Não é uma boa ideia colocar seu smartphone Xperia à prova d’água… na água
A certificação IP68 garante proteção contra submersão na água, mas não é bom contar com a sorte
Na busca por um smartphone à prova d’água, muitos devem preferir a linha Xperia da Sony. É uma marca conhecida e muitas vezes o pacote que é entregue junto com o aparelho é bom. O problema é que, segundo uma página de suporte da própria Sony Mobile, os smartphones da empresa não são feitos para serem usados embaixo d’água. Como assim?
Antes de explicar essa confusão, é importante diferenciar um smartphone à prova de respingos e outro com proteção contra imersão. O padrão Ingress Protection (IP) publicado pela Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC, em inglês) estabelece os níveis de resistência de um dispositivo móvel, seja ele smartphone, tablet, smartwatch ou qualquer outra coisa.
No código, o primeiro número se refere à proteção contra objetos sólidos e poeira, enquanto o segundo indica a resistência à água. Uma tabela com essas informações pode ser encontrada no próprio site da Sony Mobile. Abaixo, é possível ver os diferentes níveis de combinação de resistências que podem ser atribuídas a um dispositivo.
Pegue como exemplo o Xperia Z3. Ou Z3+, Z5 ou Z5 Premium, que seja — todos têm o mesmo certificado de proteção. Há dois padrões de resistência no aparelho: IP65, garantindo que o dispositivo não pare de funcionar ao entrar em contato com poeira ou jatos d’água de baixa pressão durante três minutos; e IP68, assegurando que o smartphone pode ficar embaixo d’água por 30 minutos em água fresca (sem sal) a uma profundidade de até 1,5 metro.
A página brasileira da Sony Mobile até mostra uma foto de um smartphone tirando uma foto embaixo d’água seguida de um encorajamento: “então você quer tirar fotos impressionantes de seus amigos mergulhando na piscina?”.
A imagem acima, que foi retirada da seção Xperia Care, nem sequer é exibida na versão internacional do site de suporte (e parece ser do Xperia Z1). No entanto, na mesma seção do site em inglês da Sony Mobile, a empresa adverte os consumidores a não fazerem isso de forma alguma. Segundo o texto, os testes do padrão IPX8 são feitos com o aparelho em standby e não valem quando o dispositivo está em uso. Na íntegra (grifo nosso):
A certificação IP do seu dispositivo foi alcançada em condições de laboratório no modo standby, então você não deve usar o dispositivo embaixo d’água para tirar fotos, por exemplo. Não use o dispositivo para tirar fotos durante qualquer tipo de atividade embaixo d’água, incluindo mergulho ou snorkel.
Na página brasileira, entretanto, os consumidores são encorajados com frases como “leve seu dispositivo para nadar”. Não obstante, a empresa muda de posição nos novos lançamentos, como a do Xperia Z3+, mas com uma simples nota de rodapé. Segundo a Sony, a imersão completa do dispositivo na água não é recomendada. O mesmo acontece para o Z5 ou o Z5 Premium; ambos contém a informação no rodapé.
O Xperia Z3+ é à prova d’água e protegido contra poeira. Então fique tranquilo se começar a chover e lave-o na torneira sem preocupações, mas lembre-se: todas as portas e tampas devem estar firmemente fechadas. Você não deve: colocar o dispositivo completamente embaixo d’água ou expô-lo à água do mar, água salgada, água com cloro ou líquidos como bebidas. Abusos e uso indevido do dispositivo invalidarão a garantia.
Essa informação está em contradição com as explicações de “tudo o que você precisa saber” sobre resistência à água na página brasileira. Pior: o irmão menos poderoso do Z3+, o Z3, não é rotulado com as limitações de submersão do seu predecessor. Diz a declaração, em que a Sony afirma ter alcançado a “mais alta classificação de resistência à água” na terceira geração do smartphone da linha Z:
De acordo com a IP65 e a IP68, o Xperia Z3/Xperia Z3 Dual é protegido contra a entrada de poeira e é à prova d’água. Desde que todas as portas e tampas estejam bem fechadas, o celular (i) é à prova de poeira e (ii) está protegido contra jatos d’água de baixa pressão de todas as direções, atendendo à classificação IP65 e/ou (iii) pode ser submerso a 1,5 metro de profundidade na água doce por até 30 minutos, atendendo à classificação IP68.
No lançamento do Xperia Z2, a Sony ainda enfatizou que o aparelho pode ser usado na água. Segundo o trecho retirado do comunicado enviado à imprensa:
O esperado smartphone da Sony traz uma série de recursos e pode ser usado debaixo d’água por 30 minutos, sob 1,5m de profundidade, já que além de resistente à poeira, ele é à prova d’água, de acordo com o IP55 e IP58.
A posição da empresa parece ter mudado a partir do Xperia Z3+, uma vez que este não é listado na página que mostra os smartphones e tablets à prova d’água.
Também é curioso observar as imagens e vídeos de divulgação de todos os aparelhos a partir do Z3+, como aponta o Xperia Blog (apesar do nome, não tem nenhuma relação com o Blog Sony Xperia Brasil e, portanto, não é uma página oficial da empresa). O site levantou que as fotos publicadas pela Sony do Xperia Z3, Xperia Z3 Tablet Compact, Xperia M2 Aqua, Xperia Z2 e Xperia Z1 mostram a beleza dos aparelhos submersos, mas não há imagens semelhantes para os novos modelos.
É estranha a mudança de postura da empresa em relação à proteção contra água, que sempre foi um dos maiores pontos de venda da linha Xperia. Muitos consumidores que conhecem os modelos antigos e se interessarem pelos novos podem achar que a submersão ainda é encorajada pela empresa ― embora não seja mais. Perguntei então para a assessoria da Sony no Brasil por que a recomendação mudou. Ao Tecnoblog, a empresa respondeu:
A Sony Mobile informa que os modelos Xperia são à prova d´agua e poeira e tem certificação IP65/68, conforme os padrões internacionais da indústria. A marca reforça que seus produtos atendem aos requisitos técnicos dessa certificação e, por meio de sua comunicação, informa o consumidor sobre os cuidados necessários no seu dia a dia, para a melhor experiência e usabilidade do seu smartphone.
Ou seja, o consumidor se vê em um dilema: acreditar na certificação IP68, que garante o mergulho do aparelho a 1,5 metro de profundidade, ou seguir a posição (global) da empresa, que não recomenda que seus dispositivos sejam submersos na água? A segunda opção parece ser a mais segura, uma vez que a garantia pode ser quebrada caso a recomendação da Sony não seja estritamente seguida.
Uma hipótese que explica a mudança de posição sobre a resistência à água é que usuários podem ter passado por problemas enquanto mergulharam com seus Xperias. No review do Xperia Z3+ publicado aqui no Tecnoblog, por exemplo, o smartphone foi colocado debaixo da torneira com água corrente; depois de alguns segundos, a tela escureceu e não ligou mais, ainda que a recomendação da Sony tenha sido seguida à risca.
De qualquer forma, a empresa precisa ter uma postura mais transparente em relação aos defeitos de seus aparelhos, em vez de surpreender seus consumidores com simples avisos em notas de rodapé. Ainda que o problema com a submersão possa ter sido algo isolado, é preocupante ver que os smartphones da Sony à prova d’água não podem, na verdade, ser submersos ― mesmo que a certificação diga o contrário.
