Scanners de aeroportos serão menos constrangedores graças à inteligência artificial
Uma startup promete uma tecnologia que fará a inspeção ser mais rápida e precisa
Uma startup promete uma tecnologia que fará a inspeção ser mais rápida e precisa
Até o Papa deve sentir uma pontada de nervosismo ao passar pelos scanners dos aeroportos. Pudera: na maioria das vezes, o alarme soa por causa de algo irrelevante, como moedas esquecidas no bolso. Mesmo que você encontre rapidamente o objeto problemático, o alívio de passar pela máquina não substitui o constrangimento. A boa notícia é que uma tecnologia baseada em inteligência artificial está prestes a pôr fim nesse problema.
Na minha última viagem ao Rio de Janeiro, a atendente de uma lojinha no Aeroporto Santos Dumont direcionou a mim um olhar cheio de brilho e um sorriso doce. Me senti o George Clooney, mas apenas por um segundo. Ela só estava feliz com as moedas que eu usei para pagar uma garrafa d’água. Acho que ela andava tendo problemas com o troco.
As mesmas moedas que, duas horas antes, me fizeram ser barrado na entrada da sala de embarque do Aeroporto de Congonhas. “Abre os braços”, “vira”, “volta”, “afasta as pernas”, me dizia um guarda que mais parecia estar preocupado com a minha coordenação motora do que com a segurança do aeroporto.
Quem viaja de avião com alguma regularidade normalmente sabe o que fazer para evitar problemas com a segurança. Eu, por exemplo, uso um cinto que não tem fivela de metal e coloco relógio e smartphone junto à minha mochila ao passar pela inspeção. Naquele dia, porém, eu cometi o pecado de esquecer as moedas no bolso da jaqueta.
Mas não são só metais que causam problemas com a segurança. Por isso, há um elemento que está ganhando cada vez mais importância nos aeroportos de todo o mundo: o scanner corporal (body scanner), máquina que usa ondas de radiofrequência para montar uma espécie de “radiografia” de corpo inteiro da pessoa.
Essas máquinas causam polêmica porque a imagem da pessoa criada na tela é capaz de revelar até detalhes sutis do corpo, como aquele pneuzinho habilmente disfarçado com a roupa ou o formato “daquela parte”, embora muitos sistemas limitem a formação da imagem para evitar constrangimentos. Para alguns, é como se a máquina tivesse o poder de deixar o indivíduo pelado. Há ainda o temor de que a radiação do aparelho cause problemas de saúde, a despeito de os fabricantes afirmarem que não há perigo.
Apesar das polêmicas, o scanner corporal permite que a segurança descubra, com relativa facilidade, se a pessoa está transportando drogas, explosivos, montantes de dinheiro não declarado e outros itens ilegais que não são percebidos com detectores de metais.
Por essa razão, dificilmente as autoridades abrirão mão dessa ideia. Se é assim, a saída é encontrar um equilíbrio entre os procedimentos de segurança e o bem-estar de quem frequenta os aeroportos seguindo todas as normas.
Quando os funcionários da segurança identificam algo suspeito, geralmente a pessoa deve passar por uma inspeção mais rigorosa, que pode ser feita ali mesmo ou, dependendo das circunstâncias, em um recinto específico para esse fim. Mas, mesmo quando a pessoa é retirada da fila, o processo pode atrasar todo mundo que vem atrás, para desespero de quem está atrasado.
E se fosse possível fazer uma checagem mais rápida e, ao mesmo tempo, diminuir os casos de alarme falso? Algumas empresas estão trabalhando nisso. Uma delas — e a que mais tem se destacado — é a startup Evolv Technology.
A tecnologia da empresa não dispensa o usuário de passar pelo scanner corporal, mas acelera o processo. A máquina usada nos aeroportos normalmente exige que a pessoa fique alguns instantes parada com os braços erguidos dentro de uma cabine. Já o scanner da Evolv pode fazer a checagem com o indivíduo andando. Assim, é necessário apenas passar pela área de inspeção. Nada de parar ou levantar os braços.
Não há nenhuma tecnologia física altamente sofisticada no scanner da Evolv. O equipamento usa o mesmo mecanismo de ondas milimétricas existente nos scanners corporais convencionais. Porém, a verificação é feita a partir de uma espécie de radar que lança feixes sobre a pessoa enquanto ela caminha e mede como as ondas se espalham em resposta.
Em vez de construir uma “radiografia” de corpo inteiro do indivíduo, o sistema da Evolv analisa os dados obtidos com o radar. Um algoritmo de aprendizagem de máquina foi treinado para identificar padrões nas análises que correspondem a explosivos, armas, drogas e outros itens que merecem atenção.
Como não é preciso montar uma imagem e as pessoas não precisam ficar paradas, a tecnologia consegue fazer análises rápidas. A Evolv estima que um único scanner pode analisar 800 pessoas por hora.
Além de diminuir as filas e não constranger as pessoas que se sentem despidas diante de um scanner tradicional, a tecnologia pode ser treinada para diferenciar o que é suspeito daquilo que não é. Assim, você não precisará tirar as moedas do bolso ou segurar as calças com as mãos enquanto o seu cinto é analisado junto com a bagagem de mão.
Segurança em aeroportos é um assunto sério, portanto, não dá para esperar que uma tecnologia como essa seja adotada prontamente. Isso só vai acontecer depois de testes realizados à exaustão.
Em condições laboratoriais, a tecnologia da Evolv funciona bem, mas é na “vida real” que o scanner mostrará se pode mesmo cumprir tudo o que promete. A empresa já está cuidando disso: neste mês, testes começarão a ser feitos em lugares como o Aeroporto Internacional de Denver e o metrô de Los Angeles.
Os testes permitirão não só que a Evolv identifique aspectos que precisam ser melhorados na tecnologia como também servirão de treinamento para o algoritmo.
Não está claro quanto tempo a fase de testes durará, mas é praticamente certo que a tecnologia levará alguns anos para ser adotada massivamente. Isso se ela for aprovada: um dos desafios da Evolv e das autoridades é garantir que o sistema não seja burlado por alguém que, conhecendo a fundo a tecnologia, consegue elaborar maneiras de enganá-la — imagine uma pessoa que descobre como fazer uma barra de drogas se passar por um smartphone no scanner, por exemplo.
Mas as expectativas são grandes, tanto que ninguém menos que Bill Gates está investindo na Evolv. Há outras instituições trabalhando na área. Se levarmos isso em conta, dá mesmo para apostar que os momentos de aborrecimento ou constrangimento nas filas de inspeção dos aeroportos ficarão no passado.
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