O que esperar do mercado de celulares e PCs após o coronavírus

Segundo analista, o segundo trimestre será essencial para empresas evitarem quedas muito expressivas nas receitas

Victor Hugo Silva
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• Atualizado há 8 meses
Motorola One Action

Como temos publicado nas últimas semanas, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) afetou as atividades em diversas empresas, incluindo Samsung, LG e Motorola. A produção de produtos como celulares e PCs foi suspensa por conta da falta de componentes e das preocupações com a saúde de funcionários. Nessa situação, o mercado já se prepara para a queda no faturamento.

Ela acontecerá não só pela paralisação das fábricas, mas também devido à baixa demanda dos clientes, que evitam sair de casa para evitar a propagação da COVID-19. Agora, resta saber qual será o tamanho da queda. As projeções mais novas apontam para uma retração anual de 5% a 9% no mercado de celulares e PCs em relação a 2019.

É o que aponta o gerente de Pesquisa e Consultoria de Consumer Devices da IDC Brasil, Reinaldo Sakis, em entrevista ao Tecnoblog. Segundo ele, o segundo trimestre de 2020 será um período crítico para as fabricantes de celulares e PCs. “Em abril, vai ser bastante difícil porque deve seguir ou ampliar os problemas que a gente viu em março”, avalia.

Para se ter uma ideia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estima que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2020 tenha queda de 1,5% caso boa parte da economia seja retomada em três meses. Caso a situação se estenda para depois de julho, ele afirma que a queda poderá chegar a 4%.

O analista da IDC Brasil também trabalha com a possibilidade de um cenário pessimista, em que a pandemia não seja controlada e o comércio fique fechado por mais tempo. Nessas condições, a queda nas vendas de smartphones e computadores poderá ficar na casa dos dois dígitos. Ainda assim, ele afirma que “ninguém está falando no cenário de [queda de] 20%, como a gente já falou no passado”.

Vendas pela internet viram principal fonte de faturamento

O CEO da Multilaser, Alexandre Ostrowiecki, admite que o cenário é incerto, mas também se prepara para uma queda mais acentuada, de até 20% na receita anual. “A gente está prevendo uma retracão do consumo esse ano, uma recessão que certamente virá e um grande aumento na inadimplência tanto de consumidores, quanto de varejistas”.

Multilaser reduziu produção de celulares e PCs (Foto: Reprodução/YouTube)
Fábrica da Multilaser em Extrema (MG) (Foto: Reprodução/YouTube)

Com cerca de 3 mil funcionários nas fábricas de Manaus e Extrema (MG), a Multilaser deu férias coletivas para dois terços de seu quadro. A situação é parecida em várias fábricas, de acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

Ele indica que 97% das empresas estão afetadas negativamente pela pandemia do novo coronavírus. Das companhias consultadas, 47% estão parcial ou totalmente paralisadas. Em março, o índice era de 24% e, para piorar, mais 5% das empresas pretendem reduzir a produção em breve.

De acordo com Ostrowiecki, há duas justificativas para a redução de atividades na fábrica da Multilaser. “Em primeiro lugar, queda na demanda, não necessitando de produção total. E em segundo lugar, podemos dar mais espaço entre as pessoas e implantar as medidas de segurança, como medição de temperatura e máscaras para todos”.

O executivo afirma que a empresa está sendo muito afetada pelo fechamento de lojas físicas. Hoje, as vendas pela internet estão representando quase a totalidade de sua receita, com queda na demanda de diversos produtos. A categoria de desktops e notebooks, porém, tem se mantido em um nível razoável.

ambiente para videochamada em home office

Isso porque muitas pessoas estão usando as últimas semanas para montar seus escritórios em casa. Seja para trabalhar ou para estudar, o interesse por novos equipamentos cresce quando todos são obrigadas a permanecerem em casa. A tendência é que o segmento tenha bons resultados nas próximas semanas, o que não deve durar por muito tempo.

Mesmo que isso aconteça, a alta na venda de PCs por conta do home office não deverá ser suficiente para conter a diminuição do setor. “A gente não consegue ter o mercado positivo em termos de vendas, mas ele cai menos do que a gente esperava”, explica Sakis.

Celulares e notebooks mais caros?

O analista da IDC espera que mesmo com a reabertura de lojas, o mercado de celulares e notebooks terá dificuldades. Ele lembra que o dólar mais alto, hoje acima de R$ 5,20, levará a componentes mais caros, o que reflete diretamente nos preços dos dispositivos.

“A gente está sentindo essa pressão de que os custos devem aumentar. Isso pode ser um inibidor ainda maior pra um mercado que já não está fácil esse ano”. A tendência, segundo ele, é que as fabricantes adotem especificações um pouco mais modestas em alguns de seus aparelhos para evitar um aumento considerável nos preços.

Samsung Galaxy A50

Como ficam as datas importantes do varejo?

A expectativa de ambos é de uma melhora no último trimestre. Caso os preços mais altos se concretizem, as datas de vendas altas no varejo serão bem menores que as de 2019, já que as lojas terão menos margem para oferecer descontos.

“Isso diminui um pouco da euforia de Black Friday e Natal, mas a gente espera uma demanda reprimida de um monte de gente que não compra hoje porque não sabe se vai ter redução no salário, algum tipo de ganho nos próximos meses”, indica Sakis. “Uma parte disso vai se efetivar no final do ano quando esse cenário estiver um pouco mais favorável”.

Ostrowiecki também espera uma retomada modesta no consumo durante o segundo semestre. “Não vai ser um Natal, nem uma Black Friday forte“, adianta. “Mas vai haver uma certa demanda retraída, especialmente de eletroeletrônicos, que vão ficando obsoletos, vão quebrando e o pessoal vai querer repor”.

Fazer uma projeção precisa para os últimos meses de 2020 em meio a tantas incertezas nesse momento é uma tarefa praticamente impossível. Agora, o principal objetivo das empresas parece ser superar os próximos três meses sem uma turbulência muito grande.

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Victor Hugo Silva

Victor Hugo Silva

Ex-autor

Victor Hugo Silva é formado em jornalismo, mas começou sua carreira em tecnologia como desenvolvedor front-end, fazendo programação de sites institucionais. Neste escopo, adquiriu conhecimento em HTML, CSS, PHP e MySQL. Como repórter, tem passagem pelo iG e pelo G1, o portal de notícias da Globo. No Tecnoblog, foi autor, escrevendo sobre eletrônicos, redes sociais e negócios, entre 2018 e 2021.

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