

É bem verdade que os carros autônomos ainda precisam de muitos testes para se tornarem realmente confiáveis em qualquer situação de trânsito — e em estradas com qualidades bem diferentes. Mas a hora de frear inesperadamente, exigir intervenção humana ou até cometer erros no trânsito, desde que não coloque em risco a vida de ninguém, é agora.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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