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Ladrão usa Content ID do YouTube pra ficar com lucros de vídeo com 47 milhões de views

Sujeito usou a ferramenta Content ID do YouTube pra reivindicar os direitos autorais e ficar com lucro de um vídeo com 47 milhões de views

5 anos atrás

O Content ID, sistema de proteção de direitos autorais do YouTube é é uma piada, e de péssimo gosto. Ele parece que foi criado para não funcionar, como se fosse uma empresa estatal brasileira nos anos 70. Um exemplo claro disto é o caso de Christian Büttner, dono do canal The Fat Rat, que gravou um vídeo com uma música autoral (The Calling) e alcançou 47 milhões de views, mas teve sua propriedade reivindicada por um usuário bastante suspeito, que nunca tinha postado nenhum vídeo, e que inclusive estava usando um email de contato falso.

Content ID do YouTube usado por ladrão para ficar com os direitos autorais de um vídeo de uma música original com mais de 47 milhões de views

A partir daí, o meliante passou a receber todo o lucro de publicidade do vídeo da música, e se levarmos em conta o altíssimo número de views, certamente não era uma quantia a ser desconsiderada. Mas como isso pode ter acontecido? Quem pode usar o Content ID? Segundo o YouTube, só donos de direitos autorais que atendam critérios específicos, mas na prática, a história não é bem assim, e a ferramenta acaba sendo usada e abusada por qualquer um, o que inevitavelmente gera distorções absurdas, como a do canal de Büttner.

Não creio que vá adiantar alguma coisa, mas Büttner criou uma petição online que já tem mais de 100 mil assinaturas para que o YouTube conserte seu sistema de copyright.  O pior é que ele está certo, a ferramenta está claramente quebrada. Aliás, está não, sempre esteve.

A verdade é que desde que foi criado mais de 11 anos atrás, o Content ID sempre teve problemas, seja com covers de música, com gameplays ou com trechos ou trailers de filmes e séries. Originalmente, o Content ID do YouTube era uma forma de tentar apaziguar as grandes gravadoras, naturalmente incomodadas, já que o site pouco a pouco ia tomando o lugar delas.

A intenção era que a ferramenta fosse usada pelo departamento jurídico das empresas detentoras de direitos autorais, mas hoje em dia, está aberta a qualquer malandro e aventureiro de ocasião. Já aconteceu até mesmo um caso inacreditável, de um vídeo que foi notificado pelo uso de silêncio. Pois é, é isso mesmo que você leu.

Mesmo com a vontade do seu fundador, que queria afrouxar a política de copyright, e depois do YouTube fazer uma promessa de que iria proteger os usuários e criadores de conteúdo de abusos e distorções, infelizmente, acabou ficando tudo só no discurso mesmo. 

Que o Content ID do YouTube não funciona, já sabemos faz muito tempo, mas se o YouTube não fizer nada a respeito, infelizmente serão cada vez mais comuns os casos de pessoas ou até empresas com intenções nefastas querendo roubar os direitos e principalmente a monetização de vídeos originais publicados por criadores de conteúdo sérios.

Recentemente o YouTube criou uma ferramenta que avisa os usuários se um vídeo deles foi copiado, e dá algumas opções, como pegar a monetização pra si. Detalhe, eles consideram como vídeo original o primeiro a ser subido para a plataforma, e não o primeiro a ter sido postado na internet, assim quem usa outro serviço de vídeos como principal acaba correndo riscos.

Se me permitem um parágrafo pessoal, quando critico o Content ID, falo por experiência própria, já que meu canal original no YouTube foi apagado mais de 5 anos atrás por conta de uma empresa bem duvidosa, que dizia ter os direitos das músicas da banda Supertramp, e olha que eu nunca tive fins lucrativos com o canal, estava tudo lá aberto para quem quisesse reivindicar.

Eles não queriam monetizar o meu vídeo, só tirar o meu canal do ar mesmo. Missão cumprida graças ao sistema do YouTube/Google, e eu simplesmente perdi o canal após o terceiro strike, tudo por cantar covers de uma banda que eu só queria homenagear. Não tenho mágoas com a banda, afinal sei que muitas vezes os próprios artistas se posicionam a favor de youtubers que tenham usado suas músicas colocando os créditos, mas que acabaram sendo processados por gravadoras.

Até aqui estamos falando de pequenos estelionatários ou empresas duvidosas, mas a verdade é que o Content ID também permite barbaridades feitas por grandes empresas, que muitas vezes podem não ter a melhor das intenções, vide o que aconteceu na semana passada com nosso amigo Felipe Castanhari, que teve a monetização do seu vídeo sobre o Egito transferida para a BBC por conta dos direitos autorais de um trecho de 15 segundos. Ele tirou o vídeo do ar e subiu novamente sem o trecho, mas ficou bem chateado, o que o levou a gravar um vídeo sobre o tema.

Quem acha que esse foi um caso isolado está muito enganado. Castanhari cita vários vídeos do seu canal que tiveram sua monetização reivindicada por terceiros, geralmente empresas gigantes, além dos vídeos históricos, que o YT considera que "violam as regras da comunidade".  

O youtuber diz que "já se acostumou a não ganhar pela maior parte do conteúdo que produz", e deixa claro que a sua maior reclamação é sobre a questão de perda de alcance, que acontece quando um vídeo é marcado com direitos autorais. Quando um criador posta um vídeo no YouTube, que logo depois é sinalizado por quebra de direitos autorais, isso implica que ele simplesmente deixe de ser mostrado pela plataforma e caia no ostracismo. 

No mesmo vídeo, Castanhari também fala sobre a nova lei de direitos autorais aprovada pelo Parlamento da União Européia, especialmente temível Artigo 13, que pode acabar mudando o YouTube e a internet como a conhecemos, ou então que o YT seja completamente bloqueado por lá. 

Este tipo de mentalidade infelizmente está na moda, então temo que essa legislação draconiana não só passe na Europa, mas também venha dar as caras em outras partes do mundo, incluindo aqui no Brasil. Se já tá complicado produzir conteúdo pro YouTube com o Content ID, imagina se tivermos que lidar com uma lei destas? Vade retro

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