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Segundo Tim Cook, programa de troca de baterias prejudicou as vendas da Apple

CEO da Apple diz que o público "abusou" do programa de trocas de baterias do iPhone, mas "esquece" de mencionar a causa: a obsolescência programada

5 anos atrás

Nesta quarta-feira (2), o CEO da Apple Tim Cook publicou uma carta endereçada aos investidores, onde reviu as expectativas de receita da empresa para o ano de 2019. Originalmente, a maçã havia projetado um valor entre US$ 89 bilhões e US$ 93 bilhões, mas agora, baixou a bola e espera arrecadar em torno de US$ 84 bilhões.

iFixit / desmonte do iPhone 7, com remoção da bateria interna / Apple

Cook lista uma série de motivos para a queda na arrecadação, e todos eles giram em torno do iPhone, que hoje é sua âncora: se ele vende pouco, toda a companhia como um todo vai mal, e é exatamente isso o que está acontecendo. Em geral, o executivo percebe que as pessoas não estão mais atualizando seus iPhones constantemente ou preferem produtos de concorrentes, em especial da China.

Ano após ano, mais e melhores aparelhos vindos do País do Meio ganham o mercado, principalmente com novas tecnologias (como os da Vivo e Doogee) e preços muito mais interessantes: vale lembrar que a Huawei é hoje a segunda maior fabricante de celulares, tendo despachado 200 milhões de unidades em todo o mundo, incluindo os da linha Honor.

Outros motivos foram apontados por Cook: por exemplo, a estratégia de vender primeiro os mais caros iPhone XS e XS Max, e só então liberar o mais em conta iPhone XR (que possui uma relação custo/benefício muito melhor), mas a que chamou muito a atenção do público foi o seguinte trecho da carta (grifos nossos):

"(...) Nós acreditamos que há outros fatores que causaram impacto no desempenho do iPhone, incluindo consumidores se adaptando a um cenário com menos subsídios das operadoras, aumento dos preços devido à disparidade em relação ao dólar, e alguns clientes que se aproveitaram do programa de troca de baterias do iPhone, por preços reduzidos."

Para Tim Cook, o programa que ofereceu a troca de baterias de iPhones por valores mais em conta (que foi encerrado em 31/12/2018) foi "abusado" pelos clientes, que, vejam só que absurdo, preferiram separar seus celulares do que comprar uma unidade nova a cada ano.

O que o executivo convenientemente não menciona, é que tal problema foi causado pela própria Apple: o recurso que reduzia a performance de iPhones mais antigos, ao constatar que a bateria não estava mais em sua plena forma foi corretamente acusado de ser uma estratégia de obsolescência programada, de modo a depreciar modelos defasados (nota: todo iPhone que não for o último modelo lançado) e forçar o usuário a culpar o aparelho como um todo, levando-o a trocar de iPhone todo ano.

A contragosto, a Apple se viu forçada a liberar um recurso que permite ao usuário utilizar o iPhone com performance total, embora Cook na época tenha batido na tecla de que "nada de errado foi feito", e a visão da maçã é de entregar sempre a melhor experiência possível. Para a companhia, o usuário deveria optar por ou usar um aparelho capado, mas livre de erros, ou abrir a carteira e trocar a bateria (original e preferencialmente, o iPhone inteiro).

Na carta, Cook dá a entender que o programa de troca de baterias de iPhones antigos por valores mais em conta (R$ 149 no Brasil, com o valor reajustado para R$ 329 em 01/01/2019) foi um erro, pois permitiu que os usuários optassem por manter seus iPhones por mais tempo, ao invés de substituí-lo pelos modelos de 2018; dizer que "alguns clientes abusaram do programa" chega a ser infantil, pois quem vai ficar trocando baterias de sacanagem?

Claro, a declaração de Cook pegou muito mal:

Não obstante, os modelos de 2017 também utilizam o recurso de depreciação; embora não tenha aprendido a lição, Cupertino hoje é um pouquinho mais transparente, e informa como desligar o recurso e utilizar o celular a 100%. Claro que a página fica bem escondida, afinal, a Apple é a Apple.

De qualquer forma, a carta de Tim Cook aos investidores teve resultados imediatos: minutos após sua publicação, as ações da Apple na NASDAQ despencaram 7%, com os papéis sendo negociados a US$ 146; no momento, a situação foi normalizada e o preço voltou para o patamar anterior, em torno de US$ 158.

A Apple lembra que tais números são especulações, e que apresentará resultados concretos na conferência para o primeiro trimestre de 2019, cujos resultados serão divulgados no dia 29 de janeiro, às 20 horas (horário brasileiro de verão).

Com informações: The Verge, Digital Trends.

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