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Resident Evil 2 (2019) - Review

O terror está de volta em Resident Evil e do jeito que tem que ser: claustrofóbico, desesperador… E morbidamente divertido

5 anos atrás

Não sei se vocês lembram, mas comentei uma vez que amo filmes e literatura de horror, mas quase enfarto com jogos de terror. E adivinha só! Resolvi encarar meus medos com o remake de Resident Evil 2, da Capcom. Se fui bem sucedida ao desespero? Não. Falhei miseravelmente. Mas uma coisa precisa ser dita: no geral, o game entrega aos fãs antigos e aos novos da série um belo presente embrulhado em terror de sobrevivência. Resident Evil 2 está disponível para PS4, Xbox One e PC. Você confere o review, sem spoilers, a seguir.

Tudo novo, mesmo assim nostálgico

Eu não cheguei a fechar o Resident Evil 2 original, de 1998, mas lembro-me de ter avançado bastante. Já o 3 eu fechei, mas a versão dele em japonês para PC (Biohazard 3: Last Escape). Se naquela época, em que tudo era relativamente bem iluminado e colorido, eu já quase morri, dessa vez paguei por todos os meus pecados.

No entanto, fiquei extremamente feliz pela decisão da Capcom em refazer o jogo do zero, atualizando visual, áudio e gameplay para a tecnologia atual. Seria triste se tivessem apenas dado uma polida nas arestas do game de 1998 e nos entregassem uma versão remaster caça-níquel nas coxas. Inclusive, bem que a desenvolvedora poderia fazer um remake dos três primeiros Devil May Cry também (e não aquela edição HD Collection), mas isso é outra história.

No RE2 original, devido às limitações técnicas da época, os sustos vinham mais dos ângulos inesperados da câmera (aquele efeito “câmera de vigilância”) e dos malditos loadings, toda vez que mudava de cenário, seja por uma porta ou escada. Agora, os sustos foram turbinados por toda a atmosfera do ambiente: da limitação de luz, momentos de silêncio (onde só se ouve seus passos) e trilha sonora mais tensa, a “jump scares” escondidos nas sombras.

RESIDENT EVIL 2

Uma dica para ter a melhor experiência possível é jogar com fones de ouvido. Além de aumentar a imersão, é possível detectar com mais clareza se algum zumbi, licker ou mesmo aquele aborto do inferno do Mr. X (odeeeio esse mutante mumificado!) está próximo de você. Inclusive, ouvir é algo realmente importante nesse jogo, especialmente para evitar ser surpreendido, no pior momento possível.

Curiosidade sobre o remake: no Japão, assim como no Ocidente, o game é classificado para o público adulto. Mesmo assim, por lá o jogo teve algumas cenas mais grotescas, pode-se assim dizer, censuradas. É… Realmente não é fácil ser fã de jogos de terror naquele país. Para os japoneses sedentos por tripas, também foi lançada uma “Z Version”, que teoricamente teria toda a violência da edição vendida no Ocidente. O título é para adultos e, mesmo assim, é censurado. Vai entender.

Zumbis... Zumbis everywhere
(Faça cada bala valer a pena!)

Apesar de mortos e putrefatos, os zumbis de RE2 remake estão mais espertinhos do que no game original. Há um senso de pânico generalizado quando se está em um corredor, à meia luz, e aparecem dois na sua frente, mais um atrás, cai um do teto (sim, às vezes eles caem sobre você) e brota outro pela janela.

RESIDENT EVIL 2

Felizmente, eles não correm atrás de você, mas estão bem mais persistentes para alcançá-lo e nem mesmo fechar as portas pelo caminho vai impedi-los de te seguir. É interessante ver como, apesar de se arrastarem, eles se esticam na sua direção para te agarrar, ao passar perto deles.

A dúvida que fica é: matar ou correr? Acredito que vai muito de cada um. No meu primeiro gameplay, com o Leon, eu matei todos os monstros que eram possíveis na delegacia. Isso me deu uma “certa segurança” para ir e voltar várias vezes de um ponto a outro, coletando itens para resolver os puzzles. A desvantagem dessa abordagem, se estiver jogando no modo padrão ou intenso, é a maior dificuldade de achar munição. Os lickers, por exemplo, são devoradores de gente e bala de pistola (melhor usar a shotgun ou granadas, no caso do Leon).

Já com a Claire, tentei economizar o máximo de munição possível (isso foi ótimo mais para frente), mesmo ela tendo uma mini lança granadas linda e pedindo para ser usada! Inclusive, usar a munição incendiária contra os lickers talvez seja a forma mais eficaz de abatê-los. A desvantagem da abordagem “run to the hills” é que, ao precisar revisitar locais para pegar itens, é bem capaz de você ser surpreendido por um zumbi, que não lidou bem com a sua rejeição anterior, bem atrás da porta.

RESIDENT EVIL 2

Independentemente se vai dar o tiro de misericórdia nos zumbis ou só fugir, sempre que encontrar umas madeirinhas enroladas em fita amarela, pegue-as! Elas são usadas para montar barricadas nas janelas. Isso evita que mais mortos-vivos entrem na delegacia. Já basta o que você vai encarar normalmente. Não há a necessidade de reforço externo.

Por falar em tiro de misericórdia, esqueça o que viu na série The Walking Dead. Apesar de mirar na cabeça ainda ser o melhor caminho para matar um zumbi, normalmente você precisará de alguns tiros até ele cair realmente. Dá para despedaçá-lo também, dependendo da arma.

Dica: não sei que caminho você vai escolher, mas mate os lickers sempre que puder, especialmente quando tiver apenas um solitário. Você vai me agradecer depois. Os bichinhos são cegos como uma porta, e não vão te achar se você não fizer barulho. O negócio é lembrar disso enquanto foge do Tirano.

A propósito, não existe mini mapa neste jogo. Esqueça os games de mundo aberto aqui. Consultar, manualmente, seu mapa de bolso vai te ajudar a não ficar andando em círculos. É possível desbloquear as áreas explorando-as ou encontrando mapas de cada andar. Mas não se desespere tanto (quanto a isso): você terá que ir e voltar tantas vezes, pela mesma região, que vai acabar decorando os caminhos.

RESIDENT EVIL 2

Se as pessoas naquela delegacia fossem mais organizadas você não precisaria rodar tanto para achar uma mísera bateria, por exemplo. Ah, sempre que uma área do mapa estiver em vermelho, significa que ainda há coisas a serem descobertas. Se estiver azul é porque você já descobriu tudo por ali.

Visual e áudio criam ótima atmosfera de tensão

Resident Evil 2 remake foi desenvolvido a partir do motor gráfico RE Engine, o mesmo usado em Devil May Cry 5 e Resident Evil 7: Biohazard (outro game do demônio que quase morri para jogar). É fácil perceber porque este é um dos jogos mais bonitos, e ricos em detalhes, da fase mais atual da franquia.

A atmosfera de solidão, caos e terror é amplificada pelos ambientes de pouca ou nenhuma luz, onde às vezes o foco de visão fica restrito apenas onde sua lanterna consegue iluminar. Há alguns momentos em que o cenário te dá a misericórdia de “respirar” um pouco de toda tensão, especialmente nas raras áreas seguras (e iluminadas), para salvar o jogo na máquina de escrever e gerenciar seus itens no baú.

RESIDENT EVIL 2

Fiquei com muito dó do Leon nessa parte. Tadinho...

A maior parte dos sons que você ouvirá será dos seus próprios passos, eventuais tiros, alguns diálogos e monólogos e, claro, grunhidos de monstros. A trilha sonora, musicalmente falando, só começa mesmo em momentos chaves do gameplay. Ou seja, quando a música toca, ou vai aparecer uma cutscene, ou lá vem outro teste cardíaco com alguma boss fight, correria, ou arrastão de zumbis na sua direção.

Em resumo: as variações de luminosidade dos cenários criam um “casamento” peculiar de ambiente de tensão versus alívio passageiro na sua mente. Já as mudanças na trilha sonora ditam quando tudo o que já está desesperador vai se transformar, de vez, num inferno na Terra.

Dica: investigue os itens que pegar no seu inventário, especialmente os aparentemente inúteis. Às vezes, a peça que você precisa está escondida nele ou dentro dele.

Câmera e controles até que melhoraram

Duas coisas que os jogadores estavam curiosos, em relação ao remake, eram em relação a evolução das mecânicas da câmera e controle dos personagens. Houve sim melhorias significantes, como o estilo de câmera parecido com Resident Evil 4, ou a visão “por cima do ombro”, o que dá ao jogador uma noção bem melhor do que está acontecendo a sua volta, além de facilitar visualizar itens.

RESIDENT EVIL 2

Acabou aquela sensação de estar jogando sendo vigiado por câmeras de segurança, instaladas nos cantos das paredes. Sobre controles, a mira, que te desafiava tanto no jogo original quanto os monstros, também ganhou um upgrade. No entanto, ela não é tão precisa assim. Acredito que isso tenha sido proposital, para manter a tensão clássica de não conseguir acertar a maldita cabeça dos bichos com tanta facilidade.

A velocidade em que o retículo da mira vai se fechar em pontos críticos dos inimigos pode ser personalizada, caso você queira algo mais desafiador (ou nem tanto). Nas opções, você pode, por exemplo, ativar ou desativar o auxílio da mira, ou calibrar a velocidade em que consegue marcar pontos fracos dos zumbis, antes de atirar.

A esquiva tradicional em jogos, que muitos conhecem, é inexistente em RE2. Não dá para saltar para os lados, fazer rolamento, movimento do Neo no filme Matrix, nada! O lance aqui é correr o mais rápido possível (mesmo assim é meio lento) de um lado para o outro e evitar estar ao alcance dos braços, ou qualquer outro tipo de membro, dos monstros.

RESIDENT EVIL 2

Dica: o espaço nas suas pochetes é precioso. Se algum item está com uma marca vermelha, na parte inferior direita do slot no inventário, significa que ele não é mais necessário. Descarte-o.

Leon e Claire + coadjuvantes clássicos

Não entrarei em muitos detalhes aqui para não dar spoilers. Apesar do jogo ser uma releitura do clássico de 1998, há algumas novidades na história deste remake e, principalmente, em como convergem os acontecimentos dos gameplays de Leon e Claire. Para uma melhor experiência de narrativa, o ideal é fechar ambas as campanhas. Em média, cada uma pode levar entre 8 a 10 horas mais ou menos.

A história principal se mantém. O jogador controla tanto o policial novato Leon S. Kennedy, que teve o pior primeiro dia de trabalho da história da humanidade, quanto a estudante Claire Redfield, que resolveu ir atrás do irmão Chris num péssimo momento. Ao menos, graças as dicas do irmão policial, ela sabe se virar bem.

RESIDENT EVIL 2

Os dois se encontram numa loja de conveniências, num posto de gasolina, quando são cercados por zumbis. Leon e Claire conseguem fugir e resolvem tentar entender o que está acontecendo e buscar ajuda na delegacia de Raccoon City, o que vão se arrepender amargamente muito em breve.

Ao longo das duas campanhas, personagens clássicos da série aparecerão, como a pequena Sherry e a misteriosa Ada Wong, vulgo a pessoa que vai de salto alto para uma missão numa cidade devastada por um apocalipse zumbi. Ambas aparecerão de forma alternada nos gameplays, uma em cada campanha, e ajudarão nas reviravoltas em cada narrativa.

Será possível controlar, por alguns momentos, a própria Ada. Apesar de contar com uma pistola, a sua principal arma é um visualizador EMF, que detecta fios elétricos e hackeia equipamentos eletrônicos.

RESIDENT EVIL 2

Tanto Leon quanto Claire possuem a mesma capacidade de ataque, defesa e velocidade. Além do desenrolar de algumas partes da história, o que difere mesmo os dois são os trajes desbloqueáveis (por DLC ou na edição mais completa do título) e as armas disponíveis para cada um.

Importante: você não precisa, necessariamente, terminar uma campanha para começar a outra. É possível alternar entre as histórias salvando normalmente. Um save não irá sobrescrever o outro, caso você não queira.

Bônus: momento “barata voa”

Ah… O Tirano... Conhecido carinhosamente como Mr. X. Quem achou, lá em 1998, que seria legal colocar um titã cinza-mumificado, com sérios problemas dermatológicos, e vestido ao estilo detetive anos 50 atrás de você, definitivamente, não tinha mãe.

Já não bastasse o pânico normal que esse jogo te proporciona (ao menos para mim), você ainda precisa fugir (em um primeiro momento) desse senhor, que irá te perseguir por todos os confins do universo daquela delegacia e além. O miserável se acha tanto que nem ao menos se dá ao trabalho de correr atrás de você. Ele vai te encontrar. Mesmo andando. Até porque nem as paredes o impedem de entrar em algum lugar.

RESIDENT EVIL 2

"Olá, a senhorita teria um momento para ouvir a palavra da Umbrella?"

Esse bicho me lembrou da época em que eu joguei Prince of Persia: Warrior Within e o maldito do Dahaka que me perseguia pelo cenário ao som de “I Stand Alone”, do Godsmack. O Mr. X está pouco se lascando para os seus tiros, você pode até conseguir ganhar tempo dando uns pipocos nele, mas acredite, é melhor manter a distância por enquanto.

Sua melhor defesa, nesse momento de surto e correria, tipo quando a barata voa na sua casa, são seus ouvidos. Lembra quando falei, lá no início, para usar fones de ouvido? Escute os passos (bem pesados) do Tirano para perceber a direção que ele está seguindo. Se estiver usando um fone com áudio 3D, com palco sonoro, melhor ainda. Mas nunca se esqueça: enquanto ele viver, ele VAI te encontrar. Cedo ou tarde. Não existe área segura para o Mr. Seu Fim.

Recadinho do coração: não, o Tirano não será a única coisa pavorosa que você enfrentará neste jogo. Espere só chegar na parte do esgoto.

Conclusão

resident evil 2

Resident Evil 2 remake é um gratificante presente sombrio e masoquista da Capcom para os fãs antigos da série, bem como tem tudo para agradar aos novatos na franquia também. O fato do jogo ter sido recriado do zero, com gráficos e gameplay atualizados, não deixou de lado a essência de horror de sobrevivência do título, o que sempre foi (ou deveria sempre ter sido) a marca registrada de Resident Evil.

Ah, e não deixe de terminar ambas as campanhas para desbloquear o final verdadeiro e os conteúdos extras (The 4th Survivor e The Tofu Survivor)! Aos corajosos, joguem logo no modo intenso. Aos fracos de coração e claustrofóbicos, como eu, boa sorte.

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