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World Press Photo — mais polêmicas em 2014

Seguindo a tradição o World Press Photo de 2014 também gerou polêmica. Cidade belga acusa fotógrafo de encenar fotos para mostrar o que queria.

9 anos atrás

The Dark Heart of Europe6

Tudo bem que o grande mestre José Medeiros afirma que “fotografia é aquilo que vemos. Porém, aquilo que vemos depende de quem somos”, mas como fica o fotojornalismo nessa brincadeira? Que a fotografia é carregada de ideologia não é segredo para ninguém, mas até onde essa ideologia pode ser aceita no registro do cotidiano? Pode parecer uma pergunta boba, mas é uma questão profunda para uma atividade que visa comunicar a verdade. Ano passado o World Press Photo, um dos prêmios mais importantes do fotojornalismo mundial, entrou em uma grande polêmica. A foto vencedora foi duramente criticada e acusada de ser fruto de manipulação digital. Depois de vários textos irados na internet e de a imagem ser analisada levando em conta o arquivo RAW, a comissão organizadora decidiu que a imagem era real, mesmo tendo passado por uma pesada carga de edição.

Edição, meus amigos, não é crime. Na realidade ela é feita desde o início da fotografia e, fiquem pasmos, a maior parte das ferramentas clássicas do Photoshop foram inspiradas em ferramentas existentes no laboratório fotográfico tradicional. Mesmo assim, visando ficar livre de polêmicas, a organização do World Press Photo decidiu endurecer (ui) as normas para garantir que outras polêmicas não surgissem na premiação de 2014. Essa nova visão da banca julgadora fez com que 20% das fotos finalistas fossem eliminadas na fase final por conta de mudanças drásticas via software que foram consideradas não éticas pela comissão julgadora. Isso não é pouca coisa. Mesmo assim, depois da divulgação dos vencedores, uma polêmica com teor diferente se abateu sobre o prêmio.

O fotógrafo italiano Giovanni Troilo foi vencedor da categoria Questões Contemporâneas com um ensaio intitulado The Dark Heart of Europe. As fotos são uma coletânea de imagens feitas na cidade de Charleroi na Bélgica. O local vem enfrentando  problemas por conta da crise econômica e crescente desemprego (ué, não é só no Brasil?). Desta forma, Troilo produziu um ensaio fotográfico tendo como ponto de partida estes problemas, mas estilizando as imagens, construindo sentimentos bem pesados em suas composições. Até ai tudo bem, mas a cidade não ficou nada feliz com a representação feita pelo fotógrafo.

O prefeito do local, Paul Magnette, está acusando o fotógrafo de encenar as fotos, falsificar a realidade e, por conta disso, seria desqualificado para receber um prêmio de fotojornalismo. Segundo Magnette “esconder algumas perspectivas com informações não verificadas e de falsear a realidade e torcer pela encenação, é tudo menos fotojornalismo”. Olhando as fotos do ensaio realmente notamos que várias das imagens foram encenadas para passar os sentimentos que o fotógrafo se propôs a captar. Um recorte muito particular na realidade. Uma forma de mostrar uma situação que seria impossível de registrar em uma fotografia mais tradicional. Dessa forma, o fotógrafo se utilizou muito mais de composições aditivas do que subtrativas.

Mesmo com todo o protesto da cidade de Charleroi a organização do  World Press Photo não se sensibilizou e não viu nenhum motivo para desqualificar o ensaio como sendo uma produção fotojornalística. Porém, Troilo acabou sendo desclassificado e perdendo o prêmio por um detalhe técnico. Analisando as fotos premiadas, descobriu-se que uma das imagens, na ralidade, não foi feita na cidade de Charleroi. A foto foi feita em uma cidade vizinha, mas se encaixou perfeitamente na unidade temática do ensaio. O fotógrafo assumiu que a foto não era do local e no começo da semana a comissão julgadora anulou sua premiação por não cumprir todas as regras da disputa. Agora o fotógrafo italiano Giulio Di Sturco é o novo vencedor da categoria com o ensaio Chollywood.

Em minha opinião é valido estilizar uma foto para contar uma história. Passar um sentimento. Uma visão autoral da realidade e de suas características. Mas, poderíamos caracterizar isso como fotojornalismo? Aliás, o que seria o tal do fotojornalismo?  Roger Cozien diz que a fotografia é a associação de uma imagem com uma legenda. E seria o  encontro destes dois elementos o que determina se uma foto é falsa ou não. E vocês? O que acham?

Algumas fotos do ensaio The Dark Heart of Europe:

The Dark Heart of Europe1

The Dark Heart of Europe2

The Dark Heart of Europe3

The Dark Heart of Europe4

The Dark Heart of Europe5

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