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Novas restrições do YouTube cortarão monetização de vídeos ofensivos ou de “pegadinhas”

Acabou a farra: o YouTube detalha restrições no programa de monetização de vídeos; conteúdo de ódio, potencialmente ofensivo, pegadinhas e uso de personagens infantis fora de contexto não mais renderão grana.

7 anos atrás

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O YouTube teve que apanhar feio para entrar na linha. A fuga em massa dos anunciantes fez com que a plataforma passasse a filtrar agressivamente o conteúdo de vídeo de seus parceiros e aqueles que fossem minimamente críticos ou duvidosos perderam a monetização sem dó nem piedade. Só que as diretrizes ainda não haviam sido anunciadas, não se sabia exatamente quais conteúdos eram liberados e quais seriam passíveis de corte na grana.

Isso até esta semana, quando a guia de boas práticas foi finalmente revelada.

O YouTube expandiu suas regras de conteúdo aos criadores de modo a esclarecer de uma vez por todas o que é considerado um vídeo “amigável aos anunciantes”, aqueles que serão ligados a campanhas dos parceiros comerciais do Google que em primeira instância não querem ver seus produtos sendo oferecidos por canais com discursos nocivos ou conteúdo controverso, por mais leve que ele possa vir a ser considerado pelo público e YouTubers. A bem da verdade é que os anunciantes não querem mais que qualquer coisa faça dinheiro às suas custas e como o Google não está em posição de negociar, pois depende de propaganda para viver a conta foi repassada para os canais, que serão obrigados a entrar na linha.

Basicamente três são os tipos de conteúdo banidos dos vídeos. São eles:

  • discurso de ódio: qualquer vídeo que parta para ataques ou humilhe um indivíduo ou um grupo de pessoas tendo como base sua etnia, nacionalidade, religião, condição física, idade, orientação sexual, gênero ou quaisquer outras características. A verificação é manual e por algoritmos;
  • uso inapropriado de personagens voltados para a família: esta cláusula bate de frente com a polêmica que atingiu diretamente o YouTube Kids, canais piratas que criavam animações com personagens infantis e os colocavam em situações fora de contexto: vídeos com violência, apologia às drogas, conotações sexuais e por aí vai. Vale para todos os canais que fazem animações de personagens fora de situações esperadas, o que indiretamente afeta os criadores de vídeos com personagens de Minecraft que existem aos montes no YouTube; a identificação será manual e quem for pego pisando no tomate perderá automaticamente a monetização;
  • conteúdo “incendiário” e/ou degradante: este é um tipo de conteúdo mais abrangente e merece uma melhor explicação. Segundo o VP de Gerenciamento de Produto do YouTube Ariel Bardin, vídeos que apresentam situações degradantes sem propósito caem nessa classificação. O executivo deu o exemplo de um vídeo com linguagem desrespeitosa ou degradante que não necessariamente se enquadre em discurso de ódio contra uma pessoa ou grupo, mas há um caso bem mais simples de se utilizar aqui: vídeos de pegadinhas. Produções que mostram pessoas em situações de desespero por conta de uma brincadeira besta dos criadores de conteúdo não mais serão passíveis de monetização, pois o YouTube entende tais coisas como exposição de terceiros a situações vexatórias e humilhante. Logo, canais que investem pesado em vídeos “trolei fulano, trolei cicrano” não mais farão dinheiro.

Essas são as principais, mas há uma série de outras orientações do YouTube e o Felipe Neto destrinchou como elas vão funcionar:


Felipe Neto — YOUTUBE MUDOU! CANAIS GRANDES VÃO PERDER DINHEIRO!

Basicamente, canais com vídeos de sexo (obviamente se focando nos que se vendem como educativos) ou simples menções terão a grana podada sem dó, e a verificação será via algoritmos que analisará título, thumbnail, descrição, tags, vídeo e áudio. Logo, o vídeo que conta com peitos ou bundas na capa, utiliza palavras sexuais na chamada ou nas tags perderá a monetização automaticamente e sem direito à apelação.

As novas regras também são automáticas para vídeos que contenham violência gratuita ou gráfica pesada, só que isso também inclui gameplays: os YouTubers gamers que produzem obras baseadas nas franquias Grand Theft Auto, Call of Duty, Battlefield, Outlast e outros têm grandes chances de perder grana, e embora isso não seja 100% garantido (haverá uma avaliação individual) o pau já está cantando, vários YouTubers estão fazendo muito menos dinheiro e o entendimento do YouTube é que violência virtual é violência do mesmo jeito, logo sem direito à monetização.

Mais: vídeos que fazem apologia a drogas, mesmo lícitas como cigarro e álcool também serão desmonetizados. De cara isso vai afetar grandes canais que ganham dinheiro fazendo degustações de bebidas, desafios etílicos e outras coisas dentro dessa categoria. O YouTube decidiu que não vai mais apoiar conteúdo que lide com dependência química, mesmo de substâncias legalizadas e controladas. Vídeos onde o autor incentiva o consumo, mesmo que ele não apareça bebendo serão entendidos como apologia e cairão na malha fina, sem dó.

Por fim, canais que costumam subir vídeos em que o autor adora falar 53.483 palavrões por minuto e num tom que beira à agressão física também serão desmonetizados, mas aqui cabe a questão do contexto. O vídeo será avaliado manualmente e caso a palavra de baixo calão esteja inserida numa construção de frase que faça sentido, sem ser agressiva nada acontecerá; por outro lado isso vai machucar e feio YouTubers que só sabem se expressar xingando a torto e a direito, esses verão a grana escoar pelo ralo em ritmo alucinante.

Em suma, o YouTube vai passar a promover canais que contenham conteúdo original e de qualidade, como o Aviões e Músicas, o Micro Sobrevivência e tantos outros que não precisam apelar e trazem entretenimento para os espectadores. Esses continuarão a receber campanhas e o que é melhor, poderão inclusive fazer mais dinheiro; produtoras independentes também estão seguindo o fluxo e controlando melhor seus associados, como é o caso da Disney que agora exerce total controle sobre a Maker Studios e podou centenas de canais que não seguiam sua cartilha.

E sobre isso, o YouTube vai disponibilizar uma ferramenta aos anunciantes que permitirá que eles próprios filtrem os vídeos e canais que não querem ligados a seus produtos, o que pode no fim das contas afetar vídeos com temáticas não discutidas aqui; embora não sejam o alvo das diretrizes, eu diria que vídeos de nuteleiros em geral correm sério risco de também perderem campanhas, por parte dos parceiros que não querem ver seus produtos ligados a tais materiais.

No fim, as regras do YouTube deixam bem claro que só vão permanecer financeiramente viáveis os canais que se adequarem às regras; os demais poderão continuar a fazer o que desejarem mas cientes de que deixarão de lucrar com isso.

Fonte: The Verge.

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