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Restrições dos EUA levam Google, Qualcomm e Intel a suspender negócios com Huawei

Emergência nacional assinada por Trump leva Google a revogar licença da Huawei; Intel, Qualcomm, Broadcom e outras fazem o mesmo

5 anos atrás

A história do arranca-rabo entre a Huawei e o governo dos Estados Unidos é bem antiga, e recentemente, ganhou um novo capítulo: na última quarta-feira (15) o presidente Donald Trump assinou uma ordem de emergência nacional no setor de telecomunicações, proibindo empresas locais de fazerem negócios com algumas companhias chinesas, entre elas, a acima citada.

E isso inclui o Google: segundo fontes próximas, a gigante das buscas revogou a licença da Huawei referente ao Android, com efeito imediato; isso significa que todos os smartphones da companhia, incluindo os recentes P30 Pro e P30 Lite, não mais receberão atualizações de sistema. Outras empresas, como Qualcomm, Intel e Broadcom também encerraram suas parcerias.

Huawei HQ

A ordem de emergência nacional colocou a Huawei em uma "lista negra" de empresas impedidas de equipamentos com companhias americanas, só que isso também se estende a produtos e serviços digitais, não apenas de hardware. As acusações do governo dos Estados Unidos remontam a 2012, quando investigações internas indicavam que a empresa chinesa age como uma espiã de Pequim em todos os mercados que atua.

De acordo das autoridades dos Estados Unidos, a Huawei coleta dados de empresas e usuários através de seus equipamentos de infraestrutura, bem como por seus smartphones; há outras acusações, que vão de fraude a furo de bloqueios econômicos, por ter vendido tecnologia (inclusive roubadas dos americanos) ao Irã. A ZTE, outra empresa chinesa de telecomunicações, é outra não muito querida pelos US Marshalls.

A Huawei sempre negou as acusações, no entanto, o nível do tom subiu depois de Trump assumiu a Casa Branca. O atual presidente tem sido enfático em sua campanha de "manter a América segura e próspera", de modo a "protegê-la de adversários estrangeiros que criam e exploram ativamente vulnerabilidades nas infraestruturas de serviços de TI e comunicação doo país”, de acordo com a porta-voz Sarah Sanders.

O que nos leva à recente ordem de emergência nacional assinada por Trump. Para encurtar a história, a Huawei fica impedida de comprar e vender componentes de empresas americanas, e também não pode ter acesso a serviços de companhias locais, o que inclui o Google Play Services, componente do Android essencial para a distribuição de atualizações do robozinho, e outras coisas.

De acordo com a agência Reuters, que foi a primeira a apurar a mudança, o Google teria suspendido parte de seus negócios com a parceira chinesa, que incluam transferência de software, hardware e serviços técnicos, exceto aqueles protegidos por licenças públicas de código aberto (AOSP). Pouco tempo depois, os sites The Verge e Engadget confirmaram de forma independente o ocorrido, reiterando que o Google revogou a licença da Huawei, com efeito imediato.

Eis o que isso significa: todos os smartphones da Huawei, mesmo os recém-lançados no Brasil P30 Pro e P30 Lite, que começaram a ser vendidos na sexta-feira (17), perderam o acesso ao Google Play Services em todo o mundo, e não mais receberão atualizações de sistema. Os próximos aparelhos da companhia não poderão rodar o Android, e não poderão acessar serviços como a Google Play Store, Gmail, Google Docs e outras soluções de Mountain View, que também poderão se tornar inacessíveis nos atuais gadgets.

A Huawei poderá recuperar o acesso ao Google se o governo dos Estados Unidos rever a decisão de inclui-la na lista negra (a ZTE saiu dela recentemente), ou se o Google assegurar uma autorização do governo para negociar com os chineses, mas dado o clima atual em Washington, as chances disso ocorrer no momento são poucas.

Em nota, o Google informa que irá cumprir as exigências do governo, e está avaliando quais serviços serão removidos dos atuais aparelhos da Huawei; por ora, ela assegura aos usuários que serviços relacionados ao Google Play Services, como o Protect e a loja em si continuarão funcionando.

Já a Huawei reafirma que não utiliza seus produtos para espionar seus parceiros e usuários, e está confiante que irá reverter a situação:

"A Huawei fez contribuições substanciais ao desenvolvimento e crescimento do Android em todo o mundo. Como um de seus principais parceiros globais, nós trabalhamos com sua plataforma de código aberto para desenvolver um ecossistema que beneficiou tanto os usuários, quanto a indústria.

A Huawei continuará a fornecer atualizações de segurança e serviços de pós-venda a todos os smartphones e tablets da Huawei e da (subsidiária) Honor, os que foram vendidos e os que estão em estoque, em todo o mundo. Nós continuaremos a desenvolver um ecossistema de software seguro e sustentável, de modo a fornecer a melhor experiência a nossos usuários."

O Google não é a única companhia a cortar laços com a Huawei. De acordo com a Bloomberg, fabricantes de processadores como Intel, Qualcomm, Broadcom e Xilinx também revogaram suas parcerias, de modo a cumprir as determinações do governo americano. A decisão também influenciou fornecedoras externas de chips, como a alemã Infineon, segundo o site Nikkei. A Microsoft ainda não revogou suas licenças referentes ao Windows, mas isso não deve demorar.

Vale lembrar que a administração Trump recomendou a diversos governos, incluindo o brasileiro, a cortar relações com a Huawei por motivos de segurança nacional. Até o presente momento, não há nenhuma menção do Planalto, ou da Anatel, no sentido de banir os produtos da fabricante do país.

Ao mesmo tempo, o governo Trump estuda emitir uma licença temporária, de modo a permitir que os atuais produtos e serviços dos chineses funcionem nos EUA, pelo menos, até a transição para soluções sancionadas sejam feitas, de modo a não interromper serviços que usem tecnologias da Huawei.

Huawei P30 Pro

Caso a restrição não seja revertida, a Huawei sofrerá um duro golpe em sua ambição de se tornar a empresa líder do mercado de smartphones; ela disputa o segundo lugar com a Apple a anos, e mesmo assim, não desistiu de superar a maçã e a Samsung, que está à frente do setor com folga.

Na impossibilidade de trabalhar com as soluções do Google nos atuais smartphones, a empresa será obrigada a contar com soluções de terceiros, que podem não ser bem recebidas pelo público, e nos próximos lançamentos, ter que implementar forks do sistema sem os GApps, que embora já não estejam presentes nos modelos vendidos na China, são essenciais para qualquer Android no resto do mundo.

Vale lembrar que a Huawei possui um plano de emergência, e está desenvolvendo seus próprios sistemas para substituir o Android e o Windows (a Microsoft pode ser a próxima a cortar laços com a empresa), em caso de sanções; ela já conta com sua subsidiária HiSilicon, que desenvolve os chips Kirin e modens Balong que equipam seus celulares, e ao menos em componentes, sentirá um menor baque.

No mais, resta aguardar pelos próximos capítulos dessa longa novela.

Com informações: Reuters, The Verge, Engadget, Bloomberg, Nikkei.

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