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Sprint — uma das soluções mais desesperadas da Guerra Fria

Situações desesperadas exigem soluções desesperadas e nada foi mais desesperado do que os sistemas de defesa na Guerra Fria, quando os mísseis nucleares eram combatidos com… mísseis nucleares.

6 anos atrás

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A Guerra Fria deixou o mundo várias vezes à beira da destruição. As crianças que ficam com medinho dos testes de mísseis do Grande Líder na Melhor Coréia não têm idéia do que foi assistir O Dia Seguinte sabendo que era muito mais um documentário futuro do que um filme de ficção.

A idéia de mísseis balísticos intercontinentais despejando múltiplas ogivas multimegaton sobre as maiores cidades americanas/russas gerou várias soluções desesperadas, e talvez a maior delas seja o sistema de defesa nuclear que usava… armas nucleares.

É a mais extrema tentativa de combater fogo com fogo. Digamos assim: é muito mais fácil matar uma mosca com um mata-mosca de 1 metro quadrado do que com um do tamanho de uma mosca.

E esse era o problema: é muito complicado atingir um ICBM, é o equivalente a acertar uma bala com outra bala, mas as balas estão se movendo várias vezes mais rápido do que balas. Bala.

Russos e americanos perceberam que a solução mais prática era compensar a falta de precisão com uma explosão maior. Por isso até hoje em volta de Moscou e outras cidades russas temos baterias deste brinquedo aqui:

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É o ABM-3 Gorgon, ele leva uma ogiva de 10 quilotons de encontro ao veículo de reentrada inimigo. É basicamente uma Hiroshima explodindo sobre a cidade, tentando evitar uma explosão bem maior.

A versão americana era o Sprint, um míssil que faria qualquer foguete convencional se sentir um segundo piloto da Ferrari.

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O Sprint era o desespero do desespero, seria acionado caso os mísseis antibalísticos de longo alcance não tivessem conseguido destruir as ogivas russas. O inimigo seria rastreado pelo radar a uns 60 km de altitude, se movendo a 8 km/s. Toda a ação do Sprint duraria 15 segundos.

Com um teto de 30 km e distância máxima de 40 km, ele não tinha muita margem de manobra. O que compensava com velocidade. Em 5 segundos ele já estava voando a Mach 10. Sua aceleração era de 100 G, e o primeiro estágio era consumido em 1,2 segundo.

Atingindo mais de 12.250 km/h o Sprint esquentava tanto que usava uma cobertura especial termorresistente, e mesmo assim ficava branco com o calor. Veja o lançamento, e não, a segunda parte não está acelerada. É a velocidade normal dele.


atomcentral — Sprint Missile

Aqui outro teste:


Steve Packard — Sprint Missile

O Sprint acabou sendo abandonado por causa disto:

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O nome é MIRV — Multiple independently targetable reentry vehicle. Em vez de uma ogiva por míssil, chegaram a colocar dez, cada uma com capacidade de manobrar e atingir um alvo diferente. Um único míssil poderia atingir Rio e São Paulo.

E você precisaria de 10 Sprints para se defender de um único míssil, isso assumindo uma eficácia de 100%, o que é impossível, e só um desses chegando ao chão estraga o seu dia.

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No final das contas o que salvou o mundo, fora o Magneto em Cuba, foi algo chamado MAD — Destruição Mútua Assegurada. É mais ou menos como quando você não briga no recreio pois sabe que o inspetor está vendo e os dois vão ser suspensos.

Com cada um dos lados tendo mísseis suficientes para destruir o outro dez vezes, qualquer ataque seria final e devastador para ambos os lados, e o bom-senso prevaleceu, mas por pouco.

Agora sorria e lembre-se que fora Coréia do Norte, Índia e Paquistão em breve vários outros países pequenos e instáveis terão acesso a armas nucleares, sejam próprias, sejam contrabandeadas.

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