Feche o Gerenciador de Tarefas e pare de se preocupar com o consumo de RAM

Por que você não deveria desperdiçar seu tempo monitorando o uso de memória do computador

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses

Uma das ferramentas mais úteis (e incompreendidas) dos sistemas operacionais é o Gerenciador de Tarefas — ou Monitor de Atividade, se você usa OS X. Ele mostra o consumo de recursos da máquina e permite que você descubra rapidamente onde está o gargalo que deixou o computador lento. Mas sério: pare de ficar neurótico com o consumo de RAM.

Em grupos de discussão de tecnologia, é comum encontrarmos screenshots de usuários comparando o uso de RAM entre aplicativos ou reclamando de algum navegador guloso. Acompanhei essas publicações durante um tempo e achei curioso como, na maioria delas, o consumo total de RAM da máquina mal chegava a 50%. Então qual o sentido de ficar preocupado com isso?

Vamos com calma

É claro que o consumo de memória tem relação com o desempenho da máquina. Se o Gerenciador de Tarefas apontar que 90% da RAM do computador está sendo usada e você precisar abrir um software pesado, é provável que a operação demore mais que o esperado. Isso porque o sistema operacional precisará liberar espaço na memória imediatamente — ou seja, os dados da RAM serão movidos para a swap, no HD ou SSD da máquina.

Como o disco rígido e até mesmo o armazenamento em flash são muito mais lentos que qualquer módulo de RAM, esse processo de liberação de memória demora um tempo, o que faz a máquina ficar lenta. Se isso estiver acontecendo com frequência, então o alto consumo realmente é ruim. A única forma de resolver definitivamente o problema é fazendo um upgrade.

Em condições normais, quando não há RAM em escassez, o sistema operacional se encarrega de mover periodicamente os dados menos usados da RAM para a swap, liberando espaço na memória com antecedência, sem que o usuário perceba nenhuma queda de desempenho. Alguns possuem tecnologias adicionais: o OS X, desde o 10.9 Mavericks, consegue comprimir os dados na própria RAM.

Seu sistema é mais inteligente do que você pensa

ram-uso

Ficar monitorando quanta RAM está sendo usada no momento é uma perda de tempo, porque seu sistema operacional já faz isso — e, sem querer ser grosso, bem melhor do que você ou qualquer outro ser humano.

Desde o Vista, o Windows tem uma tecnologia chamada SuperFetch. Trocando em miúdos, essa função analisa seus hábitos de uso e pré-carrega dados de aplicativos na memória, para que eles sejam executados de forma mais rápida posteriormente. Devido a isso, depois de algumas horas de uso, o Windows consome bastante RAM mesmo com uso leve.

Os sistemas operacionais baseados em Unix, como OS X e Linux, operam de forma semelhante — em alguns casos, são até mais agressivos que o Windows. Por exemplo, o comando free -m pode retornar a seguinte informação no terminal de um servidor Linux:

linux-memoria

Repare como, dos quase 8 GB de RAM, apenas 254 MB estão livres. Pela lógica, a máquina deveria estar muito lenta, mas não é o que acontece: na verdade, o sistema operacional está usando a RAM livre, que seria desperdiçada, para fazer cache de dados e consequentemente melhorar o desempenho do computador.

Alto consumo de RAM nem sempre é ruim.

Mas o alto consumo de RAM não é ruim? Não. Os sistemas operacionais consideram esses dados como sendo de baixa prioridade. Assim que um aplicativo pedir mais RAM, a memória será imediatamente liberada, sem prejuízo ao desempenho. Em outras palavras, é bom que o consumo esteja alto: significa que a memória que você comprou com seu dinheirinho suado está sendo bem aproveitada.

Seu smartphone também é mais smart do que você pensa

Nas plataformas móveis, há outro fenômeno: como os aplicativos rodando em plano de fundo continuam gastando RAM, o consumo costuma ser alto. Seria um absurdo exigir que um usuário comum fechasse os aplicativos em background para continuar usando o smartphone ou tablet, por isso, os sistemas operacionais fazem isso automaticamente, de forma transparente e inteligente.

Funciona assim: para liberar memória, o Android, iOS ou Windows Phone suspendem um aplicativo, pegando o estado salvo na RAM e guardando-o na memória flash do dispositivo. Se você precisar alternar para um aplicativo que já foi “encerrado”, o sistema coloca os dados de volta na RAM — e claro, isso é mais rápido e eficiente do que abrir um aplicativo do zero, sem nenhum estado salvo.

Transferir informações entre RAM e memória flash gasta processamento. Por isso, a melhor opção é deixar que o sistema operacional gerencie os recursos de hardware automaticamente, em vez de ficar neurótico fechando aplicativos ou usando programinhas que prometem melhorar o desempenho por meio da liberação de RAM (que, no fim das contas, podem acabar diminuindo a duração da bateria).

moto-maxx-ram-2

Por que memória livre é memória desperdiçada

Memória livre não serve para nada. O conceito é difícil de aceitar, mas fácil de entender. Para isso, vou repetir um dos primeiros parágrafos do texto: “Como o disco rígido e até mesmo o armazenamento em flash são muito mais lentos que qualquer módulo de RAM, esse processo de liberação de memória demora um tempo, o que faz a máquina ficar lenta.”

Colocando em números, as médias de velocidade de transferência e latência (tempo para acessar um arquivo aleatório) são assim:

  • Uma memória DDR3 de 1.600 MHz: 25.000 MB/s, 0,00006 milisegundo
  • Um SSD SATA III: 580 MB/s, 0,1 milissegundo
  • Um HD SATA III: 140 MB/s, 15 milisegundos
  • Um disquete: menos de 1 MB/s, 80 milissegundos

A RAM, portanto, é absurdamente mais rápida que qualquer dispositivo de armazenamento em massa. (Um SSD normalmente possui tempos de acesso mais de 100 vezes menores que um HD, e é por isso que ele faz milagres no desempenho de qualquer máquina.)

Quanto mais RAM se tem, mais RAM se gasta.

O que tudo isso significa? Basicamente que, quando um software precisar manipular dados, como uma imagem no Photoshop, um documento no Word ou uma página da web no Chrome, o ideal para se obter o melhor desempenho é que essas informações sejam carregadas pelo aplicativo na RAM, não no SSD ou no disco rígido, que são mais lentos. Eles já fazem isso: quanto mais RAM você tem, mais eles gastam.

E, como você percebeu, seu sistema operacional é suficientemente inteligente para liberar espaço na RAM quando necessário. Dessa forma, caso sua máquina não esteja lenta, você não precisa desperdiçar seu precioso tempo monitorando quanta memória um software qualquer está consumindo. Em vez disso, use o tempo para ler um livro, colocar as séries em dia ou dormir até mais tarde. Para um adulto, o ideal é ter de 7 a 9 horas diárias de sono, como aponta o infográfico:

horas-sono

Para concluir

Feche o Gerenciador de Tarefas porque eu sei que ele está aberto aí.

Receba mais sobre Memória RAM na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

Canal Exclusivo

Relacionados