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Uma Proposta Modesta: O Governo Bolsonaro deveria mandar Israel pro espaço

Qual a saída para a Base de Alcântara? Neste texto uma modesta proposta estrategicamente superior a qualquer parceria com os Estados Unidos.

5 anos atrás

O Brasil sofreu uma guinada ideológica com a última eleição presidencial, a estratégia agora parece ser aproximar o país do ocidente capitalista como EUA, Inglaterra, França, em detrimento à nossa posição no BRICS e influência na África. Por um lado faz sentido, trabalhar pra pobre é pedir esmola pra dois, mas quem somos nós na fila do pão pra tentar um diálogo de igualdade com EUA e China? Há uma terceira via que pode ser estrategicamente essencial para os envolvidos e nos garantir prestígio e dinheiro: Israel.

O pequeno país do Oriente Médio tem uma área que varia de acordo com quem você pergunte, alguns dizem que é ou deveria ser zero, outros mais diplomáticos citam algo entre 20000Km² e 21000Km², mais ou menos o mesmo tamanho de Sergipe, com 8 milhões de habitantes.

Uma velha piada diz que Jeov- (ops, quase falei Jeová-ARRGGHHHHH) em Sua sabedoria guiou o povo hebreu para a Terra Prometida, o único lugar do Oriente Médio onde não havia petróleo, mas hoje em dia Israel tem outro problema por causa da suposta escolha divina: Israel é um dos piores lugares do mundo para se lançar um satélite.

Espaço É Duro

Quase tanto quanto achar um bom tradutor. Anyway, chegar no espaço é fácil, a trosoba do Jeff Bezos sobe até 100Km, ultrapassa a linha de Karman e tecnicamente está no espaço, mas assim que atinge o ápice da trajetória o foguete cai como uma pedra. Para FICAR no espaço, atingir velocidade orbital você precisa de muito, muito mais energia. A nave do Bezos para subir a 100Km usa 3% da energia necessária para entrar em órbita.

Para conseguir uma órbita estável é preciso muita velocidade horizontal, a Estação Espacial Internacional orbita a 27580Km/h. Acelerar toneladas de metal e combustível a essa velocidade não é nada fácil, toda ajuda conta e uma das melhores ajudas é que... a Terra gira.

Se você se sentar em um carrossel daqueles de pracinha e girar rapidamente, lançará uma pedra bem mais longe se atirar no sentido de rotação do carrossel, por causa da conservação de momento angular. Da mesma forma se lançarmos um foguete no sentido da rotação da Terra, ganhamos de brinde a velocidade inicial do ponto onde o foguete está.

Como a terra é uma esfera, a velocidade de rotação é menor quanto maior a latitude. No Equador atingimos o máximo, 1670Km por hora, o que é bem considerável. Os americanos perdem bastante velocidade por lançarem da Flórida, a 28 graus de latitude, e Israel perde mais ainda, lançando foguetes da Base Aérea de Palmachim, a 31 graus de latitude. Só que isso não é o pior.

Israel fica num buraco quente cercado de gente que não vai com a cara deles. E essa gente não gosta de coisas que sobem e caem fazendo cabum. Se Israel lançar foguetes em direção ao leste, somente muita boa-vontade fará com que não sejam confundidos com mísseis, e boa-vontade naquela região é mais escassa do que concurso de camiseta molhada. Eu procurei.

Imagine se o pessoal seria compreensivo quando estágios de foguetes israelenses começassem a cair na Arábia Saudita, Jordânia ou Iraque, como caem os foguetes chineses na China:

Na China quando o 1º estágio e os foguetes auxiliares caem na casa de alguém, o sujeito fica calado pois sabe o que é bom pra tosse, mas você consegue imaginar um foguete israelense caindo assim na Jordânia e o mundo não vindo abaixo?

Para evitar que sejam acusados injustamente de bombardear todos os países que costumam bombardear normalmente, Israel acabou optando por lançar seus satélites em direção oeste, em órbita retrógrada. Ou seja: Eles anulam todo o benefício da rotação da Terra, precisam arrancar cada metro por segundo de aceleração do foguete, sem ajuda de ninguém, de nada.

Isso causa um impacto de uns 30% de performance. Ou seja: Para conseguir a mesma capacidade orbital de outros países Israel levaria anos e gastaria uma fortuna. Por sorte eles tinham as duas coisas.

JEWS IN SPACE!

Em 1960 Israel criou o Comitê Nacional de Pesquisa Espacial, para integrar as pesquisas nas várias universidades e institutos. O foco inicial era, claro, a produção de mísseis, mas era evidente que a longo prazo iriam transformar espadas e arados, até por uma questão de inteligência.

As guerras do futuro não seriam vencidas com mísseis, mas com informação, e Israel dependia de imagens de satélite fornecidas pelos Estados Unidos que restringia a disponibilidade da informação, degradava a qualidade das imagens e não eram exatamente ágeis em atender aos pedidos de novas fotos.

Em 1983 o Comitê foi transformado na Agência Espacial Israelense, começou a ser desenvolvido um lançador orbital e em 1988 voou pela primeira vez o Shavit:

Já foram lançados dez deles, o último em 2016. É um foguete de combustível sólido de 3 estágios, com um quarto estágio opcional de combustível líquido. Mesmo lançando em órbita retrógrada, ele consegue colocar cargas de 800Kg em órbita baixa. Para cargas maiores Israel depende de lançadores de outros países, como a Índia.

Não é uma situação ideal, dada a peculiar posição de Israel, relações meramente comerciais podem ser canceladas por pressão popular, e mesmo no caso dos EUA mesmo assim não dá pra confiarem 100%. Durante a Guerra dos 6 Dias Israel literalmente implorou por interferência dos EUA, e foram ignorados.

Enquanto Isso na Banânia...

A história do programa espacial brasileiro foi mais que documentada no Meiobit, do acordo com a Ucrânia que comeu US$1 bilhão para produzir um foguete imaginário, à Agência Espacial que tinha um datilógrafo em seus quadros. Também podemos mencionar o ridículo caso do satélite que subiu sem ter software para processar os dados, e do calote que demos na Estação Espacial Internacional, e tem também os acordos com EUA e Ucrânia para utilização da Base de Lançamento de Alcântara, que é basicamente um terreno batido com alguns prédios e zero infraestrutura para foguetes de verdade. Aqui o cancelado VLS, e o nosso VAB (Vehicle Assembly Building), do lado de um Falcon 9:

Alcântara não tem infraestrutura para lançar um Falcon 9 ou um Ariane ou um Soyuz. Teriam que construir toda uma infra portuária e de estradas, coisa que não sai nada barata, e nem chegamos nas plataformas de lançamento.

De novo estão aparecendo com esse papo de "acordo com os EUA", da última vez marcaram uma visita mas o pessoal da SpaceX cancelou por causa do lançamento do Falcon Heavy. Sete mil funcionários e NENHUM poderia vir? Essa é a realidade, Alcântara não interessa a ninguém grande, o custo é muito alto, interessa sim a empresas pequenas como a Rocket Lab e várias outras que estão pipocando pelo mundo, lançando microssatélites e que se beneficiariam com o impulso extra de um lançamento próximo ao Equador.

As plataformas de lançamento em Cabo Canaveral. Em vermelho as que estão em uso. Acha mesmo que construir uma base no Brasil é mais barato que reativar uma das outras?

Uma Proposta Nada Indecente...

O Brasil tem necessidade de know-how e dinheiro para reativar e aprimorar a base de lançamento de Alcântara. Israel por sua vez tem o dinheiro para viabilizar isso. Com pouco investimento a base seria suficiente para lançamento dos foguetes Shavit, eles teriam retorno imediato do investimento. A distância tornaria a base praticamente imune a espiões e sabotadores inimigos.

O Shavit poderia perfeitamente ser transportado em um avião, ele foi projetado para isso, um plano antigo chegou a investigar a possibilidade do foguete ser lançado de um Hércules C-130 em vôo.

Israel não tem problemas em dividir tecnologia, o Shavit, mais avançado do que tudo que já produzimos aqui foi licenciado para a África do Sul, empresas como a Avibras absorveriam a tecnologia tranquilamente e produziriam Shavits aos montes, barateando mais ainda o custo do lançamento.

Com o benefício geográfico o Shavit conseguiria lançar satélites de uma tonelada, e hoje em dia com a eletrônica moderna um satélite com essa massa consegue fazer muita coisa, vide o GOCE, o satélite europeu com motor iônico que mapeou as anomalias gravitacionais terrestres.

Uma parceria Brasil-Israel na Base de Alcântara traria lucros quase desde o Dia Zero, e mais do que as parecerias com as empresas anãs americanas ou com a NASA, haveria um interesse estratégico mútuo em ampliar a base e construir maiores e menores foguetes.

Teríamos muito mais autonomia de negociação, um parceiro de igual para igual com um comprometimento de longo prazo e não seria mal-visto pelos Estados Unidos, que provavelmente acabariam financiando parte do investimento, através daquelas verbas polêmicas que eles rubricam pra Israel.

Agora, claro, a parte difícil é fazer a idéia chegar ao Bolsonaro, alguém consegue resumir o texto em uma mensagem de WhatsApp?

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