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EUA comprando armamentos basicamente da ACME. E funciona

5 anos atrás

Todo mundo já viu nos velhos filmes e documentários aquelas imensas formações de bombardeiros na segunda guerra mundial, centenas de Fortalezas Voadoras B-17 em missões de bombardeio de precisão para destruir a capacidade industrial alemã. Na realidade, precisão é a última palavra que deveria ser usada.

Aquele monte de aviões não era um luxo. Mesmo contando com o estado da arte em miras computadorizadas da época, a taxa de acerto era de 7%, e por acerto eles entendiam a bomba cair num raio de 370 metros do alvo. Por isso quando você queria destruir uma fábrica de munições mandava centenas de aviões despejando dezenas de bombas e torcia para que, por pura estatística, alguma caísse no alvo.

Isso não era muito importante quando os alvos eram cidades. Uma estratégia dos ingleses para retaliar a Alemanha pelos ataques a Londres e outras cidades, que culminou no que é visto hoje como um dos maiores crimes de guerra de todos os tempos: o Bombardeio de Dresden.

Dresden depois dos ataques.

Entre 13 e 15 de fevereiro, 769 bombardeiros pesados ingleses e 527 bombardeiros pesados americanos, escoltados por 784 caças P-51 Mustang, castigaram a cidade de Dresden com 3.900 toneladas de bombas. Simples assim: se eu tivesse que escolher entre estar em Dresden ou em Hiroshima no dia de seus respectivos ataques, eu escolheria Hiroshima.

Foram três dias de horror, com bombas caindo por toda a cidade, arrasa-quarteirões de duas toneladas criando ondas de choque que explodiam janelas e portas, abrindo caminho para que as correntes de ar alimentassem o fogo. Pessoas eram empurradas para dentro de prédios em chamas pelas correntes de ar. Gente era carbonizada nas ruas, o próprio microclima foi afetado, com tornados de fogo se formando e aumentando a destruição.

Somente 23% dos alvos válidos foram atingidos, e isso foi por puro acaso. Nenhuma fábrica ou refinaria ou estaleiro foi alvejada propositalmente, o ataque a Dresden tinha por objetivo abalar a moral alemã e com 25 mil mortes, conseguiu.

Depois de 46 anos, no dia 16 de janeiro de 1991 é iniciada a Operação Tempestade no Deserto, um ataque aéreo a Bagdad despejou na cidade mais munição do que a usada no Dia D, na Invasão da Normandia. Em minutos a infraestrutura de defesa de Saddam Hussein estava em frangalhos, com estações de radar, lançadores de mísseis, estações de TV, postos de comunicação, subestações elétricas, tudo destruído.

Como a formidável defesa aérea iraquiana não conseguiu reagir? Os culpados foram 11 caças stealth F-117 Nighthawk.

A missão deles era amaciar as defesas aéreas para a chegada dos mísseis de cruzeiro, que poderiam ser facilmente derrubados se ainda tivesse coordenação e comunicação entre as forças de Saddam.

A CNN transmitiu o ataque ao vivo, com as bombas caindo ao redor do hotel onde Peter Arnett e outros jornalistas estavam hospedados.

No dia seguinte o Ministro da Informação do Iraque foi à TV indignado reportar que TRÊS pessoas haviam morrido nos ataques.

Normalmente o lado atacado exagera no número de vítimas inocentes, mas Saddam queria mostrar que o ataque foi rechaçado, então mentiu para menos, mas TRÊS? O número foi pensado com base na situação da cidade depois dos ataques, com casas intactas (ok, sem vidros), do outro lado de rua de prédios militares destruídos. Foi o primeiro uso de armamento de precisão, que mesmo não sendo nem de longe tão perfeito quanto a propaganda americana prometia, era ordens de magnitude melhor do que os bombardeiros da Segunda Guerra.

As formações gigantes de bombardeiros eram coisa do passado, nunca mais o mundo veria um ataque como o último bombardeio a Berlim, quando os aliados mandaram 1.400 aviões para despejar 2.500 toneladas de bomba na cidade.

Esse tipo de ataque é inaceitável, ao menos em democracias. Danos colaterais são muito mal vistos e qualquer presidente ou primeiro ministro que mandasse bombardeiros atacar indiscriminadamente uma cidade, seria impichado na hora.

Hoje nem dano colateral é aceitável, e com a guerra assimétrica moderna, com o inimigo vivendo em cidades, fica tudo mais difícil. Cada vez mais são desenvolvidas armas menores e mais precisas. Uma das alternativas para evitar matar quem não merece se baseia em algo que não é nenhuma novidade: bombas de concreto.

Na segunda guerra elas eram usadas para treinamento, mas com a invenção das bombas inteligentes, com bombas capazes de acertar alvos marcados com laser ou determinados por GPS, um tanque teria que ter uma blindagem de uma liga de Adamantium com Mithril para resistir a uma bomba de concreto de 500 kg viajando a 1.000 km/h.

Em 1999 no Iraque os americanos já usavam bombas inteligentes de concreto, em 2011 os franceses usaram a mesma estratégia na Líbia, mas as necessidades mudaram, felizmente as pesquisas não pararam.

Se antigamente os alvos eram cidades, hoje são indivíduos, mas pessoas são mais complicadas de matar. Uma bomba de concreto que atinja um carro pode muito bem não ferir (muito) um passageiro, fora que carros não explodem como nos filmes.

Israel costuma eliminar líderes do Hamas usando mísseis, mas mesmo assim o risco de dano colateral é grande, e o público nos Estados Unidos não aceita esse tipo de risco.

Eis que, do nada, começam a aparecer casos como a execução do terrorista Jamal al-Badawi, responsável pelo ataque ao USS Cole e Ahmad Hasan Abu Khayr al-Masri, um dos líderes da Al Qaeda. Em ambos os casos eles foram alvejados em seus carros, que ficaram assim:


O teto dos carros foi rasgado e não por uma bomba de concreto, elas são pesadas demais para serem levadas por drones, e esses ataques são sempre por drones ou helicópteros. A arma preferida é o míssil AGM-114 Hellfire. Ele pesa uns 50 kg, custa US$ 100 mil e tem alcance de oito quilômetros.

Só que... Helfires costumam explodir, se você lançar um Hellfire e ele não explodir, é caso de levar na autorizada. Como esses sujeitos foram mortos em carros com Hellfires sem explosão? E mais precisamente, qual a origem desses estranhos cortes?

A resposta veio em uma matéria do Wall Street Journal, que revelou a existência da variação Hellfire R9X, chamada por uns de Ginsu Voadora e por outros de "bigorna".

Ele é um míssil totalmente inerte, sem nenhuma carga explosiva, mas que usa os mesmos sensores e programas do Hellfire normal: quando identifica o alvo, entra em uma trajetória vertical, adicionando a potência de seus motores à gravidade, aumentando a intensidade do impacto.

Mas calma, não ligue ainda!

Um míssil de 50 kg não causaria muito estrago, então os projetistas incluíram algo digno de desenhos animados, tipo aqueles animes bem bizarros: O R9X, quando vai atingir o alvo, aciona pelo menos quatro lâminas para aumentar a área de impacto sem aumentar o risco de dano colateral.

O sujeito está tranquilo em seu carro, planejando o próximo ataque terrorista, quando um míssil a mais de mil quilômetros por hora desce com quatro katanas fatiando tudo em seu caminho.

O R9X foi usado só 11 ou 12 vezes, mas o departamento de defesa americano só reconhece uma. Ele parece ser bem recente, tendo sido encomendado ainda em 2011 durante o governo Obama.

Filosoficamente é feio comemorar novas formas de matar nosso semelhante, mas sendo bem pragmático, é muito melhor do que mandar uma MK84 com 500 kg de explosivos pra detonar uma pickup de terroristas do lado de uma creche.

No mínimo é um desestímulo para o sujeito que sabe que se for morto sozinho não causará tanta indignação quanto se os inimigos matassem um grupo de escoteiros para chegar até ele.

De resto, só espero que os terroristas não descubram que pra se proteger da Ginsu Voadora basta cobrir o teto dos carros com Meias Vivarina.

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