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Cai-cai balão ali no alemão...

5 anos atrás

Algum tempo atrás eu contei do projeto secreto japonês, quando cientistas brilhantes e malignos (o melhor tipo de cientista!) utilizaram a recém-descoberta corrente de jato para soltar balões no Japão e atingir o território continental dos Estados Unidos.

Mais de 9500 balões foram soltos, um bom número chegou aos EUA. Deveriam causar incêndio em florestas, destruir infraestrutura e gerar pânico, mas o total de mortes foi de 7 pessoas, uma família que estava fazendo um piquenique, viu um balão no chão, foi examinar de perto e a bomba explodiu. Fica a lição, crianças, piqueniques são perigosos, prefiram Netflix.

Ao mesmo tempo, a meio mundo de distância, um pessoal na Inglaterra teve a mesma idéia dos japoneses. Na época eram comuns os balões de barragem, instalados para evitar que aviões inimigos voassem muito baixo, e atingissem seus alvos com mais precisão. Um responsável por um grupamento de balões comentou em um relatório que gerentes de empresas de distribuição elétrica reclamavam que balões perdidos caíam nas linhas de transmissão e causavam danos. Talvez isso pude ser usado como arma.

Muita discussão rolou, com planos mirabolantes criados e descartados, mas nada de concreto foi feito, até em em Setembro de 1940 um vendaval desprendeu vários balões de barragem britânicos, que flutuaram até Suécia, Dinamarca e mesmo Finlândia. Países que ficaram puctos, linhas de trem foram afetadas, cabos de energia entraram em curto e até torres de rádio foram atingidas. Diante de evidências inquestionáveis de que a idéia funcionava, o jeito era implementar.

Os nerds da meteorologia confirmaram que os ventos de grande altitude sopravam em direção à Europa, e que seria complicado para os nazistas contra-atacar com a mesma tecnologia.

Ao contrário dos japoneses, os balões ingleses eram bem mais simples. Havia algo de genial até no mecanismo.

Mulheres da WAAF - Women's Auxiliary Air Force responsáveis pela operação de balões de barragem.

Basicamente um pavio de queima lenta era aceso quando o balão era solto. Ele começava a subir, e com a queda da pressão atmosférica, começava a inflar. Uma corda prendendo internamente os lados do balão impediam que ele inflasse acima de determinado tamanho. O Hidrogênio em excesso era descartado.

Logo o balão estava em uma altitude ideal para ser levado pelo vento, mas o Hidrogênio dentro estava vazando lentamente, Hidrogênio é uma DESGRAÇA pra se manter dentro de um recipiente, atomozinho maldito.

Nessa hora o tal pavio soltava uma rolha de uma lata com óleo mineral, que começava a vazar para o ar, aliviando peso e fazendo o balão subir novamente.

Mais adiante outro pavio (ou o mesmo, sei lá) liberava a carga, que podia ser um cabo condutor, granadas, bombas incendiárias ou um antepassado do Napalm.

Se as contas estivessem corretas o balão voaria a 300 metros de altitude, arrastando um cabo condutor preso a uma corda de cânhamo, arrastando no chão. Isso faria com que inevitavelmente ele encontrasse torres de transmissão, os ingleses calcularam que após percorrer 48Km sobre território inimigo o balão teria até 75% de chance de arrastar o cabo por alguma torre e causar um curto-circuito.

A princípio soa como algo improvável de acontecer, mas como o custo era muito baixo, um balão completo custava o equivalente hoje a R$440,00, o projeto foi adiante e crianças, como funcionou.

Oficialmente os balões causaram mais de US$67 milhões em prejuízos, mas em termos práticos foi muito pior, com incêndios, quedas de energia localizadas, que eram constantes demais pra alguém conseguir tabular, fábricas paradas e caças da Luftwaffe destacados para derrubar balões, além de artilharia antiaérea gastando munição na mesma tarefa.

Claro, isso só veio a público em 2005 ou 2006, ninguém discutia o efeito real dos balões, como você pode ver neste curto depoimento de Antoinette Porter, que tinha 17 anos quando trabalhou nos destacamentos de balões da chamada Operação Outward.

O único efeito colateral é que como ninguém manda nos ventos (sorry, Ororo) algumas vezes os balões iam pro lado errado, e causaram colisão de dois trens na Suécia e algumas cidades inglesas ficaram sem luz, mas guerra é guerra.

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