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O problema das autoestradas solares

Apresentada como solução viável para gerar energia, a estrada solar instalada na França teve resultados abaixo do esperado, sem nenhuma surpresa pra nós.

5 anos e meio atrás

Supostamente, cobrir uma autoestrada com painéis solares poderia ser uma revolução na geração de energia renovável, e foi essa a promessa implícita quando a tecnologia foi apresentada alguns anos atrás. Este post foi escrito para mostrar que elas custam muito caro, e ainda por cima contam com vários problemas, realmente é difícil entender por qual motivo alguém optaria por esta solução ao invés de uma usina solar, que além de custar muito mais barato, também é muito mais eficiente.

Voltando a estrada solar, dois projetos iniciais chamaram a atenção e funcionaram como cartão de visitas das possibilidades a serem oferecidas pela tecnologia, o da autoestrada de Jinan, na província de Shadong, China, e a estrada do pequeno vilarejo de Tourouvre-au-Perche, que fica na província de Orne, Normandia, França. A estrada francesa tem 1 km de extensão e conta com 2800 painéis Wattway do grupo Colas instalados.

Ex-Ministra da Ecologia da França, Ségolène Royal na inaguração da estrada solar da Normandia.

A rodovia foi inaugurada com pompa e circunstância pela então ministra da ecologia da França, Ségolène Royal, que deixou o cargo ano passado, e que ilustra a foto deste post. A proposta era que o uso da estrada solar francesa durante os seus dois primeiros anos (com média de 2000 carros por dia) fosse avaliado ao final do período para ver se ela seria capaz de prover a energia necessária para a pequena vila, que tem apenas 3400 habitantes, o que como não foi exatamente o caso.

Os resultados da experiência rodoviária solar na Normandia estão sendo divulgados ao longo do tempo, e mostram que praticamente dois anos depois, a quantidade de energia gerada continua a ser bem decepcionante, ainda que isso já fosse esperado pelos mais céticos. Ao invés dos 790 kWh por dia prometidos, a estrada gerou em média 409 kWh/dia durante 2017. Vale lembrar que a ex-Ministra Royal cometeu um ato falho no dia da apresentação e disse que o valor a ser produzido por dia seria de 17.963 kWh, muito além dos prometidos (e não entregues até hoje) 790 kWh/dia, como mostrou o Le Monde.

O caso reforça com um exemplo prático alguns dos vários problemas com as autoestradas solares, a começar pela tecnologia de painéis solares disponível hoje em dia, que só funciona de forma adequada se os painéis estiverem voltados para a luz do Sol, o que não acontece em uma estrada plana, e certamente os painéis em uma estrada vão ter muito mais períodos de sombra que em uma usina solar.

A outra experiência famosa com estradas solares é a de Jinan, na província de Shadong, China, que tem 2 km de extensão e pode não só transferir a energia diretamente para a rede elétrica, mas também recarregar carros elétricos compatíveis que estejam circulando sobre ela. Os chineses pretendem continuar investindo para tentar baratear a tecnologia.

O alto custo por trás de equipar cada metro de uma estrada com painéis solares acaba sendo alto para o retorno de energia que uma estrada assim pode produzir. A estrada francesa custou 5 milhões de Euros, e na estrada de Jinan, o valor chegou a R$ 8,5 milhões, segundo o TB.

Além da citada questão do ângulo e do custo, com o tempo, assim como as outras, as estradas solares também acabam ficando cobertas de poeira e sujeira, o que todo mundo que já leu Perdido em Marte (ou assistiu ao filme com o Matt Damon) sabe que é uma grande roubada em se tratando de painéis solares. Por falar em roubada, a rodovia solar chinesa não escapou da ação dos ladrões, que roubaram uma fatia de painéis solares alguns dias após a sua inauguração, o que aliás nos dá uma noção perfeita do que aconteceria caso tentassem instalar uma estrada solar no Brasil.

Nós aqui do MB nada temos contra o uso de painéis nos mais variados lugares, muito pelo contrário, apenas acho que uma estrada não é o lugar ideal para isso, nem dá para encarar qualquer coisa relacionada a energia solar como uma solução inquestionável, já que ainda existem problemas a serem resolvidos com a tecnologia, isso sem falar nos pobres pássaros que se arriscam a voar em cima de uma usina solar.

Recomendamos também os vídeos de Dave Jones do Eeevblog sobre estradas com painéis solares, especialmente este, que tem um comparativo com todos os números e contas por trás dos motivos que fazem isto uma grande furada em relação ao custo de uma usina solar tradicional.

Na Índia, que tem um sistema ferroviário que cruza o país, foi instalado um projeto de painéis solares no teto dos trens. A coisa parece ter dado certo, tanto que a South Western Railway (SWR) colocou recentemente painéis solares em 19 prédios, incluindo escritórios, estações e oficinas de reparo de trens. Isso e as telhas solares e o Powerwall da Tesla fazem muito mais sentido do que em uma estrada, convenhamos.

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