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South Park, Silicon Valley e os limites da publicidade

Que o Jabá existe todo mundo sabe, gin-tônica não dá em árvores, a gente tem conta pra pagar, mas a publicidade está saindo de seu lugar de direito e invadindo as áreas antes restritas ao conteúdo. Agora no Google estão aparecendo anúncios disfarçados em meio a resultados de buscas, e não, não falo dos links patrocinados, é algo bem mais nefasto.

8 anos atrás

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Na última temporada South Park — genial como sempre — voltou as armas contra dois temas bem atuais. Usando o gancho da cultura do politicamente correto mostraram como conceitos válidos de justiça social estão sendo deturpados por uma ala de militantes que praticam basicamente fascismo, patrulhando os próprios amigos e os denunciando por atitudes terrivelmente racistas como… ter cabelo encaracolado mas não ter a cor de pele certa.

O outro tema é bem mais sério, pois ao contrário dos SJWs, que podem ser espantados como os insetos que são, é bem mais complicado de livrar do conteúdo patrocinado. Não falo de publieditoriais, ou mesmo dos modelos onde jornalistas são levados para conhecer produtos ou participar de eventos. Isso é bom para todo mundo, gera conteúdo real. Falo de matérias jornalísticas enfiadas no meio dos sites, com pouca ou nenhuma indicação.

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Antigamente, quando jornais ainda eram relevantes havia a chamada matéria paga, quando o anunciante comprava espaço e publicava um texto formatado como um artigo jornalístico. Alguns jornais diferenciavam mais, outros menos mas hoje vários sites omitiram totalmente a diferenciação.

Pior ainda: o Conteúdo Patrocinado não é necessariamente objetivo. Ele se disfarça de conteúdo e tangencia o produto. É como se eu vendesse repelente de tubarão e pagasse por um post sobre os 10 ataques de tubarões mais terríveis do cinema. O Buzzfeed adora fazer isso:

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Esse aí de cima é especialmente brilhante, associa o lightining fast do título com a Verizon FIOS, provedora de internet.

Antigamente havia uma separação entre redação e comercial, depois, quando o dinheiro escasseou os jornais começaram a deixar o comercial influenciar no conteúdo. Hoje quem anuncia é quem dita as regras, e isso é muito ruim quando não é explícito. Há conteúdos que mesmo quem é puta velha de mercado tem dificuldade de identificar como jabá. Outro dia um vlogueiro famoso comentou de um filme. Achei normal, mas quando vários YouTubers e perfis descolados começaram a falar sobre o tal 10 Cloverfield Lane, um filme que basicamente ninguém viu, percebi que havia caído como um patinho.

A separação entre conteúdo real e publicidade não parece mais ser preocupação, nem de quem anuncia nem de quem veicula. Por exemplo:

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Agora essa indistinção está se manifestando diretamente nas fontes.

No primeiro episódio da nova temporada da excelente, deliciosa Silicon Valley Richard e Bachman estão dirigindo de noite para uma reunião de emergência, depois que Richard foi demitido da posição de CEO da Piped Piper, eles sofrem um acidente e atropelam o que parece ser um cervo, mas é o… BamBot. Da Stanford Robotics, uma referência clara à Boston Dynamics. A cena é ótima:


Çağatay Kömür — Silicon Valley - Bambot Scene

Agora o problema: se você fizer uma busca no Google (USA) por Silicon Valley o acidente do BamBot vai aparecer, mas não como site, e sim como… notícia.

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A culpa é do próprio Google, que disponibilizou uma ferramenta, Posts que permite a publishers publicarem conteúdo diretamente nos resultados de buscas, tornando mais difusa ainda a separação entre conteúdo legítimo e publicidade.

Diz o Google que a ferramenta não é para ser usada com publicidade, mas quando você está lidando com centenas de milhões de olhos, não existe brincadeira ou referência inocente. A polêmica dos bloqueadores de anúncios é vazia, é obsoleta. Quando tudo é anúncio, não dá mais para bloquear. Banner é coisa do passado, agora você clica no post engraçadinho do 9Gag e eles faturam duas vezes.

Bem-vindo ao futuro.

Quanto a nós, pode ficar tranquilo, caro leitor. O MeioBit nunca apelará para essas práticas, mesmo que anunciantes entrem em contato e ofereçam quantias obscenas de dinheiro. Assim como Wayne's World, preservamos nossa integridade!


Jacob Stork — Wayne's World - Product Placement

Fonte: Business Insider, que também capricha no Jabá…

 

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