5 fatos que marcaram a Samsung em 2018: celular dobrável, muito silício, microLED e mais

Gigante coreana trouxe muita novidade para o mercado de tecnologia e enfim se livrou de um longo processo da Apple

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

Fechando o ciclo das retrospectivas das empresas de tecnologia em 2018, temos a Samsung. A única das cinco que não é americana tem forte presença no Brasil: ela é líder no mercado de smartphones, vende mais TVs que qualquer outra fabricante e produz tantos componentes que é praticamente impossível você não ter nada projetado na Coreia do Sul na sua casa.

Em 2018, os coreanos finalmente se livraram de um antigo processo da Apple, aquele envolvendo a cópia do iPhone, pagando uma multa milionária, mas que poderia ser bem pior. Nos smartphones da Samsung, o brilho não ficou com os produtos mais caros, mas com a linha intermediária Galaxy A, que trouxe novidades antes mesmo dos topos de linha.

As TVs premium da marca ficaram menos caras, e ainda tivemos um gostinho da próxima grande tecnologia de telas, o microLED. E o negócio de semicondutores da Samsung se fortaleceu, produzindo novas tecnologias, batendo recordes de vendas e ultrapassando um nome bem tradicional na área.

Relembre os principais momentos da Samsung em mais uma retrospectiva de 2018.

Um ano incremental nos smartphones caros, mas de muitos “primeiros” na linha intermediária

Samsung Galaxy S9

A Samsung costuma lançar seus smartphones mais caros no esquema tick-tock: um ano com grandes novidades, outro ano com pequenos refinamentos. 2018 foi a vez das atualizações incrementais nas linhas Galaxy S e Galaxy Note, com aparelhos que trouxeram quase o mesmo design da geração anterior, mas aparando as arestas nas câmeras, no software e no hardware.

O Galaxy S9 chegou em fevereiro, pela primeira vez diferenciando significativamente as variantes normal e Plus. Além da tela e bateria maiores, o modelo mais caro trouxe mais RAM e uma câmera dupla na traseira. E que câmera: o novo mecanismo de abertura dupla da lente principal (f/1,5-2,4) garantiu imagens excelentes com muita ou pouca luz, consolidando a Samsung como uma das melhores em fotografia.

Samsung Galaxy note 9

No Galaxy Note 9, houve mais novidades que na linha S. Sim, ainda temos um celular com tela grande, a famosa caneta S Pen e um hardware poderoso, agora com direito a uma versão com 512 GB de espaço. Mas a Samsung conseguiu melhorar ainda mais a câmera; deixou a S Pen mais inteligente, com Bluetooth e um engenhoso sistema de recarga; e enfiou uma bateria de 4.000 mAh sem medo de explosões.

Enquanto isso, a linha intermediária claramente ganhou mais atenção, sendo recheada de “primeiros”. Destaque para o Galaxy A7 (2018), o primeiro da Samsung com câmera tripla. Ainda teve o Galaxy A9 (2018), o primeiro com câmera quádrupla. Já o Galaxy A6s é o primeiro smartphone da Samsung… que não é fabricado pela Samsung. E, antes de fechar o ano, soubemos que os coreanos se renderam ao notch: o Galaxy A8s é o primeiro com um buraco na tela para abrigar a câmera frontal.

Samsung Galaxy A7 2018

microLED, TV modular e barateamento do QLED

TV é aquele negócio meio chato de acompanhar: o ritmo de lançamentos é bem mais lento que o dos smartphones, e as tecnologias costumam demorar para, de fato, chegar aos consumidores. Mas 2018 quebrou a tradição com duas novidades: os detalhes da próxima geração de painéis, o microLED, que também possibilita o surgimento das TVs modulares; e o barateamento dos modelos sofisticados da Samsung, com telas QLED.

Há apenas dois tipos de painéis nas TVs vendidas atualmente para o usuário doméstico: o LCD e o OLED. O resto é só uma variação. Em janeiro, pudemos ver uma terceira via: o microLED. E a parte boa é que ele junta os pontos fortes dos outros dois: os milhões de LEDs microscópios podem emitir luz própria, resultando em pretos perfeitos (como no OLED); e eles não sofrem risco de burn-in ao mesmo tempo em que oferecem brilhos mais fortes (como no LCD).

The Wall - TV modular microLED

Talvez só vejamos o microLED em casa daqui a vários anos, mas já deu para sentir um pouco do que virá. Uma das primeiras demonstrações da tecnologia foi feita com a The Wall, uma TV microLED de 146 polegadas, o que seria um belo chamariz por si só — novas tecnologias de telas quase sempre começam com tamanhos pequenos e baixa definição. Mas o detalhe é que o televisor é modular, então você poderia aumentar o tamanho a qualquer momento e cobrir toda a parede da sala de estar. Será que vinga?

Voltando para a realidade, temos o QLED, tecnologia premium da Samsung que barateou em 2018. Para ser justo, trata-se apenas do velho LCD só que melhorado — mas as melhorias da Samsung atingiram níveis impressionantes. A Q9FN, com preços absurdos, mas cores acertadas e preto para ninguém colocar defeito, é uma demonstração de que o display de cristal líquido ainda dá um bom caldo com uma certa dose de engenharia. Um pouco desse sabor foi levado para uma nova integrante, a Q6FN, que não custa um rim.

TV QLED Samsung Q8CN

Fim da briga com a Apple (e mais perrengues na justiça)

A Samsung briga com a Apple desde que eu comecei a escrever no Tecnoblog. Em 2011, a empresa de Steve Jobs acusou os coreanos de copiarem o iPhone. O Galaxy S era um clone do iPhone 3GS, segundo a Apple, tanto no design (retângulo com cantos arredondados, bordas prateadas e botão físico centralizado na parte inferior) quanto no software (interfaces organizadas da mesma forma, além de ícones com cores e pictogramas semelhantes).

O caso se desenrolou por anos e teve inúmeras reviravoltas. Quando uma das primeiras decisões judiciais saiu, colocando a Samsung como culpada, eu me lembro bem de quando fizemos um infográfico para desmentir um boato que dizia que os coreanos tinham pago a multa de US$ 1,05 bilhão à Apple só com moedas de cinco centavos de dólar (já pensou?).

Galaxy S vs. iPhone 3GS

Até corremos o risco de o caso voltar ao noticiário com força, quando a Apple pediu US$ 1 bilhão da Samsung (agora já estamos falando de 2018, não 2012), mas no final das contas as duas se entenderam. O último capítulo da novela foi exibido em maio, quando a Apple aceitou receber US$ 538,6 milhões por danos sofridos com a cópia do design do iPhone e a falta do pagamento dos royalties de serviços.

Falando em casos que demoram anos na justiça, outro que encerrou em 2018 corria aqui no Brasil. Em 2008, a Samsung confessou participar de um cartel de TVs CRT (aquelas de tubo, lembra?), mostrando provas de como isso era feito no país. Um acordo de leniência (semelhante a uma delação premiada) foi fechado com o Cade, envolvendo também a LG, Philips, Technicolor, Chunghwa e Toshiba. A Toshiba foi a única multada, enquanto as outras assinaram um termo se comprometendo a não adotar mais essas práticas.

É óbvio que os advogados da Samsung não ficaram sem trabalho. A empresa, que lidera o mercado global de chips DRAM, passou a ser investigada pelo governo chinês por um suposto cartel no setor, que viu os preços das memórias aumentarem significativamente no último ano. Na Itália, a Samsung foi multada por obsolescência programada, por disponibilizar uma atualização de software que deixou o Galaxy Note 4 com falhas e mais lento.

Muito dinheiro com silício, não só com celulares

SSD Samsung

Apesar de serem uma das grandes fontes de receita da Samsung, os dispositivos móveis não foram os únicos responsáveis pelos bons resultados financeiros da empresa em 2018. Na verdade, o Galaxy S9 até vendeu abaixo do esperado, impactando negativamente os ganhos na primeira metade do ano. Em compensação, o negócio de semicondutores parece ter encontrado seu caminho.

Isso porque, no começo de 2018, a Samsung oficializou sua posição como a maior fabricante de chips do mundo, ultrapassando a toda-poderosa Intel, que detinha a liderança desde 1992 (eu nasci em 1993). Com as fortes vendas de processadores para smartphones e memórias DRAM e NAND, os coreanos também registraram um lucro recorde no terceiro trimestre do ano.

SSD Samsung NF1

Embora uma fábrica da Samsung tenha sofrido um apagão, o que foi suficiente para afetar 3,5% da produção mundial de memórias NAND, a divisão lançou novos produtos, como o Exynos 9820, o primeiro chip da empresa com hardware para inteligência artificial; e começou a produzir novas tecnologias, como as memórias RAM LPDDR4X e as GDDR6 para placas de vídeo.

O negócio de semicondutores da Samsung bateu recordes, com o maior SSD do mundo, que tem 30 TB de capacidade. Mas, como a vida não é feita só de produtos absurdamente caros, felizmente vimos o lançamento de uma linha de SSDs mais acessível, a 860 QVO, com uma versão de 1 TB por US$ 149. Aos poucos, a diferença de preço entre as memórias flash e os discos rígidos está ficando bem menor.

Celulares dobráveis e notch circular estão aí

Celular dobrável da Samsung

A Samsung correu para fazer um não lançamento de um não produto em 2018: o tal do celular dobrável existe mesmo e pode desembarcar nas prateleiras das lojas no ano que vem. Depois de muita especulação, a Samsung mostrou, sob a sombra, um celular com duas telas: uma externa, do tamanho de um smartphone comum; e uma interna, que é dobrável e pode ser aberta para se transformar em um tablet de 7,3 polegadas.

O smartphone, que pode se chamar Galaxy Flex ou Galaxy F quando for lançado oficialmente, tem um recurso de continuidade: se você estiver usando um aplicativo na tela menor e abrir o dispositivo, ele será aberto automaticamente na tela maior. Será possível exibir três aplicativos ao mesmo tempo, e o Google já anunciou que o Android terá suporte nativo para as telas dobráveis.

Samsung Galaxy A8s

Junto com o celular dobrável, a divisão de displays da Samsung revelou novos formatos de… notches. A tela com formato irregular, que a empresa parecia estar evitando até agora, deve aparecer com mais frequência nos aparelhos coreanos em 2019, em diversos formatos: triângulo (Infinity-V), semicírculo (Infinity-U) ou um buraco ali no meio do painel (Infinity-O). O Galaxy A8s já estreou o Infinity-O, e tudo indica que o Galaxy S10 deve seguir o mesmo caminho.

O que você espera dos smartphones em 2019?

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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