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Satã no Space Shuttle e as duas fantasmas européias que a NASA mandará para a Lua

5 anos atrás

A missão STS-39, do ônibus espacial Atlantis decolou com cinco astronautas e seis cabeças a bordo. Se isso soa estranhamente macabro pra você, acredite: se torna bem mais macabro, e eu explico:

Tudo em a ver com radiação, aquele negócio formado por partículas (ou ondas, sei lá, fuck you Max Plank seu indeciso) que quando detentoras de muita energia, tendem a desestabilizar os átomos de nosso corpo, causando todo tipo de problema, de pele verde e irritação a câncer e filhos esquisitos.

Nós somos protegidos da maioria da radiação cósmica por nossa atmosfera e pela magnetosfera, mas mesmo em vôos baixos, como a Estação Espacial Internacional, a meros 400Km de altitude (em uma linha reta um fusca chega lá em 4h, 4h30min se parar no Graal) o efeito da radiação ambiente é muito maior do que no solo, e isso precisa ser estudado.

Isso é feito com dosímetros, sensores de radiação vestidos pelos astronautas, mas não é o suficiente para entender como a radiação afeta o interior dos astronautas, e como a maioria deles não gosta da idéia de ser espetado com dosímetros feito um mórmon batendo na porta do Wolverine 7AM de domingo, os cientistas usam torsos artificiais:

Na missão STS-36, que decolou em 28 de Fevereiro de 1990 uma carga foi levada especialmente para estudar os efeitos da radiação cósmica em seres humanos. A carga era... um crânio humano, real, 100% verdadeiro.

Nada substitui o experimento em condições reais, então um crânio doado para a ciência foi preparado com centenas de sensores, para medir como a radiação era atenuada e absorvida pelos ossos. Para facilitar o acesso o crânio foi cortado em 9 camadas, e como os cientistas perceberam que seria macabro DEMAIS um crânio dentro do ônibus espacial, eles criaram uma capa de plástico.

O nome semi-oficial era Cabeça-Fantasma, pois havia sido fornecida pelo Phantom Laboratory, uma empresa especializada em suprimentos médicos, só que o encaixe das fatias era feito por dois pinos compridos que ficavam para fora, parecendo chifres. Imediatamente a tripulação batizou o crânio de Satã.

O crânio funcionou como esperado, mas também teve outros usos. Um astronauta desocupado chamado Mike Mullane entrou em um dos sacos de dormir, colocando os braços e pernas pra fora, e encolhendo a cabeça pra dentro. Dois outros desocupados prenderam com fita adesiva o crânio no alto do saco de dormir, parecia assim que Satã inha um corpo.

Eles flutuaram Mullane até John Casper, aparentemente o único sujeito trabalhando na Atlantis. Compenetrado com seu painel de instrumentos, ele não percebeu quando deixaram o pacote sinistro flutuando atrás dele. Casper quase virou um fantasma (o que seria bem apropriado, aliás) quando se virou e deu de cara com Satã.

Mais tarde o crânio foi instalado no banheiro, e foi usado em várias outras zoeiras, mas a NASA se recusou a divulgar os vídeos, compreensivelmente.

Não é segredo, apesar de pouco divulgado que a NASA faz testes com animais, mas há limites para o que dá pra aprender com uma carcaça de porco, por isso de vez em quando eles acabam usando cadáveres humanos, que sempre serão mais precisos do que bonecos de testes. Só que seria mórbido DEMAIS colocar presuntos em uma nave espacial e lançá-los em órbita, por isso para a primeira missão da nave ORION, vão usar... Torsos Fantasma.

É parte do Matroshka AstroRad Radiation Experiment (MARE), um projeto do Centro Espacial Alemão, eles desenvolveram dois torsos, Helga e Zohar.

Fazendo inveja a Jack o Estripador, cada um dos torsos é composto de 38 fatias de plástico de densidade variada, simulando tecidos moles como órgãos, ossos e cartilagens. São 5600 sensores em cada um, e eles são obviamente femininos.

A escolha tem sua razão: Agora que os cientistas já decidiram quantos absorventes mandar por missão o número de mulheres astronautas vem aumentando, e apesar das pressões da turma que diz que biologia é coisa do passado e que não há diferença entre homens e mulheres, estatisticamente elas são menores do que homens, e por mais suscetíveis a danos por radiação, fora que não é bom irradiar órgãos tipo úteros, sabe-se lá o que vai sair deles depois.

Claro, nos Anos 60 o pessoal da Apollo foi com a cara e a coragem, mas se expuseram a mais de 400x a radiação que receberiam na Terra, e deram sorte de não ter rolado nenhuma tempestade solar no meio da viagem, hoje a NASA é bem mais precavida, por isso esses testes.

As meninas voarão se tudo der certo na segunda missão de testes da Orion EM-1, em Junho de 2020, quando a nave, levada por um foguete SLS voará até a Lua, entrará em órbita por dez dias e depois voltará, num total de 25.5 dias de missão.

A NASA até pensou em fazer essa missão tripulada, mas os tempos de coragem e ousadia já se foram. O que é péssimo também por causa dos custos, o SLS tem um custo de projeto estimado até 2035 de US$35 bilhões, e cada lançamento está estimado custar entre US$1 bilhão e US$2,5 bilhões.

Há um sério risco de Helga e Zohar acabarem voando em um foguete da SpaceX, afinal mesmo um Falcon Heavy dá conta, a Orion pesa 25.8 toneladas e o Falcon Heavy consegue colocar em órbita baixa cargas de até 63.8 toneladas.

Fonte: ESA

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