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Chineses criam ratos com superpoderes

5 anos atrás

O imaginário da humanidade é repleto de histórias de pessoas com superpoderes, alguns natos, outros presenteados por deuses, outros conseguidos através de poções ou fórmulas mágicas. Muito raramente isso aconteceu de verdade. Um dos poucos casos não chegou a gerar um Steve Rogers, mas complicou a vida de Hitler.

Durante a Segunda Guerra muitos espiões ingleses e membros da Resistência atravessavam o Canal da Mancha para a França. Isso era feito durante a noite, para fugir das patrulhas alemãs, mas havia o problema de se comunicar com os contatos em terra. Rádio nem pensar, primeiro os equipamentos "portáteis" da época eram pesados, caros e facilmente interceptáveis pela Gestapo.

O consagrado método de usar lanternas para se comunicar via Morse tinha o inconveniente de ser visto a quilômetros de distância. Infravermelho? Era quase ficção científica. O problema só foi resolvido quando alguém se lembrou de uma curiosidade científica menor: o olho humano é sensível a luz ultravioleta, mas não conseguimos enxergar por causa do cristalino, a lente natural em nossos olhos, que funciona como filtro.

Pessoas que sofrem de catarata tem seu cristalino removido e substituído por uma lente artificial, e como efeito colateral ganham acesso a uma nova faixa do espectro eletromagnético. Elas literalmente passam a enxergar em ultravioleta.

Aposentados operados de catarata foram convocados, iam nos submarinos com os comandos e espiões e enxergavam de longe as mensagens transmitidas pela Resistência, nas praias, enquanto os membros da Raça Superior viam apenas a escuridão.

Casos como esse são raros, mas há uma mutação que só afeta mulheres,  mesmo assim entre 2% e 3% delas, que produz Tetracromia: um quarto receptor de cores existe na retina dessas mulheres, elas conseguem distinguir bilhões de cores a mais do que mulheres normais, que já deixam muito para trás as 18 cores que homens hétero conseguem identificar.

Uma pessoa normal veria uma folha de cor uniforme, uma mulher com tetracromia leria perfeitamente um texto impresso em duas cores semelhantes. É mais ou menos quando sua esposa tenta explicar a diferença entre bege, marfim e branco-gelo.

A busca por super poderes assim envolve pesquisa biológica e eletrônica, mas agora a biologia, que era o patinho feio das pesquisas, deu um belo salto.

Visão infravermelha não é novidade, até as câmeras de segurança xing-ling que compro na Deal Extreme trazem esse recurso, e quem poderia esquecer a confusão uns 10 anos atrás quando descobriram que algumas câmeras da Sony com visão noturna, se usadas de dia em condições específicas, conseguiam ver debaixo das roupas das moças? (Eu tenho uma câmera dessas mas, juro que só uso meus poderes para o Bem)

O problema é que visão infravermelha em qualidade militar custa caro, tem campo de visão limitado e depende de baterias. O que a pesquisa desenvolvida pelo Professor Tian Xue, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, criou contorna todos esses problemas.

Eles criaram nanopartículas com extrema afinidade molecular com as células da retina de ratos. Assim essas partículas, quando injetadas no olho (argh, eu sei), migram para a retina. Só que elas fazem mais que isso, elas convertem luz infravermelha em luz verde.

Literalmente entra infravermelho (que não conseguimos ver) de um lado, sai verde do outro, que por acaso está colado na retina. Luz comum não é afetada.

Depois que os ratos foram injetados com as nanopartículas, os cientistas apontaram uma lanterna infravermelha para seus olhos, e as pupilas se contraíram, um reflexo involuntário que não pode ser forjado ou adestrado. Em outro experimento eles colocaram os ratos em dois compartimentos escuros para olhos comuns, mas um deles estava iluminado com luz infravermelha. Os ratos comuns ocuparam os dois compartimentos de forma igual, os ratos com super visão evitaram o ambiente com infravermelho, que para eles era muito iluminado.

Os pesquisadores não sabem ainda se os efeitos são permanentes, se a saúde dos ratos foi afetada e se as nanopartículas não vão migrar para outro lugar. Seria bem constrangedor elas serem atraídas por mucosas e o sujeito acabar com um fiofó bioluminescente, e também há o problema menor de não ser possível distinguir o que é verde e o que é verde do infravermelho. Mesmo assim as possibilidades são imensas.

Com certeza a pesquisa já foi apropriada pela DARPA chinesa, e em alguns anos escolherão voluntários para testar as nanopartículas. A ideia de soldados com visão noturna independente de equipamentos complicados e desconfortáveis é tentadora demais para simples questões como ética ficarem no caminho.

A pesquisa, de título Mammalian Near-Infrared Image Vision through Injectable and Self-Powered Retinal Nanoantennae foi publicada na revista Cell!.

Fonte: The Atlantic

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