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Review: Titãs — relaxa que dói menos (com spoilers)

Titãs tinha tudo pra dar errado, é violenta, séria e dark, mas mesmo em tempos de overdose de Nolan, a série conseguiu ser excelente, se você passar do choque inicial.

5 anos atrás

Sendo honesto eu ODIEI Titãs, nem queria fazer review da série. O primeiro episódio foi horrendo, abominável, dark em todos os sentidos, fiquei 15 dias sem nem mencionar, nota zero. Aí vi que o errado era eu.

A impressão que tive era que Titãs parecia uma versão filmada do episódio dos Teen Titans Go quando eles desistiram de ser um bando de alegres retardados e se tornaram angustiados e dramáticos, sérios mesmo.

Bolas, os Titãs não são sérios, são um gibi divertido que fala de trair seus maiores amigos, um sujeito que vive mutilado em um corpo robótico, uma filha de um demônio interdimensional que tem que lutar todo o tempo para não se tornar uma agente do mal, um jovem que viu os pais morrerem e teve sua infância roubada por um psicopata que o colocou para bater em criminosos...

Ah claro, e o lindo e inocente romance em O Contrato de Judas entre Tara Markov, a Terra, com meros 14 anos e o maldito Exterminador.

Quando foi anunciada uma série dos Jovens Titãs imaginei algo na linha televisiva da DC, com séries como Flash e Supergirl ou o delicioso Legends of Tomorrow, eu não estava preparado para uma série dark como a que foi apresentada.

O primeiro episódio abre com uma menina que mais tarde descobrimos ser a Ravena tendo um pesadelo onde assiste a morte dos pais de Dick Grayson, caindo de um trapézio sabotado. Ela é uma adolescente que parece saída de um filme de terror dos anos 90, com visual gótico e depressiva a rodo, morando com a mãe religiosa, apresentando manifestações de poderes estranhos, etc.

Nada a ver com a personagem dos quadrinhos, exceto que no mundo real a Teagan Croft tem 14 anos, o sujeito teria que ser pervertido acima da média pra colocar a moça de maiô cavado, tem coisas que funcionam nos gibis, mas não funcionam com atores, e afinal de contas eles são Teen Titans. Não dá pra fazer como Barrados no Baile botando gente de 30 anos pagando de adolescente.

Como eu disse a série pega pesado, a gente acha que a Ravena sofre por ser bulliada na escola, apenas para com menos de 10 minutos de série a mãe tomar um tiro na cabeça, ao vivo e a cores, na frente da menina. Titãs, meu amigo, é punk.

Dick é apresentado trabalhando como detetive na polícia de Detroit, e de noite ele faz dupla-jornada como o Menino-Prodígio, se por menino-prodígio você entender um vigilante sanguinário que raspa o rosto de traficantes em paredes de tijolo. É a cena do "fuck Batman" que tem no trailer, mas essa parte foi omitida para não quebrar o ritmo do massacre, uns 8 bandidos são trucidados num nível que o Frank Castle diria "pegou pesado, brother".

Raven foge depois de atacar o sujeito que matou sua mãe (a dela, não a sua, calma) e vai parar sob proteção do Detetive Grayson, ao mesmo tempo a Estelar aparece, vestida como uma stripper sem-teto (sério, que figurino horrendo) e incinera um sujeito, mas ele era um cara mau.

Mutano também aparece, como um tigre verde que vira humano em uma transformação pior que a de Manimal (pergunte a seus pais).

Esse primeiro episódio é uma coletânea de histórias semi isoladas, sem nenhum momento de alegria, apenas violência e sofrimento, e o segundo episódio não começa melhor, já abre com Rapina, de Rapina e Columba sendo torturado por bandidos que esfaqueiam sua barriga usando uma broca de furadeira. Só que há algo de diferente no episódio.

Robin aparece para pedir que eles tomem conta da Ravena enquanto ele parte em investigações, mas nessa altura a gente percebe algo que se confirma nos próximos capítulos: Titãs é um Road Movie, com os personagens indo de cidade em cidade e encontrando os convidados da semana, mas algo mais inusitado ainda acontece: a história... avança!

A cada episódio sabemos mais e mais sobre a sociedade secreta maligna que quer capturar a Ravena, conhecemos mais sobre a Estelar, que não lembra nada de seu passado, exceto que precisa proteger a Bruxinha que Era Boa, e Rapina e Columba estão vivendo uma crise conjugal. Ah sim, o Robin e a Columba já fizeram o canguru-perneta.

Titãs consegue algo raro, eu diria inédito: ser uma série visceral, crua, que não se desculpa por nada, realista e pé no chão, ao mesmo tempo tendo demônios, alienígenas, transmorfos e super-heróis uniformizados sem ser no estilo fetiche de couro do Bryan Singer.

No episódio em que aparece a Patrulha do Destino vemos que os roteiristas não tiveram problema em ir fundo na mitologia.

O episódio é quase todo passado na Mansão do Dr Caulder, o cientista (louco, alguns diriam) que na versão televisiva criou os heróis, e estão todos lá, a Mulher Elástica, Homem Negativo, o Homem-Robô e até o Mutano. É um episódio que parece feito pelo Tim Burton, há um ar surreal e trágico envolvendo os personagens.

O Dr Caulder, em uma excelente interpretação de Bruno Bichir, consegue ser intimidador mesmo sem ter qualquer poder, e em certo momento domina todos os Titãs, no inevitável confronto entre dois super grupos de heróis que se encontram pela primeira vez. E ainda ganhamos a história de origem do Mutano, e a explicação que ele só se transforma em tigre por causa do orçamento apertado, foi o que deu pra comprar na lojinha do Blender ser o animal que ele mais gosta e seu subconsciente o restringe a isso.

Uma série sem medo

Uma constante em séries da DC era o medo de mencionar os três grandes, Batman, Mulher-Maravilha e o Super-Homem. Demorou até Supergirl efetivamente mostrar o Super-Homem, mesmo assim Batman era fora do esquema, no máximo menções rápidas e veladas às Empresas Wayne.

Titãs não tem esse problema, não só é uma série onde o Batman é mencionado e (spoilers) aparece, como A Mulher-Maravilha é citada nominalmente, junto do Coringa e vários outros personagens, até a Donna Troy, a Moça-Maravilha é a personagem-convidada em um dos episódios (e sim, o Dick pegou também).

E por falar nessa, reparem na mão da moça, no flashback...

Reconheceu? Esse negócio foi atirado nela pelo Dicky Grayson, é nada menos que um birdarang, o batrang do Robin, no mesmo modelo usado no desenho animado dos Jovens Titãs:

Apesar disso, Titãs não é um festival de referências, o foco é na história, não em mostrar todos os personagens e coisas legais que eles conseguem enfiar em um episódio.

As coisas...andam!

Apesar de ser extremamente dark, Titãs não é depressivo e mesmo a Ravena, que não é a coisinha mais alegre da festa, coloca suas necessidades em primeiro lugar, e corre quando tem que correr e briga quanto tem que brigar, ao invés de ficar o tempo todo "oh vida, oh azar...".  Também não há aquela coisa irritante de Lost de empilhar mistérios, as coisas acontecem e são resolvidas, a mitologia da série avança, o grupo vai aos poucos descobrindo o que não sabia antes, sem reviravoltas mirabolantes.

Não economizam tramas também, antes do último episódio a Koriand'r descobre que é uma alienígena, uma stripper sem-teto alienígena, mas uma alienígena. Ravena descobre quem é sua verdadeira mãe e quem é seu pai, no caso Trigon, um demônio de outra dimensão.

Mais do que a história avançar, vemos a formação do super grupo, sem que ninguém tenha planejado ou desejado, são pessoas que acabaram juntas por pura necessidade, e para sobreviver precisam aprender a trabalhar juntos, a lutar juntos e a confiar uns nos outros.

Até o Robin é bom

Ah o Menino-Prodígio, que depois de tantos anos como assistente do cruzado embuçado, perceberam que estava fazendo dupla-jornada, e precisavam passar o manto adiante. Dick Grayson deixou de ser Robin e virou Asa Noturna, mas na série ele vai abandonar o personagem por motivos mais complicados.

Dick percebeu que foi transformado em uma máquina de lutar, Batman o privou de sua infância, e agora ele desconta a raiva disso tudo nos bandidos que enfrenta, usando e abusando de violência. Fica evidente que Dick precisa enterrar Robin para se encontrar, mas enquanto isso quantas fraturas expostas separam um herói de um psicopata sádico?

Conclusão:

Titãs é adulta sem ser chata, é uma série pra quem gosta de quadrinhos, mas não quer uma representação exata deles na tela, quer algo mais maduro, mas não caindo no discurso filosófico ou no cinismo. Ela vai chocar SIM, pois ninguém estava acostumado a uma série de super-heróis com esse nível de violência.

A série definitivamente não é para crianças, se seus filhos adoram Teen Titans Go não os deixe assistir Titãs, serão dias e dias de pesadelos, mas pra quem quer algo diferente das séries tradicionais da Netflix, quem quer uma série que não precisa de 13 capítulos para contar uma história que cabe em 2, Titãs é a série perfeita.

E, se você assistiu só ao trailer ou ao primeiro capítulo e não gostou, assista mais um ou dois. Acredite, ninguém odiou mais essa série do que eu e estou aqui pagando pau pra ela.

Menos pra Estelar vestida de stripper sem-teto, isso é imperdoável. A Anna Diop é um mulherão e merecia coisa melhor.

Cotação:

5/5 Robins Sérios.

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