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A História do Bueiro Nuclear

Todo mundo fala das Voyagers, New Horizons, Apollo, Sputnik, das V2, mas o objeto mais rápido lançado ao espaço não é nenhuma dessas. É uma tampa de bueiro, e usaram uma bomba atômica pra isso!

9 anos atrás

Manhole-firecracker-explosion

Darwin aprova gente que solta fogos de artifício em bueiros.

Armas nucleares são coisas excelentes. Se você tem uma consegue respeito internacional, fiador, ingresso pro Rock in Rio sem ágio e comprar Coca com casco de Pepsi, mas se sua bomba explode acidentalmente, isso acaba com o seu dia, sem falar que seus vizinhos nunca mais vão te chamar pro churrasco.

Os projetistas de armas nucleares pensaram nisso, mesmo a bomba de Hiroshima já tinha vários mecanismos de segurança. De lá pra cá até a forma com que as bombas são desenhadas tentam impedir detonações acidentais. Uma das técnicas usadas se chama Segurança de Ponto Único. A idéia é que uma bomba nuclear precisa de uma implosão precisa, comprimindo uma esfera de material físsil até que ela atinja massa crítica.

Se somente uma das cargas explosivas é acionada, a detonação é incompleta, a bomba não explode ou explode com potência bem menor. Isso em teoria, na prática não foi bem assim, e isso levou à criação do objeto mais veloz da História da Humanidade.

A única forma de testar esses mecanismos de segurança é explodindo bombas, e por muito tempo por esse e outros motivos bombas nucleares eram testadas em explosões subterrâneas. Você cava um poço de algumas centenas de metros, coloca uma bomba no fundo, tampa, enche de medidores e faz cabum. É algo muito interessante, veja este teste no Alaska, na ilha de Amchitka, a 993 km 607 milhas de Dutch Harbor:


MovieMongerHZ — 6.8 Magnitude Earthquake Simulated by Underground Nuclear Explosion!

Um desses testes, codinome Pascal-B aconteceu dia 27 de agosto de 1957, na área secreta de testes nucleares no deserto de Nevada, mais precisamente nas coordenadas 37° 2′ 56,51″ N; 116° 2′ 4,92″ W. O objetivo era provocar uma detonação assimétrica, validando o design da ogiva. 

Para o teste a bomba é colocada no fundo de um poço com 150 metros de profundidade. Em alguns casos ele é deixado aberto, o racional é que com a detonação as paredes desabam e pouco ou nenhum material radioativo escapa. No caso de Pascal-B decidiram colocar uma “rolha” de concreto, contendo diversos instrumentos, e fechar com uma tampa de bueiro, com pouco mais de 1 m de diâmetro, 10 cm de espessura e 900 kg de peso.

Quando a bomba foi detonada, algo deu errado. Pascal-A explodiu com o equivalente a 55 toneladas de TNT, como planejado. Pascal-B explodiu com potência de 300 toneladas de TNT, ou mais, deu chabu. A rolha de concreto foi vaporizada, e subitamente o poço se transformou em um canhão nuclear.


nicapufo — May 25, 1953; 280 mm Canon Fires Nuclear Weapon

Não este mas também é legal.

Uma câmera de alta velocidade só conseguiu captar a tampa de bueiro em um frame, um dos cientistas descreveu como um morcego saindo do Inferno. A tampa foi acelerada a 6× a velocidade de escape da Terra, alguns cálculos estimam sua velocidade em 66 km/segundo, 237.600 km/h.

Três coisas podem ter acontecido:

1 — a tampa de bueiro virou um meteoro invertido, queimando e se desintegrando na atmosfera, pois estava na maior velocidade nas regiões mais densas.

2 — a tampa sobreviveu mas perdeu energia por causa da atmosfera e caiu, em um raio de algumas centenas de quilômetros.

E a terceira, melhor e minha preferida hipótese:

3 — a tampa foi para o espaço, e como a velocidade de escape da Terra é de 11 km/s e do Sistema Solar na nossa posição é de 42 km/s, a tampa tem velocidade de sobra e segue para os confins do Cosmos. Um dia, milhares, talvez milhões de anos no futuro um Exoarqueólogo encontrará a tampa quando ela passar pelas cercanias de alguma colônia do Império Galáctico, e isso gerará discussões intermináveis.

No final chegarão à conclusão de que aquela tampa de bueiro tinha… propósitos rituais.

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