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ITA vai lançar um satélite com um foguete da SpaceX

Segunda-Feira A SpaceX lançará um monte de satélites de uma vez, incluindo o ITASAT-1, do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, mas nem tudo são flores nessa boa notícia...

5 anos atrás

[ATUALIZAÇÃO - 18/11] Como o Brasil é essencialmente zicado e contaminamos tudo com nosso azar, o lançamento planejado para Segunda-Feira dia 19 foi adiado, ainda sem nova data. Have a nice day.

A SpaceX está trabalhando como nunca, se tudo der certo segunda-feira (19) conseguirão o feito de lançar dois foguetes em quatro dias, e dessa vez um passageiro é brasileiro. Não, não é o Pontes, é o ITASAT-1.

Precisamente às 16h32 no horário de Brasília será lançado da Base Aérea de Vandenberg, na Califórnia um foguete Falcon 9 em uma missão que está sendo chamada informalmente de SmallSat Express.

Contratada pela Spaceflight Inc, a SpaceX colocará o segundo estágio em uma órbita polar heliossíncrona, um tipo de órbita onde o satélite acompanha a posição do Sol, se movendo aproximadamente um grau por dia, com isso ele passa sobre o mesmo ponto da Terra sempre no mesmo horário solar aparente, o que é uma forma de dizer que as condições de iluminação são sempre iguais, isso é ótimo pra imagens de monitoramento ambiental, por exemplo.

A missão, formalmente chamada de spaceflight SSO-A, é diferente dos lançamentos normais de cubesats. Normalmente você pega carona (pagando, claro, a indústria espacial também acredita na regra número 1 da carona: Gas, Ass, or Grass) em um voo maior, e depois que o satélite principal é liberado, os cubesats são soltos.

O inconveniente é que você está à mercê da agenda do "dono" do foguete, já o que a Spaceflight fez com que esse voo fosse comparado a um lançamento inteiro, podendo escolher data e órbita.  A compra foi inclusive por um preço camarada, afinal é a primeira vez que um primeiro estágio será lançado pela terceira vez, então dá para chorar na dolorosa. Esse desconto foi repassado para um monte de clientes. Quantos?

Nada menos que 35 clientes em 17 países num total de 64 satélites, entre picosats, nano-sats e mini-sats:

Você, como bom observador, deve ter reparado que há uma bandeirinha do Brasil ali, mas não se preocupe, ao contrário da Estação Espacial Internacional, essa não vai ser retirada, a gente pagou direitinho o carnê e garantimos nosso espaço na missão.

Quanto pagamos? Bem, o ITASAT-1 é um Cubesat de 6 unidades, com peso de 6 quilos, segundo a tabela da Spaceflight isso dá uns US$ 545 mil (ou mais ou menos R$ 2 milhões). Como há descontos educacionais, deve ter sido bem menos, mas afinal de contas que diabos é o ITASAT-1?

É isto aqui:

Um projeto do ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITASAT-1 tem dimensões de 100 x 226,3 x 340,5 mm e leva vários experimentos, incluindo:

  • Um o transponder de coleta de dados (DCS), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em parceria com o Centro Regional do Nordeste (CRN)
  • o GPS Orion, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o IAE
  • Uma placa de sensores para medidas de caracterização do campo magnético terrestre, desenvolvida pela Universidade de Santa Maria (RS)

O projeto vem desde 2005 e em 2009 já havia envolvido 32 alunos de graduação, 23 de mestrado e 5 de doutorado de várias universidades espalhadas pelo Brasil. Integrar os sistemas do ITASAT-1, aprender como ele funciona e escrever o software de controle para gerenciar os componentes irá gerar um know-how inestimável para todos os envolvidos.

O ITASAT é até bem sofisticado, com vida projetada de um ano, rodas de reação para posicionamento preciso e controle de atitude, sua câmera de 4 megapixels conseguirá fazer fotos com resolução de 80 metros por pixel, ele tem medidores de campo magnético e outros sensores, que farão parte do teste de uma unidade de integração de telemetria. Em solo a estação de controle instalada no próprio ITA cuidará do recebimento de dados e controle do satélite.

Se você está em modo ufanista, pare de ler aqui.

Agora a parte que todo mundo estava esperando, afinal isso aqui é Brasil e nada espacial pode dar certo neste país. Primeiro, o site do projeto está basicamente abandonado e com um layout vindo direto de 1998. Até estranhei a falta do gif "EM CONSTRUÇÃO".

Segundo, o próprio ITA parece não dar muita bola pro ITASAT. Neste momento não há nada sobre ele na home do Instituto. Presença em redes sociais? Nem na zoeira, o Ita da Depressão não atualiza desde 2014, não há um perfil oficial no Twitter e no Facebook deles há UM post subido ontem falando do satélite, fora esse voltei até Setembro de 2017 e não achei nenhum. Página do ITASAT-1? última atualização, Abril de 2017.

Quanto ao ITASAT, bem, a história é interessante. O projeto começou em 2005, e se você acha que 13 anos para construir e lançar um Cubesat é muito tempo, você está certo. A SpaceX foi fundada em 2002 e atingiu órbita pela primeira vez em 2008 com o Falcon 1, mas há uma explicação pro ITASAT ter uma gestação tão prolongada.

Ele originalmente era um satélite muito mais ambicioso, pesava entre 80 e 100 kg, seria desenvolvido do zero no país, um projeto conjunto entre o ITA, o INPE e a Agência Espacial Brasileira.

O que ninguém esperava é que fosse tão difícil assim fazer um satélite do zero. OK, qualquer um poderia ter contado isso, mas o resultado é que de acordo com o -respira fundo- Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Espacial -conseguiu de um fôlego só?- a Agência Espacial Brasileira decidiu em 2014 que não haveria condição de terminar o projeto como estava planejado.

Depois de 9 anos e R$ 15 milhões investidos, desistiram de construir o satélite de 100 kg, reduziram as expectativas em uma ordem de magnitude (para 10 kg, ou mais precisamente 6 kg) e focaram o desenvolvimento em software e integração.

O ITASAT-1 passaria a ser montado com componentes off the shelf, ou seja, comprados no mercado já prontos para você montar seu próprio Cubesat, e integrar com seus experimentos. OK, é algo normal, todo mundo usa isso, mas em geral são países que já possuem o know-how de construção de satélites, então podem se focar na parte científica da coisa.

No nosso caso a AEB, o ITA, sei lá mais quem enterrou R$ 15 milhões para não aprender a construir um satélite, e para não ficar muito feio, gastaram mais R$ 1,7 milhão para comprar um kit pronto, basicamente. Todas as peças você encontra na -não estou zoando- Cubesatshop.com. Alguns dos experimentos planejados foram integrados ao sistema já pronto, que roda o FreeRTOS como sistema operacional e se comunica internamente com os módulos através do CSP - Cubesat Space Protocol.

Entre outros componentes que não conseguimos desenvolver aqui, está a estrutura do satélite. Eles acabaram adquirindo uma estrutura modular pronta, criada por uma empresa holandesa chamada ISIS. No site do projeto no ITA explicam que planejam futuramente produzir no Brasil a peça, mas não dessa vez.

A peça? Esta aqui. Isso mesmo. Repetindo o fiasco da Estação Espacial Internacional, mais uma vez o Brasil passa vergonha por ser incapaz de construir uma estante de alumínio. Deja vu much?

Ah sim, o lançamento deveria ter sido em 2015, mas o que são dois anos pra quem nunca saiu do lugar?

Desejamos sinceramente boa sorte ao pessoal que tem experimentos no ITASAT-1, que a zica, a cabeça de burro quântica que existe debaixo de tudo que é ciência espacial neste país dê uma folga, e principalmente não passe nenhuma uruca pro Falcon 9 ou os outros satélites.

E boa sorte também pro pessoal que está nessa desde 2005, ao menos não viram o projeto ser 100% cancelado, já é alguma coisa.

Fontes:

 

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