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Pesquisa revela: Celular, computador e TV têm muito pouco efeito sobre o bem-estar de adolescentes

5 anos atrás

Quando o primeiro Homo habilis adolescente resolver ficar na caverna brincando com pedras e criando a primeira ferramenta, os pais provavelmente reclamaram que esse garoto não sai, não brinca com os amigos, não joga bola (ok, essa ele teria que esperar uns 2 milhões de anos até ser inventada). A longa briga entre pais e tecnologia estava começando.

Cada geração tem seu problema específico, cansei de ouvir que videogame estragava televisão, mas antes disso televisão de perto estragava a visão, gerações mais recentes ouviram que iPods estragam a audição, e que jogos portáteis desenvolvem hiperatividade e falta de atenção, mas algumas reclamações são perenes.

Pais que esqueceram que foram basicamente criados pela televisão assistem assustados a Fátima Bernardes alertar contra os perigos de crianças e jovens que passam tempo demais na frente do computador ou com seus celulares. Bares hipsters colocam cartazes orgulhosos alardeando "não temos WIFI, conversem entre si". Na Inglaterra a Samuel Smith, uma cadeia de pubs com mais de 100 filiais já havia banido o uso de tablets e notebooks dentro dos bares, agora foram além e proibiram as pessoas de... atender ligações de celular. Quem receber um telefonema vai ter que sair pra rua pra atender. "A nossa política é que nossos pubs são para conversas sociais entre pessoas", disse um representando do lugar.

A realidade é que esse tipo de atividade solitária sempre foi mal-vista, não importa se é um celular ou um tablet. Bem antes do Kindle eu já era o Capitão Misantropia e adorava ficar sozinho no bar lendo um bom livro, e os olhares de estranheza eram os mesmos que recebo hoje quanto estou vendo séries no celular ou lendo ebooks.

A criança criticada hoje por usar celular na rua é a mesma que era criticada 50 anos atrás por ler gibis, e mesmo a histeria era a mesma, que o diga o canalha Fredric Wertham e seu livro "Sedução do Inocente", que quase dizimou a indústria de quadrinhos com suas teorias baseadas em dados falsificados e ódio irracional a gibis.

Se você se revolta com aquela cena do Indiana Jones com os nazistas queimando livros, acredite, nos EUA aconteceu a mesma coisa, pais conscientes pensando no melhor para seus filhos os educavam para queimar seus gibis.

A Pesquisa

É consenso da mídia que computadores e celulares são terríveis para as crianças e adolescentes (TV não, TV é OK). Boa parte dos profissionais de saúde também repete essas impressões, sem se preocupar em corroborar as coisas que "todo mundo sabe" com dados reais, e quando aparecem são pesquisas limitadas, com amostras viciadas, tipo o Wertham, que pesquisava sobre efeitos nocivos de gibis entre menores infratores, e extrapolava para a população em geral.

Desta vez a pesquisa foi diferente. Amy Orben e Andrew K. Przybylski, ambos do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford estudaram crianças e jovens da Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos, num total de 17247 indivíduos, entre 8 e 17 anos.

Foram estudados os hábitos desses jovens, incluindo se usavam seus dispositivos eletrônicos antes de dormir, algo que é considerado nocivo por uma imensa maioria de "especialistas". Questionários foram usados para avaliar o bem-estar emocional e identificar indícios de depressão.

Os resultados, depois de devidamente tabulados e analisados, produzindo lindos gráficos pra quem entende esse tipo de coisa.

Para não dizer que não acharam nenhuma relação entre uso de tecnologia e efeitos negativos no bem-estar, foi encontrada uma relação de causalidade, mas inferior ao de todas as outras atividades no dia-a-dia dos jovens. Traduzindo, lidar com os pais e escola são muito mais prejudiciais do que usar celular.

Para dar uma idéia da relação ínfima, para o uso de celular ter efeito suficiente para afetar o bem-estar dos jovens em 0.50 do desvio-padrão eles teriam que usar tecnologia bem mais do que o normal, mais precisamente 63 horas e 31 minutos de uso a mais. POR DIA.

Quanto ao uso na hora de dormir, os resultados mostraram que não há nenhuma relação entre uso de gadgets e bem-estar. Algumas análises retornaram resultados negativos, outras foram inconclusivas e houve até grupos onde o efeito no bem-estar de usar gadgets na hora de dormir foi... positivo.

Estatisticamente essa é uma indicação segura de que o elemento em questão tem zero efeito, para tristeza de todo mundo que adora repetir as coisas que todo mundo sabe. Aparentemente os medos da tecnologia da moda são infundados e baseados em achismo, do mesmo jeito que todos os medos dos efeitos negativos de videogames, desenhos animados violentos, Rock and Roll, MTV, revistas em quadrinhos e Los Hermanos. (Ok, o último é mentira, mantenha suas crianças longe)

O estudo completo pode ser lido no paper Screens, Teens, and Psychological Well-Being: Evidence From Three Time-Use-Diary Studies.

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