Como o smartphone pode ajudar a manter viva uma das tribos indígenas mais antigas do Brasil
É certo que o povo Guarani ainda sofre (e muito) com o descaso das civilizações próximas às aldeias
É certo que o povo Guarani ainda sofre (e muito) com o descaso das civilizações próximas às aldeias
Alguns anos atrás, surgiu no Facebook e em outras redes sociais uma grande onda de familiares de todos os estados do Brasil: a grande família Guarani-Kaiowá, composta, principalmente, por quem acreditava piamente que a masturbação social de mudar seu sobrenome no site ajudaria tribos indígenas do Brasil, sem maiores esforços.
Se a campanha ajudou a mudar a história dos reais membros dessa família, não há como mensurar. Mas é certo que o povo Guarani ainda sofre (e muito) com o descaso das civilizações próximas às aldeias.
Os índios da tribo Guarani agora poderão fazer streamings e postar vídeos em que mostram a natureza de seu cotidiano — que não é nem um pouco bonito.
Mas por que isso interessaria a um leitor de tecnologia? Caso você não seja muito voltado à filantropia, vamos ao que interessa: teve início em 9 de agosto um novo projeto da rede Tribal Voice, que desde 1969 representa os direitos do povo indígena. A ideia tem uma proposta inovadora, clara e aparentemente com grande potencial para servir ao seu propósito: munidos pela Survival International com celulares à prova d’água e cujas baterias são recarregáveis pela luz solar, os índios da tribo Guarani agora poderão fazer streamings e postar vídeos em que mostram a natureza de seu cotidiano — que não é nem um pouco bonito.
Se o governo não demarcar nosso território, nós vamos morrer. Eles querem matar a nós todos?
Damiana Cavanha, uma das índias da tribo, descreve um pouquinho da realidade que passa bem longe dos nossos olhos: “Nós, Guarani Kaiowá, estamos sendo massacrados por criadores de gados que querem nossas terras. Se o governo não demarcar nosso território, nós vamos morrer. Eles querem matar a nós todos?”, enquanto outro morador da aldeia enviou uma mensagem de vídeo mostrando sua casa em ruínas e diz ter perdido até a identidade.
Residentes de aldeias no Mato Grosso do Sul, o povo Guarani vem há mais de meio século resistindo contra criadores de gado e mineradores de ouro que lutam por se apossar do território pertencente aos indígenas. Além de dezenas de vidas perdidas pelos contínuos massacres aos nativos, a tribo vem diminuindo constantemente devido ao alto número de suicídios e problemas com violência e álcool que acometem o povo.
Juntando todos os pontos à negligente atitude do governo e da Funai (Fundação Nacional do Indio), é possível que em pouco tempo uma das maiores tribos, portadora de grande parte da cultura nativa do país, já que resiste desde antes da colonização do Brasil pelos portugueses, esteja extinta. Outras tribos brasileiras, como os Yanomami, também já estão fazendo uploads de vídeos para o canal da Survival International:
A ideia do Tribal Voice pode vir a funcionar muito bem, especialmente se considerarmos que um dos problemas mais pertinentes e impeditivos para a proteção das aldeias é o fato de pouco se noticiar sobre elas. Pense bem: quantas manchetes de grandes jornais e quantos posts no Facebook visualizamos, em um mês, sobre a situação indígena do país? Com uma ferramenta passível de “liveblogagem”, em que os próprios indígenas serão os repórteres investigativos, o contato próximo da sociedade metropolitana à sua realidade seria muito mais viável.
Sarah Shenker, a líder do projeto, explica melhor a intenção: “O vídeo é uma arma importante nas lutas por terras. Sempre há um atraso entre ouvir sobre uma atrocidade, então mandar alguém para pesquisar, então pensamos: nós não deveríamos deixar esse povo falar por si próprio?”. Diante do governo brasileiro e de multinacionais tentando silenciar as pessoas de uma tribo, que estão sendo assassinadas e sendo chamadas de primitivas, existe uma possibilidade de mostrar que eles são seres humanos e que têm um estilo de vida diferente.
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