Ronaldo Gogoni 7 anos atrás
Quando a Disney anunciou sua intenção de adaptar Piratas do Caribe para o cinema, ninguém levou a sério. A reação foi uniforme, como diabos uma atração animatrônica da Disneylândia poderia render um filme? Só que como a Disney é… bem, A Disney a empreitada não só deu certo como Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra foi um estouro de bilheteria em 2003 (custo de US$ 140 milhões, renda de US$ 654,3 milhões em valores da época), culpa principalmente da mão precisa do produtor Jerry Bruckheimer, que na época estava em alta por filmes como Armageddon, Inimigo do Estado e Falcão Negro em Perigo, entre vários outros e do ator Johnny Depp, por sua para lá de afetada interpretação do pirata trapalhão e anti-herói Jack Sparrow.
O filme virou franquia, gerou três outras produções ao longo de uma década sempre seguindo a mesma fórmula (ação ininterrupta, piadinhas descabidas e situações esdrúxulas) e apesar da crítica sempre espinafra-los, os números no caixa sempre foram bem gordos: até hoje a marca rendeu mais de TRÊS BILHÕES DE DÓLARES só com bilheteria durante esses 14 anos. Logo, por que parar?
E assim temos hoje a estreia nos cinemas de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, o quinto filme e segundo os produtores o primeiro da aventura final, que pretende encerrar de uma vez por todas a saga do pirata mais azarado dos sete mares.
There and Back Again
A frase de O Hobbit cai como uma luva na franquia Piratas do Caribe, que sempre se manteve fiel à fórmula de uma diversão despreocupada e frenética para toda a família. Há passagens que só adultos pegam e outras absurdas que são feitas para as crianças, mas que acabam arrancando risadas de todo mundo. A Vingança de Salazar não é diferente, ele possui um ritmo alucinante como numa montanha-russa: há cenas de ação, uma piadinha qualquer e outra sequência de ação.
A crítica sempre detestou essa dinâmica de não dar um tempo para os personagens respirarem e serem desenvolvidos, mas a verdade é que tanto este filme quanto os anteriores são feitos para se desligar o cérebro e curtir, e não metáforas existencialistas que os fãs de cinema iraniano gostam.
A trama se passa 17 anos depois dos eventos de No Fim do Mundo e Navegando em Águas Misteriosas, e Jack (Depp) continua sendo um pirata sem navio e tripulação. O Pérola Negra foi literalmente engarrafado, seus poucos aliados restantes já se cansaram de sua onda de azar e para completar, eventos alheios à sua vontade trouxeram de volta uma ameaça a todos os piratas do mundo: Armando Salazar (Javier Bardem), antigo capitão da marinha espanhola que foi morto e aprisionado no pós-vida junto com sua tripulação após uma bem-sucedida estratégia de Sparrow está de volta, e não só quer vingança contra aquele que o jogou num tormento eterno como pretende retomar sua antiga missão: erradicar toda a escória pirata dos mares.
Há mais dois personagens com tramas que acabam se entrelaçando com a de Sparrow: a astrônoma Carina Smyth (Kaya Scodelario, de Maze Runner) que busca informações sobre sua origem e que era seu pai, e que por acaso carrega consigo a chave para exterminar a ameaça de Salazar de uma vez por todas. Coincidentemente é a mesma coisa de que Henry Turner (Brenton Thwaites, de Deuses do Egito), filho de Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) está atrás: um artefato místico capaz de romper todas as maldições do mar e livrar seu pai das amarras no navio fantasma Holandês Voador, do qual Turner se tornou capitão no fim do terceiro filme.
Toda essa trupe acabara se cruzando por obra do acaso (ou não) e mesmo com objetivos conflitantes, se unirão para enfrentar Salazar e sua horda de marinheiros mortos-vivos. Este por sua vez é uma massa de ódio e ressentimento, ao ponto de engolir a contragosto uma aliança com um velho desafeto de Sparrow: Hector Barbossa (Geoffrey Rush), agora um rico e temido capitão de uma armada pirata.
Tecnicamente o filme dirigido por Joachim Rønning e Espen Sandberg (A Aventura de Kon-Tiki) é um primor visual, os efeitos de luz, sombra e partículas sobre Salazar e seus homens é muito bem feito e dão a real impressão de estarmos vendo zumbis carbonizados ambulantes. O roteiro de Jeff Nathanson (Velocidade Máxima 2, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal) é bem construído, mas deixa clara a intenção de recriar A Maldição do Pérola Negra na tela: um anti-herói sem navio, uma tripulação morta-viva ameaçando os mares e um objeto místico que resolverá tudo, além da ajuda de um casal de sidekicks relutantes.
Isso não torna o filme ruim, pelo contrário é uma fórmula divertida mas isso faz de A Vingança de Salazar uma aventura previsível. Você já viu aquela história antes. Ainda assim esta sequência é melhor que todas as outras, e se aproxima muito do nível de diversão proporcionado pelo primeiro filme em 2003.
Não que o grande público vá se preocupar com isso, a trama do filme segue um ritmo tão louco e intenso que mal dá para respirar e dar um gole no refrigerante, a sucessão de cenas de ação são quase ininterruptas. Os momentos de calmaria servem apenas para pontuar a história e melhor desenvolver os personagens, principalmente Salazar e Carina. Ainda assim tudo segue como o previsto, com Jack Sparrow sendo o conduíte da história mas nunca o verdadeiro protagonista, apenas um meio para a trama se desenrolar ao seu redor. Claro, sempre com muita luta, explosões e situações impossíveis e fantásticas.
Conclusão
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar não é um filme perfeito, mas é o melhor desde A Maldição do Pérola Negra. É um filme que não vai te ensinar nada sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais mas é perfeito para quem gosta de uma aventura despretenciosa, seja curtindo em família ou para os momentos em que você só quer desligar-se das preocupações e se divertir sem culpa.
O único pecado da película é a sensação de refilmagem. A Disney e Jerry Bruckheimer provaram quatro vezes que podem contar boas histórias e a equipe envolvida deveria ter se esforçado para extrair um pouco mais de originalidade da trama. Claro, depois de cinco filmes as ideias começam a rarear, mas espero que o suposto sexto filme, o que promete encerrar a franquia feche as portas com dignidade e não com roteiros reciclados.
Cotação:
4/5 bússolas.
O MeioBit assistiu à cabine de imprensa de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar a convite da Disney.