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Vem cá, vamos falar sobre esse LG G8s ThinQ [hands-on]

O smartphone é quiromante, mas aparentemente precisa de óculos

5 anos atrás

Ontem (24) foi o dia que a LG escolheu pra poder apresentar oficialmente o G8s ThinQ, versão do smartphone topo de linha que vem pro Brasil. O aparelho, nesta variante, tem cortes feitos pro preço ficar mais competitivo, mas mesmo assim ele chega com os dois pés no peito, ignora a concorrência já presente e que custa (bem) menos.

Premissa é boa, mas a execução inicial é ruim

Lá fora, no mundo internacional, existem duas versões do G8 - smartphone topo de linha e que melhor representa os maiores avanços que a LG tem em celulares. Em seu nascimento original, o G8 vem com um Snapdragon 855, 6 GB de RAM, 128 GB de memória interna e GPU Adreno 640. A tela é uma OLED de 6,1 polegadas, com resolução de 3120 x 1440 pixels e existe suporte pra HDR10, Dolby Vision e 100% de exibição de cores do DCI-P3.

Tudo isso é bacana, mas outras empresas também fazem. O que chama atenção no modelo da LG é que ele utiliza o corpo como câmara de ressonância para o áudio, além de vibrações na tela e isso entrega melhor qualidade sonora, especialmente para músicas. Além deste detalhe, há um sensor ToF na parte da frente, que é basicamente uma câmera que é capaz de identificar a distância dos objetos que estão em cena.

Este tipo de recurso é raro e permite cortes melhores no modo retrato, além de uma ferramenta que a LG chama de Hand ID e que utiliza este sensor pra ler as informações da palma do usuário com ajuda de uma luz infravermelha. Com isso ela identifica cada pessoa de forma diferente e transforma o G8 em um smartphone quiromante, que ainda utiliza este sensor para alguns gestos no ar - coisa de Jedi.

No Brasil temos o LG G8s ThinQ, que é tudo isso que falei acima, só que sem o som vibrando a tela e ressoando de forma mais intensa do lado de dentro, com tela OLED maior (6,2 polegadas) e de resolução menor (é Full HD+ agora), as câmeras também sofrem o corte, apresentam sensores menores e lentes mais fechadas - neste ponto as fotos noturnas sofrerão.

E onde está a parte ruim disso?

lg g8s thinq camera

Nos poucos minutos que passei com o G8s nas mãos, senti que o desempenho não perdeu nenhum ponto - e nem deveria, já que é exatamente o mesmo processador, mesma RAM, mesma GPU e mesma memória interna. No cotidiano a resolução menor não altera tanto também, indo além e ajudando o conjunto, já que menos pixels sendo gerados pelo mesmo hardware significa que o hardware trabalha menos.

Eu senti problemas justamente no recurso que mais tomou espaço da apresentação no Brasil e também no exterior: o tal reconhecimento de mão. Tudo começa com o gesto utilizado pra que o celular entenda que a partir daquele momento ele deve acompanhar com atenção a mão. Este gesto é de mão aberta na frente do aparelho, só que mais pra cima e bem perto da câmera frontal.

Vamos dizer que eu consegui ter a mão identificada em mais ou menos 80% das vezes que estendi a mão, mas a partir deste momento o celular apenas passou para o momento de atalho por gestos em 30% das vezes. A natureza deste tipo de leitura de dados (por infravermelho) garante que a luz do ambiente não atrapalha em nada - seja a luz abundante ou a luz que falta.

Pedi ajuda para o promotor que estava por lá e ele me explicou pra que eu fizesse exatamente a mesma coisa que já estava fazendo, só que um pouco mais próximo do aparelho. Tentei e os acertos aumentaram na parte de acionar os atalhos, mas não foi nada que me chamou atenção. Pulou de uns 30% de acertos pra 40%.

Eu então fiquei olhando outras pessoas que estavam no evento, na esperança de entender que a unidade que estava usando estava defeituosa ou que eu sou o problema. O resultado foi que um número considerável de jornalistas reclamou de algo em um nível acima ou abaixo da minha insatisfação. Dizendo que o reconhecimento da palma é falho.

A LG diz que é interessante para o motorista, mas eu discordo

Durante a apresentação do G8s para a imprensa e parceiros comerciais, no telão a LG disse que um dos cenários interessantes para utilizar os gestos está no motorista, que poderá interagir com o smartphone apenas ao gesticular na frente dele. Eu imagino que este pode ser o cenário mais desastroso possível, já que nas tentativas que fiz o G8s não fez um sinal sonoro para dizer que estava prestando atenção na minha mão.

Quando funciona, o método de controle do G8s ThinQ é interessante

Ele apenas liga uma espécie de animação pequena e que fica bem abaixo do sensor, que está atrás da sua palma e longe dos olhos. Eu concordaria com a LG apenas em um mundo onde este sensor acertasse algo próximo de 95% dos gestos feitos. Imagine a cena: você dirigindo, com a mão pra fora do volante e fica lá balançando até que o smartphone reconheça e faça o que você quer.

Das duas uma: ou você aumentará as chances de acidentes, já que tem uma mão a menos no volante e a atenção dividida entre tentar acertar a área de leitura da mão e a rua não fazem parte de uma condução segura. Ou então arruma problemas com um guardinha de trânsito, já que o código de trânsito brasileiro, em seu artigo 252, item 5, diz que é proibido dirigir com apenas uma mão, exceto quando o motorista fizer sinais regulamentares com o braço, mudar de marcha ou acionar equipamentos do veículo.

O LG G8s ThinQ não entra em nenhum destes pontos e isso significa multa de R$ 130,16 e quatro pontos na CNH, além da dor de cabeça.

E tem o preço também

Ok, passada a parte da falha técnica e do problema que pode acontecer ao desrespeitar o código de trânsito brasileiro, tem o preço. Não é de hoje que a LG lança um smartphone com recursos menores do que a versão internacional e preço elevado quando comparado com sua principal concorrente: a Samsung.

O G8s ThinQ é bom aparelho, mas escorrega em alguns pontos

No G5 SE a situação era de uma piada de mal gosto, mas no caso do G8s a diferença de hardware é pequena e pouco será percebida pelo público. Tirando você, que entende bastante de tecnologia e sabe que números pequenos podem significar alguma diferença, pessoas leigas não vão notar. E a experiência de usuário realmente não será afetada por isso, mas a LG tem um problema que é chamado de lançamento atrasado.

Ela apresentou o G8 antes da Samsung mostrar a família S10 ao mundo, mas demorou pra trazer alguma coisa pro Brasil. Enquanto isso a Samsung vende todos os S10 por aqui (menos o Galaxy S10+ 5G) desde março deste ano (quatro meses atrás), tempo de sobra para que a depreciação de preço natural dos Androids aconteça.

O Galaxy S10, sem ser Plus e nem o S10e, foi lançado por R$ 4.999 e hoje já é encontrado facilmente por valores que giram nos R$ 3,5 mil. O Galaxy S10e, que é de onde a LG tirou inspiração para o G8s, foi lançado por R$ 4.299 por aqui e hoje já pode ser encontrado por algo perto dos R$ 2,6 mil.

Galaxy S10e é o principal concorrente do G8s, custando menos

Galaxy S10e é o principal concorrente do G8s, custando menos

O LG G8s ThinQ chegou só agora e com preço cheio, brigando com a Samsung que tem mais mercado, lançou no Brasil poucas semanas depois do lançamento mundial e agora pode oferecer seu flagship por um preço interessante no varejo. A LG tem os gestos com as mãos pra oferecer para seu cliente, mas em meus testes estes gestos mais não aconteceram do que aconteceram.

No release, documento que é entregue com dados e informações sobre os produtos em um lançamento, a LG diz que em planos pós-pagos o valor cai para R$ 2.499, mas não disse em qual operadora este valor é cobrado e nem quanto custa o valor mensal só do plano - no Brasil ele tende a ser caro, bem caro.

Só tem o problema do caminhão de lixo que toda operadora insere no smartphone, em forma de aplicativos que não podem ser removidos, tela de boot com propaganda da operadora e demais customizações. Além do problema de ter um Android que sempre será atualizado por último, já que a ROM utilizada pelas operadoras é alterada e precisa ser refeita para toda nova versão do Android - isso inclui atualizações de segurança.

Tempos difíceis para a LG nos smartphones topo de linha.

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