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Konami e futebol: a história da série Pro Evolution Soccer

Do International Superstar Soccer até se transformar no eFootball PES 2020, relembre a história de uma das séries mais adoradas, a Pro Evolution Soccer

4 anos e meio atrás

Para muitas pessoas, os jogos de futebol são todos iguais, mudando apenas as escalações e uniformes das equipes. Isso evidentemente não é verdade e com o lançamento do eFootball PES 2020 acontecendo hoje, não poderia haver melhor momento para relembrarmos a história de um dos principais nomes do gênero, a série Pro Evolution Soccer.

Pro Evolution Soccer

As estrelas internacionais do soccer futebol

Apesar de não ter sido o primeiro jogo de futebol em que a Konami trabalhou, foi com o International Superstar Soccer que a empresa japonesa começou a ser admirada pelos amantes do esporte bretão. Lançado em 1995 para o Super Nintendo, aquele jogo se destacava por entregar uma jogabilidade mais próxima da simulação e contar com jogadores muitos maiores do que os visto na concorrência — o que inclusive foi usado em propagandas da época.

Aquele jogo impressionava por oferecer um nível de complexidade inédito, com os atletas virtuais podendo iniciar a partida com o desempenho comprometido e os técnicos, no caso nós, podendo mudar bastante as táticas. A impressão que o International Superstar Soccer passava era de realmente estarmos disputando uma partida de futebol e não demorou para que ele se tornasse um sucesso.

Além de ser um dos cartuchos mais procurados nas locadoras, era comum vermos um bando de moleques se amontoando diante de uma TV nesses estabelecimentos enquanto esperavam sua vez de jogar. Também foi graças a este jogo que vimos o Super Nintendo ser “transformado” em fliperama, com os enormes gabinetes sendo usados para abrigar aquele tão adorado jogo de futebol.

Os craques que nunca existiram

Outro fenômeno criado pelo sucesso da franquia da Konami foi o surgimento dos ídolos virtuais. Como a empresa não tinha os direitos para usar o nome dos atletas da época, a solução foi criar jogadores baseados nos reais, mas com nomes diferentes.

Nomes como Paco, Fontana, Redonda, Capitale, Van Wijk, Paz ou Fidrini se tornaram conhecidos entre aqueles que passavam horas e horas disputando partidas virtuais no International Superstar Soccer, mas de todos, nenhum foi maior do que ele… a lenda, o homem que marcou mais gols que o Pelé, o único atleta a anotar 99 tentos numa partida, o inesquecível Allejo!

Inspirado no atacante Bebeto, o atleta virou uma figura folclórica dos games, mesmo quando nem existia redes sociais e não dizíamos que algo viralizou. Isso mostra a força que o jogo da Konami havia alcançado e quando a quinta geração teve início, a editora japonesa sabia que precisava explorar o sucesso que o PlayStation vinha fazendo.

Uma tempestade de gol e o início de uma dinastia

Sabendo que havia muito mercado a ser explorado, a editora ordenou que a Konami Computer Entertainment Osaka (KCEO) continuasse responsável pela série Perfect Eleven (International Superstar Soccer no ocidente), enquanto a Konami Computer Entertainment Tokyo (KCET) desenvolveria uma nova série, que viria a ser chamada World Soccer Winning Eleven (Goal Stom por aqui).

Com estilos sensivelmente diferentes, o jogo da KCEO permaneceu nas plataformas da Nintendo, enquanto o da KCET tornou-se exclusivo do console da Sony. No caso deste segundo, os gráficos em três dimensões serviam para mostrar a capacidade de processamento do videogame da Sony, mas a jogabilidade era bastante travada e vê-lo hoje em dia ajuda a entendermos o quanto a indústria evoluiu nessas duas décadas.

Mas apesar de as duas franquias terem alcançando bons resultados, foi a do PlayStation que conseguiu se tornar um verdadeiro fenômeno, com um dos principais responsáveis por isso tendo sido o diretor Shingo "Seabass" Takatsuka. Após a sua entrada para a equipe responsável pelo jogo, a Konam lançou o lendário Winning Eleven 4, que no ocidente passou a ser chamado de ISS Pro Evolution.

Trazendo gráficos muito mais bonitos e uma jogabilidade bem mais natural, não seria exagero dizer que pela primeira vez o mundo viu um simulador de futebol. Quase tudo naquele jogo parecia funcionar perfeitamente e se naquela época eu tivesse que escolher apenas um game para jogar para sempre, sem dúvida teria sido o ISS Pro Evolution.

Eu, manager

Foi também com aquele jogo para o Playstation que a Konami passou a nos permitir jogar com clubes, no entanto foi a adição de um fantástico modo que sacudiu os alicerces do gênero, a Master League. Nele iniciávamos com uma equipe repleta de pernas de pau e caberia ao jogador enfrentar as adversidades para vencer as partidas e aos poucos poder contratar atletas melhores.

Por mais que uma partida de futebol nunca seja igual a outra e que os próprios campeonatos ou partidas contra outras pessoas gerassem situações memoráveis, foi com a Master League que a Konami possibilitou que criássemos nossas próprias histórias. Conseguir montar um verdadeiro esquadrão apenas com o nosso esforço era algo fantástico e mesmo naquela época era comum ver pessoas debatendo quais eram as melhores contratações a serem feitas.

É bem verdade que num primeiro momento a Master League era bastante simples, contando com apenas 16 equipes, mas imediatamente ela fez muito sucesso e os capítulos posteriores da série serviram para marcar nas nossas memórias os nomes de mais algumas lendas que nunca pisaram num gramado real, como Ximenes, Minanda, Espinas e aquele que ousou desafiar o reinado de Allejo, o artilheiro Castolo.

Castolo - Pro Evolution Soccer

A evolução do futebol

Foi então que alguns meses após lançar o World Soccer: Winning Eleven 5 para o PlayStation 2 no Japão, em 2001 a Konami trouxe a série para o ocidente, mas dessa vez resolveu chamá-la de Pro Evolution Soccer por aqui. Reforçando uma adoração que havia nascido no console anterior da Sony, a série continuou dominando o gênero e dando poucos indícios de que poderia perder esse posto.

Versão após versão a série continuou evoluindo, com os jogos passando a contar com melhor inteligência artificial — tanto para os nossos companheiros de equipe quanto para os adversários — e movimentos mais naturais para os atletas. A Master League foi sendo incrementada, a física se tornou melhor e a equipe de "Seabass" Takatsuka mostrava que tinha total controle sobre sua criação.

O Pro Evolution Soccer passava pela sua época de ouro, com cada novo lançamento superando o anterior em quase todos os aspectos e a Konami mostrando aos fãs que valia a pena investir na compra do título mais recente. Parte disso se devia a política de lançamentos da empresa, que colocava a franquia no mercado japonês com o seu Winning Eleven, aproveitava para coletar as opiniões dos jogadores e implementava melhorias na versão lançada alguns meses depois na Europa.

Edições de dados e a pirataria

Sem todo o dinheiro que a Electronic Arts tinha para investir na aquisição de licenças, os jogos de futebol da Konami sempre sofreram com a falta de clubes e jogadores com seus nomes reais. Por isso desde a época do International Superstar Soccer tornou-se comum vermos grupos de fãs se dedicarem a editar os jogos, o que deu origem a verdadeiros clássicos como o Ronaldinho Soccer ou o Bomba Patch.

No caso das modificações para o PlayStation 2, era como termos um novo lançamento a cada semana, com as equipes sempre contando com as últimas transferências e as banquinhas de camelô faturando uma bela grana com o trabalho daqueles que se dedicavam a alterar o jogo.

Percebendo que poderia perder espaço para a concorrência, a Konami tratou de implementar um robusto editor na série Pro Evolution Soccer, o que nos permitia alterar desde a aparência dos jogadores, até os uniformes das equipes, seus nomes e o das ligas. Assim qualquer pessoa poderia criar um Campeonato Carioca ou o torneio da terceira divisão do Vietnã, bastava paciência e dedicação.

Outro aspecto surgido dessa iniciativa foi o compartilhamento dos option files e se os muambeiros detestaram a novidade, aquela foi uma medida em quase todos ganharam. Os jogadores e os modders comemoraram a facilidade na disseminação desses arquivos, já a Konami deixou nas nossas mãos o trabalho de manter o seu jogo sempre atualizado e até hoje recorremos a internet para poder deixar os clubes com seus nomes e uniformes reais.

Campeonato brasileiro

A estagnação e o começo do declínio

Contudo, com a chegada da sétima geração de consoles ao mercado, a Konami resolveu mudar a numeração da sua franquia. Com medo dos jogadores acharem que um Pro Evolution Soccer 7 seria inferior a um FIFA 08, a empresa japonesa também passou a adotar o ano no título, mas infelizmente esta não seria a sua principal alteração que veríamos.

Produzido numa nova engine, o PES 2008 sofria com um irritante tempo de resposta aos comandos, uma jogabilidade que não estava a altura do antecessor e um sistema de partidas online que deixava muito a desejar. A EA Sport por sua vez acertou em cheio ao contratar David Rutter, um grande apaixonado pelos Pro Evolution Soccer. Na empresa ele aproveitou o seu conhecimento sobre a série da Konami para aproveitar e melhorar todas as suas características.

Com isso desde a temporada 2009 a série FIFA assumiu a liderança, fazendo com que muito antigos jogadores de PES/Winning Eleven mudassem de lado, principalmente por terem visto uma enorme evolução naquela franquia que antes eles odiavam, enquanto o trabalho feito pela Konami não parecia sair do lugar.

Eu não diria que eles estão ativamente [nos copiando] atualmente,afirmou o chefe de desenvolvimento do PES em 2012, Jon Murphy, em relação ao trabalho da EA Sports. “Estou dizendo que eles possuem um longo histórico de copiar o PES para chegar aonde eles chegaram. As pessoas não deveriam esquecer como eles chegaram onde estão.

O presente e o futuro

Com a adoção da Fox Engine, aos poucos o Pro Evolution Soccer foi recuperando parte do seu espaço e há alguns anos temos um grupo de pessoas que voltaram a defender a série como a melhor do mercado. Essa é uma questão bastante subjetiva, mas o fato é que ao menos comercialmente a marca continua muito atrás da sua principal concorrente.

Mesmo ainda pecando na falta de conteúdo licenciado, nós brasileiros temos nos jogos da Konami a vantagem de ter a presença dos clubes nacionais, mesmo com um ou outro não contando com seus respectivos elencos reais. Ainda assim, poder levar o nosso clube do coração ao topo do mundo através da Master League continua sendo uma experiência muito legal.

Se o eFootball PES 2020 conseguirá dar mais um passo em direção à tentativa de retornar a marca Pro Evolution Soccer ao topo, apenas as próximas semanas poderão responder, mas o certo é que mesmo se um dia a Konami desistir de continuar criando games de futebol, nunca esqueceremos dela ter nos proporcionado a possibilidade de marcar vários gols diante da nossa torcida, de termos sido campeões do mundo inúmeras vezes ou até de ousarmos ao colocar o Roberto Carlos para ser o atacante da nossa equipe.

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