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Apple Music da China remove músicas que mencionam o Massacre de Tiananmen

Dançando conforme a música: para se alinhar à China, Apple remove músicas com temas "controversos"; Tim Cook é taxado de hipócrita para baixo

5 anos atrás

A Apple, enquanto empresa possui a missão de dar lucro, e poucas coisas são mais vantajosas para grandes companhias hoje em dia do que andar de mãos dadas com a China. Claro, sendo o País do Meio uma nação comunista no papel (embora lucre como qualquer outra capitalista), seus parceiros comerciais precisam dançar conforme a música, e seguir as orientações de Pequim se quiserem fazer negócios por lá.

O que nos leva ao imbróglio da vez: a maçã removeu diversas músicas da Apple Music no país, por tocarem em assuntos controversos, tais como democracia, liberdade e claro, o Massacre na Praça Tiananmen (ou Paz Celestial), que está prestes a completar 30 anos.

Disney / Fox / The Simpsons / placa "nada aconteceu" na Praça Tienanmen / Apple

Eis o rolo: dissidentes políticos, ativistas e organizações em prol dos direitos humanos estão organizando manifestações para comemorar o "incidente de 04 de junho" (a forma como o governo da China se refere ao massacre, embora ninguém no país fale a respeito em aberto), algo que o politburo chinês não pode sequer sonhar em permitir que aconteça.

Uma das maneiras de impedir a disseminação de informações "indesejadas" é controlar toda a mídia e redes sociais, o que leva a casos onde portais de notícias não podem publicar artigos não aprovados por Pequim, e o mesmo vale até para a mais inócua mensagem, ou texto em um blog pessoal, isso sem falar do "Partido dos 50 Centavos", os trolls contratados pelo governo para atochar a rede com lixo e mensagens pró-Pequim, de modo a criar distrações.

Qualquer tipo de manifestação, dentro ou fora da internet, que não esteja alinhada com o Partido Comunista da China é ilegal, e nisso entram assuntos como o massacre, a questão de Taiwan (que o premiê Xi Jinping já ameaçou unificar ao país à força), a ocupação do Tibete e outros.

O que vale para quem é de dentro também se aplica a quem é de fora: empresas que desejam fazer negócios com a China são obrigadas a seguirem as orientações de Pequim, e no caso de conglomerados que trabalham com mídia e internet, como o Google, a Microsoft e a Apple, censurar conteúdos indesejados. É isso ou puxar o carro, e todo mundo se sujeita, porque perder um mercado com mais de um bilhão de consumidores não é uma opção.

Bandeira da China e logo da Apple

No caso da Apple e outras empresas, que também produzem hardware, há o adicional do preço hora-homem do trabalhador chinês, um dos mais baixos do mundo, e a cadeia de suprimentos já muito bem estabelecida e azeitada. Por essas e outras que a Apple não quer nem saber de fabricar iPhones nos Estados Unidos, por mais que Donald Trump assim queira.

Hoje, qualquer eletrônico que se preze é montado na China: dos iGadgets em geral (tirando o Mac Pro) à quase totalidade dos smartphones e tablets Android, bem como o PS4, o Xbox One e o Nintendo Switch, TVs, impressoras, switches, roteadores, processadores, periféricos e etc.

Falando especificamente da Apple, a companhia já vem se aproximando de Pequim com mais afinco desde 2017, o que levou a empresa e o CEO Tim Cook a serem duramente criticados nos Estados Unidos. Recentemente, a maçã censurou o emoji da bandeira de Taiwan nos Macs vendidos no país a mando do Partido Comunista, algo que já ocorria em dispositivos iOS chineses, e não importa se o usuário mudar a região do sistema. Não aparece e pronto.

Agora, a Apple Music chinesa removeu o acervo de diversos músicos de Hong Kong, especificamente os que fazem menção ao Massacre na Praça Tiananmen, na esperança de impedir que os chineses comecem a ter ideias estranhas, como lutar por liberdade, democracia e direitos humanos.

China, 05/06/1989: homem impede avanço de fila de tanques rumo à Praça Tiananmem / Apple

A reação obviamente foi para lá de negativa, com a Apple, que vende a ideia de empresa progressista, "pra frentex" e defensora da diversidade e liberdade de expressão, sendo xingada de hipócrita para baixo, o mesmo valendo para Cook.

Sophie Richardson, diretora da divisão chinesa da Human Rights Watch, classificou a atitude da Apple como "espetacularmente covarde, até mesmo para os padrões da companhia de Tim Cook", que é fazer negócio com quem paga mais, independente de moral ou valores (o que todo mundo faz, sejamos realistas).

Já a pesquisadora da instituição Yaqiu Wang foi além, e em mensagem no Twitter, disse que a maçã é conivente "ao participar de forma ativa das ações do Partido Comunista Chinês, que pretende apagar da memória coletiva as violações colossais cometidas contra o povo da China, e reescrever a história".

Do lado de cá também houveram reações. O senador dos Estados Unidos Marco Rubio (GOP, Flórida) mais uma vez botou a boca no trombone contra a Apple e Cook, como já havia feito antes; em entrevista ao site The Verge, o político disse que "é vergonhoso ver uma das empresas mais inovadoras e influentes do país apoiar iniciativas de censura”, embora lembremos que este é um caso do sujo falando do mal lavado: Rubio votou a favor do fim da neutralidade da rede, o que causou alguns probleminhas sérios por lá.

Já a representante Cathy McMorris Rodgers (GOP, Washington) disse no Twitter que a Apple "perdeu a chance de despontar como uma voz forte em prol da liberdade em todo o mundo".

Em última análise, vale lembrar que...

A Apple é apenas mais uma a aceitar o que Pequim manda fazer, e como toda empresa, visa o lucro em primeiro lugar; logo, ela e todas as multinacionais instaladas no País do Meio farão o que for preciso para não desagradarem os seus anfitriões, mesmo que isso signifique contrariar os valores que prezam em público, e que demonstram ter aos seus consumidores.

Nem a Apple ou Tim Cook se manifestaram a respeito.

Com informações: The Verge.

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