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Star Wars: A Ascensão Skywalker - review sem spoilers

Star Wars: A Ascensão Skywalker é o fim da saga, o fim de uma era, uma adorável apesar de estafante (a ação não pára) despedida para os fãs mais antigos.

4 anos atrás

Star Wars: A Ascensão Skywalker é o fim. Não de Guerra nas Estrelas, mas de uma saga, um arco de nove filmes, 42 anos de história. Crianças viraram pais e alguns até avós, seguindo a Família Skywalker. O mundo mudou, nós mudamos e agora temos que lidar com esse fim. É uma morte em família ou um parente querido que parte para uma longa jornada?

Quarenta e dois anos atrás um grupo de rebeldes esfarrapados era a última esperança para salvar a galáxia do malvado Império. Com a simpatia automática de toda situação Davi x Golias, nos enamoramos pela Aliança Rebelde (ok, principalmente pela Princesa Leia).

Chega a ser irônico o segundo filme ser o mais dark de todas as trilogias, A Nova Esperança só durou até a destruição da primeira Estrela da Morte, George Lucas ousou um filme onde os heróis perdem, o personagem mais popular é congelado em carbonite e levado embora em uma vírgula voadora e temos o choque de uma vida ao descobrir que Vader é Anakin Skywalker.

A Saga de Guerra nas Estrelas teve altos e baixos, cada vez que algum "fã" reclama que The Last Jedi não é o filme perfeito que só existe na cabeça dele e que "A Disney destruiu Star Wars", eu lembro de Caravana da Coragem (foram DOIS) filmes e do Especial de Natal, que para desespero de todos, graças ao Mandalorian, agora é canônico.

Star Wars: A Ascensão Skywalker - Onde Estamos

Depois do perrengue passado no Último Jedi, Rey descobre que não é filha de ninguém famoso, nem conta verificada no Instagram seus pais tinham. Luke morre para salvar os rebeldes, Leia comanda o que restou da Rebelião e ninguém quer ajudar, estão todos literalmente sozinhos.

Do outro lado temos Kylo Ren, o sujeito que fez besteira e agora se afunda cada vez mais na lama, o que não deixa de ser um reflexo de Luke Skywalker, que se exilou do mundo depois que sua reação exagerada e confiança cega na Profecia da Força o fez tentar matar o sobrinho e filho do melhor amigo.

Para piorar, Palpatine está de volta. E quer matar Rey, aparentemente o único obstáculo entre ele e a dominação total da galáxia.

Em Star Wars: A Ascenção Skywalker ninguém respeita o vô.

Em Star Wars: A Ascensão Skywalker ninguém respeita o vô

Parece com os outros filmes? Meus parabéns, Star Wars segue o mesmo arco de história de 42 anos.

Rey vai ser tentada pelo Lado Negro, ela carrega muita raiva e ressentimento por ter perdido os pais. Será que teremos uma reviravolta, Rey se tornando maligna, Kylo Ren vindo pro Lado Claro da Força e salvando o dia?

NÃO! Star Wars: A Ascensão Skywalker é justamente o oposto disso. Aprendemos que só um Sith lida com absolutos, mas Jedis não trabalhavam muito bem o meio-termo, até Yoda explicar a Luke que a Força é muito maior do que nossas meras disputas galácticas. A grande mensagem desse filme é justamente que o caminho do meio é uma opção, é possível viver longe do extremismo.

Star Wars: A Ascensão Skywalker é acima de tudo uma despedida planejada, com personagens como Chewie e C3PO tendo muito tempo de tela e oportunidade de expressar emoções como nunca fizeram antes. Mesmo a Rey, que era irritantemente perfeitinha, e ainda é em alguns momentos (afinal nada mais natural que uma criança criada num planeta desértico ser uma excelente velejadora) também tem suas dúvidas.

Em verdade Rey é bem atormentada, perde o controle dos poderes e é cheia de dúvidas, ela só é marrenta no Twitter. Sua grande limitação é que ela não pode crescer como pessoa se nem sabe quem ela é.

Participações Afetivas em Star Wars: A Ascensão Skywalker

OK, se eu falar vira spoiler, mas uma cena apareceu no trailer então dá pra dizer: Lando Fucking Calrisian está de volta, e Billy Dee Williams não perdeu 1% do charme de antigamente. Bom demais ver Lando e Chewie na cabine da Aluminum Falcon metendo bala nos imperiais, e dessa vez Lando não está usando a roupa do Han (sério, no final de Império ele está usando a roupa do Solo).

Há as participações esperadas e algumas BEM surpresa, no estilo "num credito!". Uma delas é fundamental para mudar o destino de um personagem importante. Também temos Warrick Davis e Dennis Lawson como Wedge Antilles!

Star Wars: A Ascenção Skywalker - Agora com mais Lando Calrisian

Agora com mais Lando Calrisian

O Problema do roteiro

Ah, o roteiro. Desde que Orson Welles parou de escrever os filmes de Star Wars o roteiro decaiu muito. Bons tempos em que A New Hope ensinou tantas gerações como criar um roteiro complexo, cheio de reviravoltas, desenvolvimento de personagens - pois é, o roteiro do primeiro Star Wars cabe nas costas de um selo.

Lembrem-se: o adversário de Luke se chamava Pai Negro em holandês e o grande mistério era quem seria sua irmã, numa história que só tinha uma mulher entre os protagonistas. A Jornada do Herói nunca foi necessariamente complexa, e as alegações de que Finn, Rey e Poe só avançam por causa de sorte criada no roteiro, bem, por que diabos o droide que o Tio Owen comprou queima na hora exata pro C3PO sugerir ao Luke o R2D2?

Quase tudo em Star Wars é explicado como ação da Força, e em Star Wars: A Ascensão Skywalker isso é explícito. É "roteiro fraco"? Talvez, mas aí você terá que classificar todos os filmes da série como roteiro fraco e admitir que perdeu seu tempo nos últimos 40 anos acompanhando uma saga ruim.

Star Wars é muito mais que um roteiro, são arquétipos, deslumbramento, batalhas épicas, festas estranhas e gente esquisita. Star Wars: A Ascensão Skywalker tem tudo isso, além de todos os bem-vindos clichês, como o clássico "I have a bad feeling about this". E sim, tem braço arrancado. Não é Star Wars sem braço arrancado, a regra é clara.

A Emoção

Há alguns momentos em que a atmosfera ambiente fica mais umedecida do que painel de Twilight na ComicCon. Um deles é estranho, uma morte que a gente já esperava, não deveria afetar. Bate forte também um momento de redenção inesperado, daqueles "essa personagem não pode ficar boazinha agora senão estraga a história", mas aí eu percebi que já vi isso antes, e não estraga.

De todos, dois momentos foram especiais, a Batalha de Helm´s Deep e o magnífico momento Tony Stark da Rey.

"Família você escolhe" - Lembre-se disso

Corrigindo Injustiças

Os chatos, que adoram usar termos como "retcon"  e "fan service" vão reclamar e muito, mas uma injustiça histórica de 42 anos foi corrigida, com ajuda da Lupita Nyong'o, um momento mal-explicado do Last Jedi foi explicado, Rey estar muito mais poderosa também faz sentido (ela continuou seu treinamento) e algo óbvio que muita gente reclamou depois do Império foi corrigido, explicando várias das correções já citadas.

Digamos que é o tipo de diversidade que nem os fãs mais reacionários vão questionar.

O Grande Problema

Sendo realista, a Disney não sabe fazer sagas, pronto falei. Ela faz continuações excelentes, mas não planejadas. O Despertar da Força foi basicamente um reboot do A New Hope, e vários ganchos foram deixados, mas não havia nada pensado a fundo para uma nova trilogia, cada novo filme foi feito tentando encaixar uma história na anterior. Há ZERO indicação do destino final da Rey, no primeiro filme. Até o final do segundo a gente sequer sabe se ela é filha do Luke ou não.

J.J. Abrams teve que gastar parte do filme corrigindo problemas do anterior, o que explica os 142 minutos de duração. Ficou perfeito? Claro que não, nenhum filme é perfeito, mas ficou bem-amarrado. Que a Disney tenha aprendido a lição, e passe a planejar suas sagas de forma mais ambiciosa. James Gunn está aí pra isso, caras.

Fischer em Star Wars: A Ascenção Skywalker

Snif.

O que não tem em Star Wars: A Ascensão Skywalker

Longos discursos, negociações de acordos comerciais, intrigas palacianas, namoro na grama e reclamações de areia em locais inconvenientes, Emo Ren, personagens desconhecidos assumindo o protagonismo das cenas, e Pod Racing. Há pouquíssima exposição no filme, JJ entendeu que se você vai ver o NONO filme de uma franquia, já passou da hora de ter que parar tudo pra explicar a trama.

O que tem em Star Wars: A Ascensão Skywalker

Porgs e Ewoks, o que restou da Batalha de Endor e Tatooine. Pro local mais distante do centro brilhante da galáxia, Tatooine é um lugar muito visitado nessa saga.

O Segredo para amar Star Wars

Star Wars é simples. É uma saga do Bem contra o Mal, com heróis predestinados, que se estende por gerações. É um erro tentar ver com olhos adultos uma história que nos cativou quando crianças, não me interessa se parsercs são unidades de distância e não de tempo, eu não quero saber de midichlorians ou como a Força funciona. Não me importa se o Luke poderia aparecer como fantasminha e dar o caminho das pedras pra todo mundo.

Toda narrativa só funciona dentro dos limites criados pelo autor. Um filme tem que mexer com suas emoções, e Star Wars faz isso brilhantemente, na primeira morte importante eu só não gritei "CACHORRA!!!!" no cinema pra não melindrar o Nick Ellis do meu lado.

Hora do Adeus

Depois de todos esses anos, meus personagens queridos finalmente descansarão. Eu vi o começo e o fim de suas histórias. Alguns bem antigos, como R2D2, o primeiro a aparecer na saga, outros mais recentes. Óbvio que não tenho o mesmo apego emocional pela Rey, Finn, Poe ou Ben, mas cada um teve seu papel. Principalmente Finn, que tirando Clone Wars, a primeira vez que a gente se importa com um Stormtrooper. Mais do que alívio cômico, ele cresceu para se tornar um líder rebelde de respeito.

Citando outra Star, no caso Trek, todas as coisas boas um dia chegam ao fim e a Saga dos Skywalker acabou, a galáxia agora é uma tela limpa, em branco, pronta para inúmeras novas aventuras, onde o passado deve ser honrado, mas não repetido ou usado como âncora.

Infelizmente Carrie Fissher, Peter Mayhew, Kenny Baker, Peter Cushing, Sir Alec Guinness e tantos outros não estão mais entre nós para celebrar, mas no coração de todo fã eles assistem a tudo, como fantasminhas da Força.

Cotação:

6/5 Porgs (de novo)

 

 

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