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John Oliver fez os jornaleiros chorarem

A mídia impressa está em crise e não é de hoje, e pelo visto só vai piorar. John Oliver, do Last Week Tonight fez uma excelente matéria sobre o estado calamitoso dos jornais nos EUA e adivinhe: os jornais… protestaram.

7 anos e meio atrás

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John Oliver depois de Stephen Colbert é a cria mais bem-sucedida do Daily Show. Ele já zoou Ramzan Kadyrov, ditador da Chechênia, que parou o país atrás de um gato, arrumou um bate-boca com o presidente do Equador, e iniciou uma série de denúncias que resultaram em uma série de intervenções policiais na FIFA.

Seu maior segredo é tempo. Sua excelente equipe produz um programa por semana, o que significa que podem investigar, pesquisar e acima de tudo encontrar o ridículo em todas as situações. Em um dos programas eles descobriram que é facílimo abrir uma igreja e isso automaticamente te protege do fisco, e permite que você peça dinheiro, sem nenhuma obrigação ou retorno.

Foi o suficiente para abrirem a Igreja da Nossa Senhora da Eterna Isenção, John Oliver virou pastor e legalmente podia até realizar casamentos. Milhares de fãs entraram na zoeira e mandaram dinheiro, que foi doado aos Médicos Sem Fronteiras.

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No programa de domingo passado John Oliver apresentou uma matéria sobre o que nós carinhosamente chamamos de velha mídia: jornal impresso. Você sabe, aquele negócio essencial pra quem cria passarinho ou está de mudança. A mídia especializada em Notícias Velhas, que inexplicavelmente publica previsão do tempo defasada quase 24 h.

O jornalismo vem sofrendo muito com a internet, mais que qualquer outro segmento. A facilidade de acesso e a quantidade de conteúdo gratuito tornou quase alienígena a idéia de pagar por notícias, e a publicidade online rende muito menos que anúncios off.

Pior ainda, os sites estão dando o que os leitores querem: Kim Kardashian, gatos, clickbaits. Conteúdo sério, conteúdo longo não rende clique. Minhas matérias sobre exploração espacial rende uma fração insignificante dos cliques de sites com chamadas “ASTERÓIDE GIGANTE PODE DESTRUIR A TERRA” ou “EXPLOSÕES DE RAIOS GAMA PODEM ACABAR COM O MUNDO”.

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A matéria do Last Week Tonight deixa isso bem claro, a culpa não é dos jornais, os leitores são os primeiros a preferir clickbaits e posts com letras grandes e palavras curtas, temas bestas e inofensivos.

Só que os jornais estão abraçando com muita vontade o jornalismo inconsequente, e isso é péssimo. Precisamos dos Woodwards e Bernsteins. O jornalismo de verdade, jornalismo investigativo é essencial. Aaron Sorkin destacou bem a importância do jornalismo como braço da sociedade que vigia e denuncia seus abusos nesta abertura de The Newsroom:


420Rellik — Will McAvoy's Apology (The Newsroom)

John Oliver é o primeiro a dizer que não é jornalista, que não faz jornalismo. Jon Stewart também insistia, tem um programa de humor que lida com notícias e temas jornalísticos mas não, não tem a arrogância de se achar jornalista.

A postura dos empresários também não ajuda. No programa eles mostram um clipe inacreditável de Sam Zell, bilionário que era dono do Chicago Tribune e outros jornais. Ele fala o velho discurso de que precisam fazer o que é popular, para então ter dinheiro para fazer jornalismo “de verdade”.

Uma jornalista diz que as pessoas querem matérias sobre cachorrinhos. A resposta dele:

Me desculpe, eu não posso — você sabe: você está me dando a resposta clássica, que eu chamo de arrogância jornalística de decidir que cachorrinhos não contam. Espero que cheguemos ao ponto em que a receita seja tão significante que possamos fazer cachorrinhos e Iraque, ok? Vai se foder.”

SIIM. Ele mandou uma jornalista se foder por querer informar a comunidade.

A matéria toda do Last Week Tonight pode ser vista aqui:


Last Week Tonight with John Oliver: Journalism (HBO)

Claro, ela gerou repercussão, mas ninguém imaginava que o butthurt seria tão grande. Ou tão infantil.

A Associação Americana de Jornais, na pessoa de seu CEO David Chavern chilicou forte, acusando John Oliver de passar a maior parte do tempo zoando os jornais (Hello? É um programa de Humor!) e desprezando as tentativas da indústria em se adequar aos novos tempos. Note que as tentativas são ridículas.

Na carta-aberta a John Oliver Chavern ainda reclama que apesar de ter dito com todas as letras que a culpa é do consumidor, que não paga pelas notícias e força a imprensa a demitir enxugar e tentar tudo para sobreviver, John Oliver não propôs soluções.

Isso mesmo. Esse jornaleiro está reclamando de uma matéria investigativa que detalha apresenta expõe um problema mas não apresenta uma solução.

FILHO, imprensa não existe para prover solução. MUITO MENOS programas de humor. A sua indústria está morrendo e tudo que vocês fazem é bloquear o acesso ao conteúdo (e aos seus anúncios), enfiar autorefresh para fraudar número de visitantes e cobrar mais caro por assinaturas digitais do que por assinaturas mistas, papel+internet.

John Oliver meteu o dedo na ferida e tudo que os jornaleiros conseguem fazer é reclamar que não é o dedo do ET. Meus parabéns, vocês perderam mesmo o bonde da História. Parabéns mesmo por tornar veículos sérios e respeitados menos relevantes do que lixos como o Vice, um site que publica matérias ensinando a chupar o próprio pau.

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