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Cientista propõe fim da exploração planetária e a longo prazo extinção da humanidade

Um cientista e um jornalista estão dizendo que nunca iremos explorar outros planetas. Ambos estão absolutamente errados. Continue lendo e entenda

4 anos e meio atrás

Dizem que um cientista sem escrúpulos é algo perigoso, mas muito, muito mais perigo traz um cientista sem imaginação. É o caso de Michel Mayor, que tem um Nobel de Física no bolso e teias de aranha na cabeça.

Arthur Clarke em sua sabedoria estabeleceu como sua Primeira Lei o seguinte:

"Quando um cientista reconhecido, mas idoso, diz que algo é possível, ele quase com certeza está correto. Quando ele diz que algo é impossível, ele muito provavelmente está errado."

Michel Mayor, do alto de seus 77 anos, não é pouca caca não. Ele descobriu o primeiro exoplaneta potencialmente habitável, mas demonstrou um imediatismo constrangedor em uma entrevista.

"Se estamos falando sobre exoplanetas, as coisas precisam ser claras: não vamos migrar para lá. Esses planetas estão muito, muito longe. Mesmo no caso mais otimista de um planeta habitável que não está muito longe, digamos algumas dúzias de anos-luz, o que não é muito, o tempo para chegar lá é considerável. Estamos falando de centenas de milhões de dias usando os recursos que temos disponíveis hoje."

No contexto, Mayor está falando de gente que acha que caso não achemos solução para os problemas da Terra, é só emigrar para outro planeta, como naquela bobagem que é Interestelar (sim, pode xingar nos comentários). Ele está certo, é idiota migrar para outro planeta e repetir os erros de sempre, mas o problema é que o argumento dele, abraçado e ampliado neste infeliz texto do TNW.

O jornalista faz tudo para repetir o cansado discurso de que nada pode ser feito pela primeira vez, os argumentos são no mínimo risíveis. Ele define "inabitável" como um lugar aonde você não pode sobreviver sem acomodações que não ocorram naturalmente. Pois bem, champs, se o Rio de Janeiro fosse mato puro eu morreria de pneumonia na primeira chuvarada, nem por isso (por outros motivos sim) a cidade é inabitável.

A chuva de argumentos continua, o sujeito diz que não temos como terraformar Marte por isso ele é inabitável, que nunca teremos como chegar a outros sistemas solares e que a exploração espacial está nos distraindo da luta contra o aquecimento global.

A cereja do bolo é quando ele diz que é bobagem pensar em colonização de outros planetas pois eu ou você não iremos participar disso, que só faria sentido se milhões de pessoas migrassem e isso não aconteceria. Sim, o sujeito defende uma lógica pela qual as Américas não existiriam. No final ele diz que nunca teremos grandes colônias em Marte e na Lua e, se queremos preservar a espécie, temos que resolver o aquecimento global.

Essa sim é uma visão tacanha e imediatista, e nem nova é. Já houve uma espécie que se achava dona do mundo, que não se preocupava com exploração espacial e vivia em harmonia com a natureza.

Hoje o habitat natural dela são cisternas dos postos de gasolina.

Basicamente o Dr. Mayor diz que não vamos viajar para fora do Sistema Solar por ser muito longe e o autor do artigo diz que não teremos uma população expressiva fora da Terra, por ser desconfortável.

Nós somos exploradores

Uns 3 mil anos atrás, um grupo de viajantes saiu de Taiwan em direção a águas mais quentes e novas oportunidades. Com o tempo esse grupo se espalhou por milhares de pequenas ilhas, formando um triângulo com mais de 6 mil quilômetros de lado.

Sem escrita, sem instrumentos de precisão, os navegadores polinésios enfrentavam o Oceano Pacífico, viajando entre ilhas separadas por centenas, às vezes milhares de quilômetros.

Os navegadores polinésios usavam a temperatura da água, força e direção dos ventos, pássaros, padrões das ondas, posição do Sol e da Lua e constelações. Eles decoravam mais de 150 estrelas e todo esse conhecimento era repassado na forma de histórias e canções, cada nova ilha descoberta era acrescentada ao folclore.

Em 2007 um achado no Chile deixou muita gente de queixo caído: ossos de galinha, que depois de analisado seu DNA, eram idênticos ao de galinhas criadas em Samoa e Tonga. Ou seja: por volta do ano 1.300, quase 200 anos antes de Colombo e Cabral, um grupo de exploradores da Polinésia atravessou 8 mil quilômetros de mar aberto, e foi parar na costa oeste da América do Sul, e foram tão legais que trouxeram até o almoço.

Nosso amigo jornalista é da tribo que achou melhor ficar longe do Monolito, ele é do grupo que não tem curiosidade, se contenta perfeitamente em apenas existir, foca nas necessidades imediatas e no final do dia está cansado demais para olhar para as estrelas. Pior, ele critica os sonhadores, os não-conformistas, os que acham que há mais para ser visto, mais para ser conhecido.

Os Vikings saíram da Escandinávia e exploraram e colonizaram de Gibraltar até a Rússia, da América do Norte ao Mar Cáspio. O próprio nome "Rússia" deriva de uma palavra viking.

É óbvio que a grande motivação do pouso na Lua foi política, mas para o mais de 1 bilhão de pessoas que acompanharam tudo ao vivo, a política era a menor das preocupações. Naquele momento nós éramos as crianças polinésias ouvindo histórias de grandes exploradores, éramos os camponeses medievais que em troca de comida e hospedagem, éramos brindados com contos de terras distantes, narrativas contadas por monges e viajantes.

Neil Armstrong pisava na Lua e nós ouvíamos sobre estranhos e exóticos animais, povos com peles diferentes, costumes diferentes que eram tão curiosos sobre nós como nós por eles. Seja Armstrong, Musk, Marco Polo, esses pioneiros mantém acesa a centelha da exploração, que nos fez querer saber o que havia do outro lado do rio, o que havia além da próxima montanha.

ESSE é o grande diferencial da Humanidade, querido jornaleiro da TNW. É isso que nos faz diferente de... você. Vai ser difícil? Com certeza, os primeiros anos, talvez as primeiras décadas em Marte e na Lua serão terríveis  e nem todo mundo vai querer ir pra lá. Pombas, nem pro Brasil, com promessa de vergonhas altas e cerradinhas o pessoal quis vir no começo, mas com o tempo os exploradores dão lugar aos colonizadores.

Sua certeza é uma bobagem, certo mesmo é que sim, teremos milhões de pessoas em Marte e na Lua, e quando começarmos a explorar o Sistema Solar à vera, teremos colonias em Titã e Europa e cidades nas nuvens de Vênus.

E um dia, quando tivermos dominado a construção de naves realmente grandes, e tivermos perdido a paciência de esperar uma revolução na Física que torne possível um Motor Alcubierre, vamos criar naves multigeracionais, humanos partirão rumo às estrelas, sabendo que não verão o final de sua jornada, mas seus descendentes levarão nossa cultura, nossa história e nossa curiosidade para planetas a dezenas de anos-luz de distância.

Acontecerá realmente? Se não nos destruirmos antes, muito provavelmente, mas certeza absoluta mesmo é que se nos restringirmos a um planeta, vamos morrer. Seremos extintos pela próxima grande labareda solar, por uma explosão de raios-gama ou por um bom e velho asteroide quilométrico. Nós somos uma espécie sem backup, todas os nossos ovos estão na mesma cesta e como disse Konstantin Tsiolkovsky...

"A Terra é o berço da humanidade, mas você não pode ficar no berço a vida toda."

Outra certeza é que a raça humana não cresce com gente que acha que três meses no mar é um incômodo muito grande. Quem coloca a curiosidade, o desejo da exploração e do conhecimento acima disso, descobre a América. O que não dá é querer ir até onde ninguém jamais esteve, de Uber.

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