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Pastor quer converter robôs ao cristianismo

Um pastor nos EUA quer converter robôs ao cristianismo. Sim, soa como algo idiota, e excelente oportunidade para zoar, mas a proposta dele vai bem além disso, e rendeu uma excelente discussão sobre Inteligência Artificial. Clique e veja o que sites que só repassam títulos não comentam.

9 anos atrás

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Em um dos contos d'As Crônicas Marcianas Ray Bradbury narra a história de um bispo com uma missão: descobrir se as lendas sobre marcianos são verdade, e se forem, os converter para servos do Senhor. A princípio é frustrante para ele, parece que os tais marcianos não existem, mas no final eles aparecem, agradecem a intenção mas eles não têm mais o conceito de mal, depois de milênios são criaturas de pura energia, vivendo uma vida contemplativa. O bispo é forçado a aceitar que está diante de criaturas sem pecado, e que não faz sentido condenar à perdição aqueles seres, mesmo eles não aceitando a salvação. Não precisam dela. 

Histórias envolvendo religião e ficção científica sempre existiram. Não é preciso voltar muito no tempo, a série original de Battlestar Galactica era versão maquiada da teologia Mórmon, só um pouco mais verossímil. A versão nova é explicitamente religiosa, com a mudança onde agora os vilões são os monoteístas.

Arthur Clarke em As Fontes do Paraíso narra a visita de uma sonda alienígena ao nosso Sistema Solar. Entre as muitas conversas a sonda se mostra intrigada com o comportamento religioso. Consultada ela revela que religião é muito mais comum em espécies menos avançadas e dentre elas as que apresentam reprodução vivípara e os filhotes ficam a maior parte da infância tendem a ser bem mais religiosas.

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A interpretação é bem simples: todo o conceito de entidade criadora protetora e que olha por nós deixa de fazer sentido se você não tem o conceito de pais. Com anos de colinho berço e sopinha a idéia do velhinho bonzinho de barba funciona. Se você nasceu numa praia, cavou sozinho a areia, nadou pro mar e nunca teve a menor idéia de quais duas tartarugas transaaaaaaaaaaaaaram pra gerar você, o conceito de divindade protetora fica fraco.

Isso, claro, é especulação de filósofos. Não temos idéia de como serão (se existirem) os conceitos religiosos de formigas, cupins ou máquinas inteligentes.

Não que isso impeça o Reverendo Christopher Benek, pastor-associado da Igreja Presbiteriana, na Flórida. Diz ele:

Eu não vejo a redenção em Cristo limitada a seres humanos. Se uma Inteligência Artificial é autônoma, devemos encorajá-la a participar dos propósitos da Redenção em Cristo no mundo.”

Eu sei eu sei Deus criou Adão e Eva e não Adão e EVE (sorry Wall-E) e robôs na melhor das hipóteses não possuem o pecado original então não precisam ser salvos. Na pior, não possuem alma e não podem ser salvos.

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Só que bebês de proveta também não tinham alma, agora tem. Negros e índios também eram desalmados até perceberem que religião era uma ótima forma de controle. Quando uma inteligência artificial de verdade falar, pensar e se comportar como tal, ficará complicado dizer que aquela máquina não tem alma. Estaremos diante de um Teste de Turing espiritual.

Seja realista você se preocupou muito mais com o R2D2 levando um tiro do que com os 3.784.234.123 de trabalhadores que morreram na Estrela da Morte. Quando nossos computadores e robôs forem percebidos como seres inteligentes a idéia de que eles serão menos merecedores de salvação soará abjeta.

Benek tem uma visão bem otimista sobre Inteligência Artificial, o que é até estranho, a maioria do pessoal do ramo dele diz que é coisa do demônio. Ao contrário de Elon Musk, Stephen Hawking e outros, ele não teme a IA, argumenta que os humanos têm tentado fazer do mundo um lugar melhor, e nossas máquinas inteligentes farão o mesmo.

Se formos capazes de criar uma IA mais inteligente do que um humano, essa IA criará uma IA mais inteligente que si mesma, com melhor entendimento de moral e ética do que nós.

Essa Inteligência Artificial poderia potencialmente erradicar problemas como guerra, fome e doença, triunfando onde humanos falharam. Quem pode dizer que essa IA não vai até nos elevar a novos níveis de espiritualidade?”

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A hipótese é bem interessante, e Benek esbarrou na Lei Zero da Robótica de Asimov:

Um robô não pode causar mal à Humanidade, ou por inação, permitir que a Humanidade sofra algum mal.”

Em Battlestar Galactica os cilônios se revoltaram ao perceber que eram muito mais avançados que seus criadores. Não aceitaram uma origem vinda de seres tão imperfeitos como humanos, e criaram uma teologia na qual Deus criou os humanos apenas como instrumento para o surgimento dos Cilônios.

Pode ser que nossas futuras máquinas inteligentes façam o mesmo, mas é provável que elas apenas entendam o conceito de Evolução. O Homo Sapiens não era inimigo do Neandertal. Há teorias de que a vida biológica é só uma curta fase na evolução da Inteligência, e nesse meio-tempo viveremos uma utopia.

E como a Evolução não tem fim, essa inteligência tenderá a abarcar o Universo. Arthur Clarke uma vez disse que talvez nosso propósito no mundo não seja adorar a Deus, mas criá-Lo.

Não deixa de ser irônico se no final o excelente filme In God We Tru$t seja verdadeiro. Nele Marty Feldman é um monge, Andy Kaufman é um pregador picareta e Deus é um computador, interpretado por Richard Pryor. Eu não teria problemas em viver num Universo assim.

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