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Carnival Row: série de fantasia tem produção de alto nível e uma trama com muitos clichês

Confira nossa resenha de Carnival Row, nova série de fantasia e mistério do criador de Pacific Rim com Orlando Bloom, Cara Delevingne e Jared Harris

4 anos e meio atrás

Terminei de assistir nesta semana Carnival Row, e nesta resenha vou falar minhas impressões sobre a série de fantasia criada por Travis Beacham. A história se passa em uma cidade steampunk, o Burgo, no qual humanos e seres de fantasia convivem, embora não muito pacificamente.

Pra resumir a ópera, 7 anos antes da série, o Burgo e o mundo das fadas se uniram para enfrentar um grande inimigo, o Pacto, só que depois de várias derrotas, os soldados do Burgo se retiram, deixando os seres mitológicos para serem conquistados pelo Pacto. Se a trama soar muito familiar, não é por acaso, pois o autor busca influências de várias fontes.

No presente deste mundo imaginário, a cidade/estado Burgo é populada por humanos, que convivem com os seres mitológicos, geralmente em posição de criados. A diversidade não se resume a fadas, faunos e centauros, e em uma cena de flashback, conhecemos até lobisomens, que são usados como arma de guerra pelo exército do Pacto.

O personagens principais já foram um casal secreto: Orlando Bloom vive o detetive Philo, ou melhor, Rycroft Philostrate, que precisa investigar um misterioso crime, enquanto Cara Delevingne é a fada Vignette Stonemoss, que busca encontrar o seu espaço em um mundo no qual é uma estranha completa. Philo acaba se mostrando muito importante para a trama, enquanto Vigne fica alternando entre apaixonada e irritada com o seu parceiro.

O detetive Philo precisa investigar uma onda de assassinatos feitos por uma espécie de Jack o Estripador local, conhecido como Jack Invisível. As coisas vão se tornando mais graves, e mais próximas de Philo depois do assassinato de uma fada. O melhor episódio pra mim é o terceiro, Kingdoms of the Moon, que explica melhor a relação entre Philo e Vignette quando eles se conheceram em Tirnanoc.

Os primeiros episódios envolvem muito bem os espectadores, mas no final, Carnival Row infelizmente acaba derrapando, mas mesmo assim, continua sendo uma viagem divertida. A série funciona melhor quando foca no lado policial steampunk, na busca pelo mentor intelectual dos assassinatos.

Os roteiristas também gostam de dar destaque ao romance impossível entre um humano e uma fada, algo que funciona muito bem por alguns episódios, mas acaba caindo em um vai e vem meio chato, além de outro casal sobre o qual não vou comentar aqui pra não dar spoilers da trama, mas pra mim, a parte mais interessante de Carnival Row é seu misterioso monstro, que é totalmente inspirado nos escritos de H.P. Lovecraft, com várias pitadas do Frankenstein de Mary Shelley.

Indo além do sobrenatural, do seu lado policial e do romance, a série também tem sua camada política que nem sempre decola, mas que serve para deixar as peças posicionadas para uma evolução no futuro, leia-se a próxima temporada. Por falar nisso, a série já foi renovada pela Amazon para a segunda leva de episódios, que a julgar pelo curso da trama, será completamente diferente da primeira.

Em Carnival Row, vemos as intrigas que acontecem dentro e fora do parlamento, dividido entre dois partidos, o do Chanceler Absalom Breakspear (Jared Harris), que é favorável ao convívio pacífico entre as diferentes espécies, e o do líder da oposição, Ritter Longerbane (Ronan Vibert), um político com políticas claras contra qualquer tipo de imigrante ou refugiado.

Também são importantes para a trama, os seus filhos, já que no sistema político do Burgo, eles também são considerados seus sucessores, tanto o herdeiro do Chanceler, Jonah Breakspear (Arty Froushan) quanto a filha de seu opositor, Sophie Longerbane (Caroline Ford).

É meio chover no molhado depois de Chernobyl, mas mais uma vez gostei muito da atuação de Jared Harris. Seu Chanceler Breakspear pode começar mais contido, mas tem direito ao seu momento de brilho mais para o final da temporada. Quem brilha também e muito ao seu lado é a atriz Indira Varma, que vive Piety Breakspear, a poderosa primeira-dama do Burgo.

Estão ótimos David Gyasi como o fauno Agreus, Tamzin Merchant como Imogen Spurnrose, Andrew Gower como seu irmão, Erza Spurnrose, além Karla Crome como a adorável Tourmaline Larou, que é responsável por uma cena de sexo aéreo. Também são dignos de muitos elogios Jamie Harris, como o odiável Sargento Dombey, e Simon McBurney, como o artista de rua Ronyan Millworthy, dono de pequenas criaturas que atuam em seu teatro de rua e que eu adoraria que existissem de verdade.

Como surgiu Carnival Row?

Carnival Row é uma série original, que não foi inspirada em nenhum conto ou livro publicado. Ela foi escrita por Travis Beacham quando ele ainda era estudante, mas foi só depois que ele se tornou roteirista profissional, tendo assinado filmes como Pacific Rim (Círculo de Fogo), que ele conseguiu vender seu projeto para a Amazon no que se tornou uma série de TV para o Prime Video.

Se por um lado é interessante que o roteiro tenha sido transformado em uma série, pois se fosse um longa-metragem, tudo teria ficado muito corrido, por outro, os roteiristas acabaram com mais tempo para se enrolarem nas cordas nos últimos episódios, todos bem previsíveis, já que foram recheados de todos os clichês possíveis para histórias de fantasia, desde A Bela e a Fera até Game of Thrones, passando por O Senhor dos Anéis.

Assim como em alguns países do nosso mundo, as manifestações anti-imigrantes são cada vez mais sonoras na sociedade do Burgo. Uma curiosidade é que Guillermo Del Toro esteve envolvido com o projeto, do qual iria dirigir o piloto, mas acabou se desligando por motivos de falta de tempo.

Todo o universo de Carnival Row parece muito bem pensado e desenvolvido, inclusive as dificuldades sociais de interação entre as diferentes espécies que convivem no Burgo. A série também é uma história policial, com a busca pelo assassino serial que também é sobrenatural. A série tem vários lados, mas se consegue o feito de acertar na maioria deles no começo da temporada, infelizmente perde o rumo no final, mas mesmo assim, pretendo dar uma chance para a segunda temporada, já confirmada pela Amazon.

É isso. Se eu reclamei muito da série nessa resenha, é por reconhecer o potencial da história, e por isso mesmo, esperar mais dos roteiros. De qualquer forma, a diversão do espectador que gosta de filmes e séries de fantasia, mesmo com as ressalvas que levantei nesse texto, é praticamente garantida. Trata-se ao mesmo tempo de uma história de fantasia com intrigas políticas bem desenvolvidas, um romance impossível entre diferentes mundos, e uma guerra aparentemente sem fim (ou propósito), sem esquecer do mistério policial lovecraftiano.

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Clique abaixo para assistir ao trailer.

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