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Políticas obscuras do Uber já colocaram empresa em rota de colisão com a Apple

Tim Cook já ameaçou remover o Uber da App Store se a empresa não removesse função que identificava usuários de iPhones; política controversa da empresa, baseada na sede de poder e sucesso de Travis Kalanick coloca sua sobrevivência em cheque.

7 anos atrás

Vamos ser sinceros: o Uber pode ser uma mão na roda mas está MUITO longe de ser uma empresa que preza pela ética. Ela já foi centro de inúmeras polêmicas principalmente por sua gana de vencer a qualquer custo, segundo pessoas próximas característica da personalidade de seu co-fundador e CEO Travis Kalanick.

E justamente essa fixação em ser o número um já colocou ele próprio em uma tremenda saia justa com o CEO da Apple Tim Cook, que literalmente lhe passou o sermão e fez duras ameaças à companhia de transportes.

Segundo extensa reportagem do The New York Times (baseada em entrevistas de mais de 50 pessoas próximas a Kalanick) o arranca-rabo se deu em 2015. Na época os engenheiros da Apple descobriram que o Uber foi por meses capaz de camuflar uma função no app que identificava quais de seus clientes eram usuários de iPhones, criada "em teoria" para combater fraudes realizadas principalmente na China, iniciadas em 2014: motoristas compravam iPhones roubados, criavam contas falsas e se registravam no app, realizando chamadas para eles mesmos. Como o Uber na época incentivava que seus parceiros aceitassem o maior número de chamados possível, esses trambiqueiros faziam bastante dinheiro sem dirigir muito.

Para combater tal prática o Uber criou na época uma ferramenta chamada "fingerprint", capaz de identificar iPhones em uso mesmo após o app ser removido ou o dispositivo ser restaurado. Como tal prática é uma clara violação aos Termos de Uso da Apple, ainda que não seja uma forma de identificação de usuários e sim um rastreamento de hardware os desenvolvedores da companhia trataram de "isolar" o campus de Cupertino, de modo que os técnicos lá de dentro não fossem capaz de vez a maracutaia. Só que para a infelicidade de Kalanick a maçã também conta com revisores de fora, e estes informaram à companhia o que estava acontecendo.

Travis Kalanick ouviu poucas e boas de Tim Cook

Foi aí que o caldo desandou. Tim Cook convocou Kalanick para um encontro pessoal e segundo informes o CEO da Apple foi curto e grosso: ou o Uber removia a funcionalidade ilegal ou o app seria sumariamente deletado da App Store, algo catastrófico para uma companhia em ascensão (embora ela já tivesse sido avaliada em US$ 17 bilhões um ano antes). O executivo do Uber teria saído da reunião "abalado", mas acatou a ordem.

O Uber afirmou em nota que a técnica não dizia respeito à identificação de usuários, mas a prática de ignorar limites é lugar comum na companhia. Kalanick, um executivo jovem (apenas 40 anos) seria tão obcecado em atingir o sucesso que não mede esforços para fazer com que o Uber esmague a concorrência e para isso, qualquer método é válido: desde prejudicar diretamente o Lyft como utilizar softwares para driblar as autoridades em países em que o serviço é bastante restrito, limitado ou proibido (visto que a empresa não costuma aceitar decisões judiciais desfavoráveis, preferindo nesse último caso operar na ilegalidade). O usuário também é visto como uma fonte valiosa de dados, e ferramentas como a polêmica God View que rastreia os clientes em tempo real continuam sendo grandes dores de cabeça para a empresa, principalmente porque ela não hesita em usar o recurso para o mal; sem falar que a companhia mantém seus dados mesmo se você encerrar sua conta, e os utiliza como quer.

E se adicionarmos o recente bate-boca com um motorista do serviço, podemos dizer que Kalanick não é a mais agradável das pessoas.

Basicamente a atitude do Uber, endossada por Kalanick é cáustica e agora está se pagando: a reação do público após diversas denúncias de irregularidades, somadas à discussão com o motorista acabou por fazer com que milhares de pessoas deixassem de usar o app, partindo para soluções concorrentes (que também não são tão santas assim, é bom frisar). O curioso é que a empresa, representada por seu CEO parece não se importar com nenhuma crítica ou ação negativa externa ou interna. Pelo contrário, sua obsessão por alcançar o topo da cadeia alimentar, algo que ele persegue desde a juventude teria o tornado insensível a qualquer coisa senão o sucesso absoluto, a qualquer preço. Não importam quantas regras ou leis precisem ser quebradas.

A estratégia de Kalanick pode a médio prazo ser mortal para o Uber, que está sob escrutínio pesado da FCC por diversas de suas práticas. Resta saber se ela sobreviverá à justiça ou se o CEO tomará jeito com o tempo, algo que parece pouco provável.

Fonte: The New York Times.

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