Google é acusado pela União Europeia de abuso de poder de mercado (e por que isso é importante)

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses
Google

Depois de mais de cinco anos de investigações, a União Europeia acusou formalmente o Google nesta quarta-feira (15) de abuso de poder de mercado. Para a comissão antitruste, o Google está se aproveitando da posição dominante no mercado de buscas para distorcer resultados e favorecer seus próprios serviços, especialmente o Google Shopping, de comparação de preços.

A comissária da competição da União Europeia, Margrethe Vestager, disse estar “preocupada com o fato da companhia ter dado vantagem injusta a seus próprios serviços de compras, em uma infração às regras antitruste da União Europeia”. Com isso, o Google poderá ter que mudar significativamente a forma como faz negócios — e pagar multas bem salgadas.

O problema se deve ao espaço diferenciado que o Google dá a seus próprios serviços nos resultados de busca. Ao pesquisar um produto no buscador, por exemplo, você provavelmente verá uma caixa em destaque com os links do Google Shopping, apontando para lojas online que vendem o item. Isso seria uma competição injusta com outros serviços do gênero e já causou atritos no passado, notavelmente com o brasileiro Buscapé.

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Embora apenas o Google Shopping tenha sido citado explicitamente, o Google destaca seus próprios serviços em várias outras buscas. Pesquisou um endereço? Um mapa apontando para o Google Maps será exibido. Procurou um voo? O Google mostrará os detalhes do voo e, em alguns países, preços de passagens aéreas. Dependendo de como a história seguir, será difícil para o Google continuar oferecendo esses recursos.

Além disso, críticos defendem que o Google está usando sua posição dominante para modificar seu algoritmo de busca e prejudicar rivais. Eles querem que a empresa abra o algoritmo para garantir a transparência do buscador. O Google, por sua vez, diz que revelar o segredo poderia permitir a manipulação das buscas e causar uma má experiência aos usuários.

A Comissão pode multar as empresas em até 10% das vendas anuais. Para o Google, isso representaria mais de US$ 6 bilhões, dinheiro longe de ser troco de pinga. No passado, a União Europeia entrou com acusações contra a Microsoft (em 2004) e Intel (em 2009). A batalha da Microsoft custou mais de 2 bilhões de euros aos cofres da empresa.

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Para quem não lembra, a Microsoft entrou uma série de processos antitruste devido à posição dominante do Windows no mercado de sistemas operacionais. Na Europa, a Microsoft foi obrigada a lançar versões específicas sem Windows Media Player (as famosas versões “N”), uma vez que a competição era injusta com concorrentes como QuickTime e RealPlayer (lembra?); e colocar uma tela oferecendo ao usuário outras opções de navegadores.

O Re/code teve acesso ao memorando que o Google distribuiu aos funcionários na tarde de terça-feira (14), quando surgiram os rumores da decisão da União Europeia. O Google disse que se trata de “uma notícia muito desapontadora“ e mostrou gráficos para afirmar que, na França, Alemanha e Reino Unido, serviços de compras concorrentes, como Amazon e eBay, são muito mais populares que o Google Shopping.

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O Android também será investigado pela União Europeia, como medida para garantir a competição no mercado de smartphones e tablets. Também no memorando, o Google disse que os consumidores são quem decidem quais apps instalam no Android; que o sistema operacional é livre para ser usado gratuitamente por todo mundo; e que concorrentes diretos de apps do Google (como Microsoft Office e Facebook) estão facilmente disponíveis no Android.

O Google terá dez semanas para responder às acusações da União Europeia. O resultado final? Se tudo correr como manda o script, provavelmente só descobriremos o fim dessa história nos próximos anos.

Com informações: Reuters, Financial Times, Bloomberg.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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