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Galaxy Gear sofrendo com grandes índices de devoluções, mas a culpa é da Samsung?

Fontes indicam que o Galaxy Gear, aquele relógio “inteligente” da Samsung estaria sendo devolvido numa proporção alarmante. O quanto isso é verdade e quanto é culpa da Samsung? Em minha opinião, menos do que você imagina.

10 anos e meio atrás

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Os números não são nada animadores. Em verdade dariam para escrever um artigo suculento detonando o Android, afinal nada menos que 30% dos smartwatches Galaxy Gear vendidos na Best Buy estão sendo devolvidos. Isso é bem ruim, ainda mais levando em conta o preço NADA simpático de US$ 300,00 por relógio.

Talvez o Android só sirva para celulares de dois chips e aqueles Media Centres da Deal Extreme. Ou talvez a explicação seja menos divertida, e bem mais complexa.

Essa febre de smartwatches surgiu um ou dois anos atrás quando os boateiros, cansados de só falar da televisão que a Apple com certeza lançaria, começaram a divulgar que a empresa do Forrest estaria trabalhando em um relógio inteligente rodando iOS, que criaria toda uma nova categoria de produtos.

Várias empresas correram, baseadas apenas e somente em boatos, a projetar iWatch-Killers. Deles o mais bem-sucedido é o insuportavelmente hipster Pebble, que pelo menos tem a decência de custar só US$ 150,00. O Samsung Galaxy Gear, de US$ 300,00; foi lançado funcionando em um único modelo de celular. O público, que adora uma novidade, ignorou as resenhas e comprou, só pra descobrir que o SmartWatch é uma solução à procura de um problema.

GG

Ignoremos os problemas de sincronização, a falta de aplicativos e a RIDÍCULA autonomia de um dia e meio. Onde já se viu, você ter que carregar seu RELÓGIO praticamente todo dia? Quem acha isso normal provavelmente sonha ter um Tesla na garagem. Ah sim, o conector não é USB também. Precisa de um berço próprio.

Quando o iPad foi lançado os haters disseram que ele não iria vender por não ter utilidade, mas todo mundo que comprou tinha uma boa idéia do que esperar de um tablet. Mais ainda: o iPad não depende de outros dispositivos móveis para funcionar. Ele duplica informação, não exige duplicação de funcionalidade. O Galaxy Gear é como um iPad só com Bluetooth, que precisa de um iPhone compartilhando internet.

As pessoas compraram o GG por gostarem da IDÉIA de um smartwatch, é algo que todo fã de ficção científica acha legal, eu mesmo gostaria de ter um. É igual ao desejo geral pelo N900. Só que depois que temos o aparelho em mãos, não temos a menor idéia do que fazer com ele. Ninguém racionaliza uma utilidade real para o Galaxy Gear, e por extensão, para qualquer smartwatch.

Ele faz ligações e acessa contatos” sim, que estão no celular que você precisa, obrigatoriamente ter por perto. Você tem uma câmera — que existe no celular — e um microfone, mas primeiro, você não tem privacidade, quem estiver do lado escuta sua conversa. Segundo, para falar e conseguir uma qualidade de áudio minimamente decente, você tem que segurar o GG… como direi? Coloque a mão esquerda em concha. Finja que está usando o relógio. Cubra a orelha com a mão. Parabéns, você está habilitado a usar o gadget do futuro.

Outros recursos como e-mail e notificações estão disponíveis, mas com uma tela de 1,6 polegada e resolução de 320×320 pixels, quando você seleciona uma notificação recebe isto:

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Quanto à câmera de 1,9 Mp; bem, ela fica na lateral da pulseira. O que significa que a posição mais confortável para filmar, se seu relógio fica no pulso esquerdo, é esta:

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“Ah, então o Galaxy Gear é uma bela caca, certo?”

NÃO! SmartWatches EM GERAL são uma péssima idéia, pois queremos performance de smartphone e bateria de armadura do Homem de Ferro. Nenhuma quantidade de retinas e PPIs fará com que uma quantidade significativa de texto (legível) seja exibido em uma tela de menos de 2 polegadas.

Se o relógio não tiver 3G, sempre dependerá de conectividade externa, comendo bateria E banda. Não importa a autonomia, o fato de ter que carregar SERÁ um incômodo. Atender ligações no relógio consome um membro, do mesmo jeito que no celular. Não é vantagem.

O Hype é a Internet das Coisas, mas nem todas as coisas precisam de Internet, no sentido de repetirem funcionalidade. Vide geladeiras com acesso Internet. Em todas a história da Humanidade ninguém NUNCA consultou a porta da geladeira para procurar uma receita.

Antes que me chamem de Ludita, explico: não é que o SmartWatch seja um fracasso eterno. O conceito só não funciona no modelo atual. Ele precisa ADICIONAR funcionalidades. Algo MUITO útil: um sistema de Carteira Eletrônica, onde o relógio fosse usado para transações eletrônicas pequenas, sem necessidade de confirmação. Imagine passar no metrô ou no ônibus sem cartão. Ou chegar perto de uma máquina de refrigerante e simplesmente escolher o que quer, com todo o pagamento ocorrendo de forma transparente, sem interrupção.

O FORMATO atual dos SmartWatches não é compatível com o que fazemos com nossos tablets e celulares. Um dia surgirão aplicações fantásticas aproveitando esse tipo de dispositivo, mas por enquanto, não existem. Não temos apps, o que é justo, já que se nem nós sabemos do que precisamos, que dirá os desenvolvedores.

E não é culpa da Samsung. Nem a Apple consegue estar à frente de seu tempo o tempo todo. A última vez foi em 2010, com o iPad. Antes disso, 2007 com o iPhone.

A lição aqui é que uma empresa inovadora pode ser identificada também pelos produtos que NÃO lança. Não há mérito em povoar o cemitério de carros voadores e videofones.

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