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Resenha: Busque e Destrua–Por que você não pode confiar no Google Inc.

12 anos atrás

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Em 1973, quando o Oriente Médio estava pegando fogo (ok, quando não esteve?) Henry Kissinger, então Secretário de Estado dos EUA tentava negociar um acordo para encerrar os conflitos. Ele reclamou que Golda Meir, Primeira-Ministra de Israel, estava sendo paranoica ao não ceder nas questões palestinas. Ela respondeu na lata:

“Mesmo Paranoicos têm inimigos”

Foi essa frase que guiou minha leitura de Busque e Destrua, de Scott Cleland. Uma olhada menos atenta e descartamos a pesquisa e as opiniões dele como teorias da conspiração, dignas do History Channel. Só que Scott, ao contrário de tantos outros arautos do apocalipse, documenta, embasa e defende suas teorias, com fatos, links e citações. Muitas citações.

O foco do livro é a idéia de que o Google tem poder demais, informação demais e não há quem o controle. Hoje eles sabem muito sobre todo mundo; sua capacidade de cruzar informações é quase infinita. –isso realmente impressiona- o instant search costuma acertar o que queremos nas primeiras duas ou três letras.

Um virtual monopólio na área de buscas, o Google tem por hábito adquirir ou destruir concorrentes, coisa que todo mundo faz, mas não com um discurso de “Do no evil”, sendo que quem define o que é maldade é o próprio Google. Assim até eu. Do no evil my ass.

 

Scott demonstra que o Google faz o que quer –e é verdade- sem prestar contas ou sequer definir abertamente as regras do jogo. É comum blogs receberem alertas de que terão seu AdSense cancelado caso não se adequem às normas, sendo que não informam sequer qual conteúdo está infringindo tais normas. Os critérios de rankeamento de páginas são secretos e é mais fácil conseguir um autógrafo do Obama do que falar com algum ser humano do Google pelo telefone.

Também não é nada simples remover algo do buscador sem ordem judicial. Eric Schmidt, CEO da empresa, já deu declarações estapafúrdias, defendendo que se o sujeito não gosta de ver a casa no Google Earth, que se mude, e que se a pessoa não quer ver seus podres no Google, pra começar não deveria ter feito coisa errada.

Apesar do que possa parecer, Scott Cleland está longe de ser um hippie da Free Software Foundation. Ele não é fã daquela turma, muito menos faz discurso anticapitalista. Ele é um republicano defensor do livre comércio, que acha que monopólios são prejudiciais à economia e, em última análise, ao indivíduo.

Durante a apresentação de Scott, na Livraria da VIa, em São Paulo, perguntei se não era contraproducente focar a preocupação no Google, quando outras empresas também tinham questões de privacidade, falta de ética, abuso de informações, etc.

A resposta fez bastante sentido: Ele foca no Google pois todas as outras empresas, seja Facebook, Microsoft, Apple, tem como seu cliente o usuário final. Não é que sejam boazinhas –ninguém é- mas se elas abusarem do consumidor, este vai para a concorrência.

Já o Google não tem esse problema. O cliente dele é o anunciante. Nós somos usuários dos serviços.

Essa aliás é a grande sacada: Da Apple somos cliente, do Google somos produto.

scooooootttttt

O Google não nos vende nada, apenas oferece o produto, que pagamos com nossas informações mercadológicas, que por sua vez são revendidas para anunciantes. Perder um, perder mil usuários não é nada, por isso aqueles casos onde usuários com 10 mil vídeos no YouTube são arbitrariamente deletados, e fica tudo por isso mesmo.

A situação é mais que um monopólio, é controle de todas as etapas do processo: O Google tem a plataforma de publicidade (AdSense) tem a plataforma de venda de publicidade (AdWords) e tem controle sobre o conteúdo dos sites onde a publicidade é exibida, pois todos precisam seguir as regras dele. Também detém as ferramentas de busca que levam até o site onde está a publicidade. É como se o Boninho fosse dono do seu controle remoto.

O livro não é chato, nem uma descerebrada avalanche de fatos. Também está longe de ser “imparcial”. Scott deixa bem claro que acha o Google malvado, e demonstra no texto como chegou a tal conclusão, sem fingir que está tão surpreso quanto o leitor, ao descobrir que associações de editoras ganharam centenas de milhões de dólares processando o Google por copiar e disponibilizar livros sem permissão.

É possível dar boas risadas com as citações constrangedoras de altos executivos do Google, Scott mesmo comentou que várias vezes pensou “não acredito que eles falaram isso”. Só que não é fofoca, está tudo lá, nas 700 notas no apêndice. Eles realmente falaram aquilo.

O legado da obra é, sem dúvida, um clamor pela conscientização do Usuário, devemos saber o quê colocamos na Internet, quais informações damos ao Google (e a qualquer um no lugar dele) e o que é feito dessa informação. O Gmail lê o conteúdo de suas mensagens para gerar anúncios pertinentes. Se você escrever sobre problemas com dívidas, o que impede o Google de marcar um flag e alertar um anunciante de empréstimos, indicando que você está desesperado e topa acordos menos vantajosos?

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EU não estou propondo nenhum boicote, na verdade mesmo Scott, quando perguntei se previa um desmembramento igual ao que a AT&T e a Standard Oil sofreram, não pareceu muito entusiasmado. O próprio negócio do Google talvez seja grande demais para ser desmembrado. Regulamentação, vigilância e concorrência são a melhor saída.

O Autor

Scott Cleland é consultor, especialista em risco, Presidente da Precursor Consultoria e investigador em uma cruzada anti-Google, que já o levou três vezes a testemunhar perante o Congresso dos EUA, em investigações sobre a empresa. Ele também alertou e previu a bolha das .com, quando somente chatos faziam tais previsões. “ha ha” diria ele.

O Livro

Busque e Destrua – Por que você não pode confiar no Google Inc. – 348 páginas, R$39,90, Matrix Editora Mais detalhes? Joga no Goo-digo, no Bing.

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