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Resenha — Capitão América 2: O Soldado Invernal

Capitão América 2: O Soldado Invernal — Resenha completa clique e leia. Ok, não clique, vá direto pro cinema. Sim, é bom assim.

10 anos atrás

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Resumo da resenha: levante seu traseiro gordo e vá AGORA pro cinema assistir esse filme. É sério. Eu detesto perder tempo e depois que você voltar do cinema vai concordar que qualquer coisa abaixo deste parágrafo é besteira, e que você deveria ter seguido meu conselho, assim assistiria ao filme alguns minutos mais cedo.

Ok, não tem jeito. Então tá, vamos a uma resenha mais convencional. Sem spoilers, mas assumindo que você viu o primeiro filme do Bandeiroso e assistiu aos trailers.

Marvel's Captain America: The Winter Soldier - Trailer 2 (OFFICIAL)

Primeiro de tudo: esqueça o tal Soldado Invernal. Ele só existe para atrair nerds de quadrinhos que querem ver um Robin (mais emo) se fazendo de malvado. O personagem é ótimo, Sebastian Stan consegue ser uma arma teleguiada robótica em uma cena, e o parceirão Turk-e-JD do Rogers em outra. Só que nesse filme ele não é o vilão. É só um pau mandado. Na verdade você foi enganado, sequer é um filme de super-herói.

CA2 é na verdade um filme de espionagem dos anos 70 com o Robert Redford. É muito mais John Le Carré do que Frank Miller.

O grande tema do filme é sobre poder e controle. Eu poderia dizer que é sobre Steve Rogers preso em um mundo que não criou mas alguém lembraria que esse era o slogan de Howard The Duck. Rogers não desgosta do nosso mundo, mas tem dificuldades em aceitar o quão cinza ele é. A SHIELD, lembre-se, é uma organização de espionagem. Rogers trabalha para eles por lembrar de que em seu tempo fez muita coisa moralmente questionável, em nome do bem maior, e que nem naquela época o mundo era em preto e branco, mas ainda havia confiança.

Nick Fury mente. Manipula. O tempo todo. Ele mente mais que a Globo, mas ainda assim é um idealista. Os vilões do filme também são, e o grande momento é quando você percebe que as superarmas usadas pelos vilões haviam sido desenvolvidas pelos mocinhos com o mesmo exato propósito: matar quem ameace sua visão de mundo.

Note, não estou dizendo que os vilões estão certos. Não estão, mas Steve Rogers é do tempo em que se punia as pessoas depois que elas cometiam um crime.

O lema de CA2 é “não confie em ninguém”. Todo mundo pode ser um agente do inimigo. Esse tema foi levado às últimas consequências no episódio Turn,Turn,Turn de Agentes da SHIELD, que lida com o começo das consequências do CA2. As traições não são gratuitas, tanto no seriado quanto no filme suspeitas são levantadas sobre personagens principais, e fazem sentido.

Isso pra Steve Rogers é complicado, e no final ele mostra que é um super-herói de verdade, ele SABE o que é certo, não depende de gente de fora explicando os fatos da vida. Essa infalibidade moral é característica do arquétipo do herói. E é isso que a gente quer ver: num mundo cinza, num mundo cheio de reviravoltas e traições, alguém que se mantém limpo, mesmo nadando na lama.

O final termina com a morte de uma verdadeira instituição nos filmes da Marvel. Não sei como vão continuar os filmes sem ela, mas é esperar, o que nos resta.

Cenas de Ação

OMFG OMFG OMFG PQP MUITO BOM! Talvez o ponto alto de Star Wars: Episódio 1 tenha sido as cenas de combate de sabre de luz. O Jedi mais badass dos primeiros três filmes era basicamente aleijado, Vader enfrentou um velho em Star Wars, ninguém no Império Contra-ataca e o Luke só em Retorno, onde já estava mais pra lá do que pra cá. Já no Episódio 1 as coreografias de Ray Park como Darth Maul foram brilhantes, pela primeira vez vimos Jedis lutando em seu auge. CA2 é a mesma coisa.

O Capitão América é, além de um exemplo vivo de que anabolizantes funcionam, um atleta supremo. Nesse filme ele luta como todo fã de quadrinhos sempre imaginou. Dança, pega, estica e puxa e viva a festa da Xuxa (não é uma referência gratuita). Ele subverte o escudo como arma ofensiva, salta de um Quinjet sem paraquedas, faz tudo, tudo que a gente queria ver no primeiro filme mas ele estava ocupado derrotando Hitler ou alguma outra bobagem parecida.

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Será que tem um pente nesse escudo?

Steve Rogers mostra como e porque merece fazer parte dos Vingadores. Mais ainda: ele assume o papel de Líder, sua busca em fazer o que é certo inspira e conforta. Nick Fury não é cabeça dura o bastante para questionar o Capitão, em um momento. Rogers mostra o porquê de ser uma das poucas criaturas do Universo dignas de erguer Mjolnir.

Referências

Como todo bom filme da Marvel, CA2 é repleto de citações, nomes e ligações que podem ou não significar alguma coisa. Também é talvez o primeiro filme onde não conhecer a mitologia dos personagens torne a experiência menos legal. Note, não estou dizendo que fica ruim, é que reconhecendo as referências fica tudo melhor. É como se você namorasse a Scarlett Johansson e descobrisse um dia que além de não ser ciumenta ela tem uma irmã gêmea ninfomaníaca.

Recomendo que você preste atenção no começo, quando o CA encontra pela primeira vez o Falcão, que indica um álbum de Marvin Gaye. Rogers anota em uma lista de referências pop a pesquisar. Essa lista muda para cada país. A versão do Brasil já está gerando mimimi nas redes.

Também fique de olho na última cena, quando aparece a lápide de um personagem importante. Note a inscrição… mundos pop se colidindo.

Coadjuvantes

Um mérito INEGÁVEL do filme foi aproveitar personagens secundários. Um exemplo: na primeira grande sequência de ação o Bandeiroso e a Viúva Porém Honesta invadem, junto com uma equipe da STRIKE (Special Tactical Reserve for International Key Emergencies) um navio tomado por mercenários, comandados por um francês (ok, argeliano) de nome… Batroc.

Sim, Batroc, o Saltador, um dos vilões mais ridículos da Marvel, uma caricatura francesa com referência a batráquios (sacou?). É uma das criações mais racistas de Stan Lee. Um dos termos ofensivos usados para denominar franceses é… sapo. Este é Batroc:

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Ele é pouco mais que uma caricatura, ele tem a honra de apanhar de uma lista enorme de heróis, chego a pensar que o sobrenome verdadeiro é LaRusso.

Em CA2 ele é interpretado por George StPierre, sujeito altamente casca-grossa, ex-campeão de MMA. De uma piada fraca Batroc se tornou um exímio lutador que, mesmo sem superpoderes, dá uma bela canseira no Capitão América.

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Sam Wilson, o Falcão aparece como um personagem tridimensional, muito longe da peça de blaxploitation que foi criada com a melhor das intenções por Stan Lee, para dar aos jovens leitores negros um personagem próximo de sua realidade. Ele foi o primeiro herói afro-americano. O Pantera Negra surgiu antes mas ele é de Wakanda, então é afro-africano.

Em CA2 o Falcão não entra por cotas, até porque a cota de megasuperespião fodão negro já foi preenchida. Ele não está lá de favor. Sam Wilson é um veterano da Força Aérea. Paraquedista de Resgate, um grupo que tem dois privilégios: Saltar em território inimigo, às vezes sob fogo cerrado para socorrer feridos, e tomar cerveja de graça, pois esses caras não pagam bebida em nenhum bar militar do Ocidente.

Wilson trabalha em uma organização de apoio a veteranos, ajudando outros a lidar com stress pós-traumático. É, guerras não são coisas legais, nem em filmes de quadrinhos. Ele e o Capitão se conhecem por acaso (mentira, estava no roteiro) e desenvolvem uma amizade. O Falcão tem esse nome por usar um traje de vôo EXO-7 Falcon, cortesia das Indústrias Stark, que não ia mais produzir armamento.

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♫Quando voa o condor / Com o céu por detrás / Traz na asa um sonho / Com o céu por detrás / Voa condor ♫

Ele não é o assistente membro de minoria étnica, nem é o fanboy. Ele não representa o espectador, ele é um veterano que “esteve lá” e o Capitão América o respeita por isso. Também não é o engraçadinho, embora parte do alívio cômico fique a cargo das excelentes tiradas de Anthony Mackie. A melhor definição do Falcão é do próprio personagem, que uma hora aponta para o Capitão América e diz “eu faço a mesma coisa que ele faz, só mais devagar”.

Também aparecem Maria Hill, Sharon Carter, Peggy Carter (parentes? Quem sabe?) e, para deleite de fãs de Community, Abed faz uma ponta.

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A Viúva Negra talvez seja a grande “enganação” do filme. Ela é vendida nos posters como a toda-boa Scarlett, com curvas impossíveis, decote, etc. Só que no CA2 ela consegue ser menos femme fatale do que em Homem de Ferro 2. Quer dizer, ela é femmefatale pra caramba, mas não é adereço de cena.

Scarlett Johansson mostra que sabe fazer comédia, a interação entre a Viúva e o Capitão é deliciosa. Ela vira “a” colega curiosa tentando desencalhar o amigo. Ele por sua vez não tem o menor interesse nem em arrumar namorada nem em ver a Natasha Romanoff como possível conquista. É, crianças, Capitão América virou vlogueiro da Apple.

Há momentos em que ela não consegue sustentar a máscara, e é muito legal ver a Viúva mostrando que não sabe de tudo, só finge que sabe. lembra a cena em Vingadores, quando ela está genuinamente com medo do Banner.

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Nick Fury como sempre é a amálgama entre os personagens, é difícil imaginar o futuro dos filmes da Marvel sem ele. Dessa vez entretanto Nick não está no topo da cadeia alimentar. Ele é sim o Diretor da SHIELD, mas responde a um monte de gente, inclusive ao Secretário de Defesa, interpretado por Robert Redford.

É interessante como o personagem descobre que sua estratégia de compartimentalizar e não confiar em ninguém é excelente e funciona mas só quando tudo dar certo. Fury vê tudo que criou ser pervertido por seus inimigos. E não tem amigos com quem contar. Ele percebe, antes tarde do que nunca, que estava seguindo os mesmos passos de fins justificando os meios.

Talvez o grande tema do filme seja que a diferença entre Bem e Mal não está sequer nas intenções, mas nas ações. Você pode ter intenções legítimas, acreditar sinceramente em uma causa justa, mas nenhuma causa vale explodir uma creche. Não é a causa que determina isso, é o indivíduo.

Cenas Extras

Como todo filme da Marvel há mais coisas depois dos créditos. Nesse caso são DUAS cenas. A última não vale a espera, não precisa se espremer para não mijar nas calças, eu conto: o vilão que não morreu pois aparece vivo perto do final, está vivo. Yay!

Já a segunda cena envolve os vilões que todo mundo achou que foram exterminados, um sujeito com título de nobreza e um objeto que no final de Vingadores ninguém deu falta.

Conclusão

É um raro filme de quadrinhos que transcende o filme-pipoca. NADA, ABSOLUTAMENTE NADA contra filme pipoca, é um estilo plenamente válido, a relação aqui é entre um gibi de linha e uma graphic novel. Um não existe sem o outro, a graphic novel detalha os temas surgidos no quadrinho mensal.

No caso, uma agência de espionagem mundial, criada para combater uma ameaça real, mas que agora não responde diretamente a ninguém, acessa toda e qualquer rede de comunicação, mesmo ilegalmente, e tem praticamente licença para matar. Isso talvez não seja uma boa idéia.

Ainda bem que é só um filme de quadrinhos, né?

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