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Resenha do RoboCop 2014 — é, José Padilha fez bonito na refilmagem

“Isso não é uma armadura, isso é você.” Confira nosso review da refilmagem de RoboCop dirigida pelo brasileiro José Padilha. O filme de 2014 seria melhor que o de 1987?

10 anos atrás

Laguna_RoboCop_Novo

A primeira lembrança que o tio Laguna tem do RoboCop de 1987 era o humor negro com o qual o holandês Paul Verhoeven expunha a parte política do enredo, inserindo telejornais que explicavam o contexto: uma decadente cidade de Detroit controlada pelo crime onde uma grande corporação lucraria com a construção de uma nova cidade, utópica, onde robôs manteriam a lei e começariam a substituir os policiais humanos.

Assim como o Alien de 1979, RoboCop não tinha qualquer pretensão de ser um fenômeno cult: era um filme B, puro entretenimento. O marketing e o orçamento da extinta produtora Orion Pictures que o digam. O diretor Verhoeven costurou uma bela sátira num filme de ação com um roteiro bem competente para a época (a montagem lembra muito a linguagem dos quadrinhos) e a bilheteria foi excelente, acompanhando as críticas. Depois RoboCop virou seriado de TV, que veio acompanhado de uma linha de brinquedos e duas seqüências no cinema.

Aliás, a atual Hollywood carece de ideias originais e, na falta de (mais) adaptações de outras mídias, parece ter encontrado outro caminho para o lucro fácil: refazer clássicos. Ainda não tive coragem de dar uma olhada no remake de Total Recall, outro filme que originalmente era dirigido pelo Verhoeven, mas arrisquei assistir ao RoboCop de José Padilha no cinema. Como gostei dos Tropa de Elite, em especial do segundo filme, achei que o diretor brasileiro não ofenderia os fãs do clássico com um remake qualquer. E felizmente foi o que aconteceu.


Sony Pictures Brasil — RoboCop | trailer 1 legendado | Em exibição nos cinemas

Evitarei quaisquer spoilers mas, considerando que todos os leitores do MeioBit assistiram ao RoboCop de 1987, posso dizer que a nova versão consegue entregar bastante conteúdo original e atual à saga do policial Alex Murphy, protagonista que é transformado no personagem-título do longa metragem.

O tio Laguna preferiu não rever o antigo RoboCop recentemente para que a imersão na refilmagem não ficasse presa à comparações e estragasse o entretenimento. Mesmo assim, gostaria de fazê-las agora que assisti ao RoboCop 2014: enquanto na versão de 1987 tínhamos um elenco bem original, sem nomes famosos, o diretor brasileiro foi obrigado a encher o filme com atores bem competentes e salários milionários que lhes façam justiça.

Assim temos Samuel L. Jackson como apresentador de um programa de TV reaça que apoia robôs vigilantes nos Estados Unidos, Michael Keaton atuando como Steve Jobs CEO da fabricante de robôs militares OmniCorp e Gary Oldman sendo Frankenstein o cientista criador do RoboCop.

Laguna_SamuelLJackson

Cenas de extrema violência gráfica? Não em 2014: a MGM (atual dona da propriedade intelectual da Orion Pictures) e a Sony (distribuidora e dona da MGM) obrigaram que Padilha abaixasse a classificação etária do novo RoboCop (em 1987 a censura era 18 anos) para que os adolescentes de hoje também pudessem assistir ao Alex Murphy (o ator sueco Joel Kinnaman, mais conhecido pela série de TV The Killing) sendo mortalmente ferido e ressuscitado como máquina policial.

A grande dose de humor negro do holandês? Digamos que na versão 2014 de RoboCop, a sátira de Verhoeven foi substituída por críticas políticas bem mais interessantes: temos um ambiente global vigiado por drones e câmeras por todo lado, uma bela referência à coleta de dados particulares por agências governamentais como a NSA, uma visão pessoal do Padilha em relação ao intervencionismo militar (robótico) norte-americano no mundo e a influência política (lobby) de grandes empresas no governo. Isso tudo é o contexto. Bem atual.

A ação desenfreada de 1987 foi substituída por uma bela construção do protagonista e personagem-título costurada sobre ótimas cenas de ação: a refilmagem, o novo filme trata mesmo é do drama pessoal do policial Alex Murphy, que agora tem que se aceitar como uma máquina. Inclusive temos uma bela referência que homenageia o Avatar de James Cameron.

Laguna_JoelKinnaman

“Isso não é uma armadura, isso é você.” (Crédito: Sony Pictures)

Enfim, imagine saber que o que resta de humano, que o que resta de orgânico em seu corpo é tão pouca coisa (é a cena mais desconfortável que já vi) que você só pode contar com seu livre-arbítrio? E se esse livre-arbítrio fosse de encontro aos grandes interesses?

E sua família (a esposa é a Abbie Cornish, aquela linda), como ela aceitaria sua nova condição? Você está vivo, mas é como se não estivesse. Você está saudável, mas preso a um corpo que não é humano e nem mesmo é independente: você precisa ter o que lhe resta de sangue limpo e nutrido por outra máquina. Você não é mais Alex Murphy, você é RoboCop.

O novo filme não substitui o antigo e talvez nem ganhe estátua tão bacana em Detroit, mas vale muito o ingresso. Não perca tempo e vá assistir ao RoboCop 2014.

A única falha que o tio Laguna (ou)viu foi que a clássica música tema do velho RoboCop é tocada apenas três vezes durante o filme todo. E, em nenhuma dessas ocasiões, é durante alguma das competentes cenas de ação, infelizmente.

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