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O Espião – Resenha: Sacha Baron Cohen brilha na minissérie de 6 episódios

4 anos e meio atrás

Assisti recentemente a minissérie O Espião (The Spy), que é inspirada em fatos reais, e mostra o ator Sacha Baron Cohen como o espião israelense Eli Cohen, que trabalhou infiltrado em Damasco no começo dos anos 60, em um período tenso que antecedeu a Guerra dos Seis Dias entre Israel e vários países árabes. Nessa resenha vou passar minhas impressões sobre a série, espero que sem muitos spoilers.

As informações descobertas por Eli Cohen tiveram papel importante na vitória israelense do conflito e ele é considerado um herói nacional em Israel, mas é claro que se você perguntar na Síria, a resposta vai ser bem diferente.

O Espião foi dirigida e escrita pelo israelense Gideon Raff, e assim como em The Little Drummer Girl (leia minha resenha), a história é mostrada pelo ponto de vista dos agentes do Mossad. Pra quem tiver achado o nome familiar, Raff recentemente também dirigiu e roteirizou para a Netflix o filme Missão no Mar Vermelho (The Red Sea Diving Resort).

Ele também foi o criador de Prisoners of War (Hatufim), famosa série israelense de 2010 que foi licenciada pela 20th Century Fox antes mesmo da estreia e ganhou uma versão falada em inglês, Homeland, da qual eu sempre fui espectador assíduo. Vale destacar que a série de Alex Gansa e Howard Gordon superou e muito a original, pelo menos na duração, e a oitava temporada de Homeland deve chegar em 2020.

Além de ter caprichado na direção e no roteiro de O Espião (três episódios foram co-escritos por ele com Max Perry), Gideon Raff também tirou a sorte grande com seu ator principal, é um prazer ver Sacha Baron Cohen brilhando no papel de Eli Cohen e principalmente no da sua identidade secreta e ultra carismática, Kamel Amin Thaabet.

Eli Roth, que na verdade nasceu no Egito, já tinha se candidatado a um emprego no serviço de inteligência de Israel, mas foi recusado algumas vezes antes de ser aceito. No primeiro episódio, vemos todo o puxado treinamento de Eli Cohen para se tornar um agente secreto do Mossad, e depois sua mudança para Buenos Aires, já com a identidade falsa de Kamel, um rico comerciante de origem síria que busca voltar ao seu país de sua família. Na Argentina, ele começa a colocar em prática o plano para ser aceito na Síria como um ricaço e dar grandes festas para atrair políticos e militares poderosos do seu país em visita aqui na América do Sul.

Logo, logo, o espião consegue se mudar para a Síria, onde fica ainda mais próximo dos líderes locais, se tornando inclusive conselheiro de ministros de estado. Cohen, ou melhor, Thabeet, conta com um orçamento generoso para manter sua fachada de milionário, e gasta horrores para se infiltrar cada vez mais no círculo de pessoas mais poderosas do país.

Em pouco tempo, Cohen se torna o Homem do Mossad em Damasco, como os seus chefes o chamam. A série acompanha vários anos da vida de Cohen como espião na Síria, vivendo e convivendo com os inimigos mortais do seu país, que no processo acabam se tornando seus amigos pessoais, a quem ele está traindo o tempo inteiro.

Seus relatos eram enviados pontualmente através de transmissões em código morse, além de fotografias de documentos secretos que ele enviava dentro de móveis da sua empresa de exportações, totalmente de fachada. Pra quem estiver curioso sobre a história real de Eli Cohen, recomendo esta matéria da Time.

Algo acontece com Eli Cohen ao longo da sua história de espião, ele acaba se tornando cada vez mais parecido com Kamel, sua identidade secreta, e uma pessoa com uma personalidade completamente diferente da sua, mesmo que sua lealdade esteja sempre do estado de Israel e dos seus chefes no Mossad.

Ele se torna ainda mais influente quando o General Amin al-Hafez, que Cohen havia conhecido (e impressionado) como Kamel em Buenos Aires, retorna para a Síria e resolve tomar o poder junto com o partido Ba’ath. Não vou contar o final da série aqui para não estragar a experiência de quem quiser assistir, algo que eu recomendo e muito.

A atuação de Sacha Baron Cohen como Eli/Kamel vai muito além da comédia, que também se mostra presente, já que o personagem é muito carismático e simpático e engraçado, mas ele brilha mesmo nas cenas dramáticas, quando o personagem está perdendo o controle da situação. Na minha opinião, Sacha merece ganhar um Emmy por sua atuação, que está realmente fantástica.

Quem também está na série, praticamente reprisando seu papel de agente do FBI em The Americans, só que com sotaque israelense, é Noah Emmerich. Ele faz o papel do recrutador de Eli, Dan Peleg, um personagem que começa bem raso, mas acaba se mostrando mais ao longo da série, especialmente em relação a esposa de Cohen, Nadia, vivida pela atriz Hadar Ratzon Rotem, que interpreta sua personagem com uma intensidade impressionante.

Também são dignos muitos de elogios os atores Nassim Si Ahmed e Waleed Zuaiter, que fazem os papéis de Ma'azi e o Coronel Al-Hafez. Por falar no Coronel, seu chefe de segurança é o sinistro Suidani, vivido por Alexander Siddig (o eterno Dr. Bashir de Star Trek: Deep Space 9), talvez o verdadeiro vilão da série. Como curiosidade, um dos personagens da série é Mohamed Bin Laden (Tim Seyfi), o pai do Osama, que inclusive aparece em cena.

De vez em quando, a série chega a ficar piegas como nas cenas com a tela dividida mostrando a separação entre Cohen e Nadia, mas o sentimento é perfeitamente compreensível que deve ter sido realmente bem duro para os dois, especialmente para ela, que teve que criar os filhos do casal sozinha. Um detalhe interessante da série é a fotografia, na qual Israel é sempre mostrada em um tom sépia, enquanto a Síria tem cores mais saturadas, especialmente nas cenas em que Kamel está se arriscando ao máximo para descobrir os segredos sírios.

O Espião tem um ritmo próprio, e pode cansar a quem prefere algo mais rápido, mas se for apreciada com calma, sem sair assistindo todos os episódios de uma só vez, como a Netflix nos oferece, pode agradar e muito a quem gosta de histórias de espionagem e política. O mais impressionante de toda a história de Eli Cohen é que ela realmente aconteceu, então é muito bom que ela seja finalmente contada.

Apesar de ser falada em inglês e ser vendida como uma série original Netflix para o resto do mundo, O Espião é uma produção francesa, do Legende Films e do Canal+. A série foi exibida com exclusividade na França no OCS, e a Netflix faz a distribuição no resto do globo. Não tenho visto muita gente falando em nessa série, o que é uma injustiça, já que ela um ótimo nível.

Clique abaixo para assistir ao trailer.

Clique aqui para assistir a O Espião na Netflix.

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