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The Last Guardian e a genialidade de Fumito Ueda

Após relutar por muito tempo, resolvi jogar o The Last Guardian e agora ficou ainda mais claro o quão brilhante é o seu criador, Fumito Ueda.

4 anos atrás

A quantidade de ídolos que tenho na indústria de videogames é muito pequena, talvez dê para contar nos dedos de uma mão, mas um deles certamente é Fumito Ueda. Embora não tenha a fama de figuras como Hideo Kojima, Shigeru Miyamoto ou Will Wright, considero este sujeito um verdadeiro gênio e nos últimos dias tive mais uma demonstração do seu talento.

Fumito Ueda

Depois de muito adiar este momento, na semana passada senti uma súbita vontade de jogar o The Last Guardian e apesar de alguns percalços que tive que transpor para chegar ao final do jogo, posso dizer que a experiência foi tão boa ou até melhor do que eu esperava. Mas antes de falar sobre o jogo, me permita contar um pouco da carreira de Ueda-san.

Nascido em 1970 na cidade de Tatsuno e formado na Universidade de Artes de Osaka, a intenção de Fumito Ueda sempre foi se tornar um artista. Porém, após perceber que teria muita dificuldade em ganhar dinheiro desta maneira, ele decidiu tentar uma carreira na indústria de games.

Seu primeiro trabalho foi como animador no jogo Enemy Zero, para SEGA Saturn e depois ele acabou sendo contratado pela Sony. Mostrando uma incrível capacidade de propor ótimos designs e conceitos, Ueda recebeu a missão de dirigir seu primeiro projeto, que veio a ser conhecido como o espetacular ICO. Apesar do jogo não ter se tornado um sucesso comercial, a crítica o adorou e por isso o game designer ganhou outra oportunidade: começava a nascer o igualmente fantástico Shadow of the Colossus.

Então Fumito Ueda tratou de se dedicar a um novo game e naquele momento sua carreira passaria por uma séria turbulência. Com o desenvolvimento do The Last Guardian se arrastando por longos anos e a pressão sobre o pessoal do Team Ico aumentando absurdamente, em 2011 o japonês decidiu deixar a Sony, mas para não abandonar o projeto ele atuaria como contratado, sob o nome do genDESIGN, seu novo estúdio.

Mesmo assim a produção seguiu por mais alguns anos e o título que havia sido prometido para o PlayStation 3 só acabou sendo lançado para o seu sucessor, lá em 2016. Pois é aí que entra a minha história com o The Last Guardian.

Sem ter um PlayStation 4 na época, eu queria muito poder experimentar aquela obra, mas como isso não seria possível, evitei o máximo que pude saber o que o pessoal estava achando dela. O cenário mudou em 2017, quando surgiu a oportunidade de adquirir o console e como um dos principais motivos para fazer isso era poder jogar o terceiro jogo de Fumito Ueda, tratei de garantir uma cópia do game o quanto antes.

No entanto, mesmo com o jogo no HD do console eu permanecia relutando em iniciá-lo e havia dois motivos para isso. O primeiro era o temor de, depois de um desenvolvimento tão conturbado, Ueda-san não ter conseguido repetir a excelência que vi nos seus dois jogos anteriores. Já o segundo medo se formou após ler relatos de que o título só rodava satisfatoriamente num PS4 Pro e como este não é o modelo que possuo, não queria ter minha experiência prejudicada por um desempenho ruim.

Bom, quanto ao segundo motivo, preciso dizer que ele se confirmou. Jogar o The Last Guardian num PlayStation 4 Slim é ter que conviver com constantes quedas de frames, a ponto de em alguns momentos o jogo quase parar. No início eu até cogitei abandonar a jogatina, mas conforme progredia aquela história me deixava mais intrigado (e fascinado) e decidi insistir.

Eis que agora, tendo terminado mais essa aventura criada por Fumito Ueda, ficou claro para mim o quanto ele é um game designer brilhante e o quanto valeu a pena ignorar um péssimo framerate e um sistema de câmera que teima e não estar no melhor ângulo em várias ocasiões.

Jogar The Last Guardian é mais uma vez ser transportado para uma universo incrível, onde na maior parte do tempo não sabemos como o protagonista foi parar ali, nem mesmo as suas motivações. É explorar cenários imensos, queimar alguns neurônios enquanto tentamos descobrir como solucionar alguns quebra-cabeças e relutar em sair do videogame simplesmente porque queremos ver o que acontecerá na próxima “sala”.

Mas acima de tudo, jogar o The Last Guardian é conhecer uma linda história de amizade entre dois seres muitos diferentes. A sensação de companheirismos que se desenvolve entre o garoto e o bizarro monstro chamado Trico é difícil de descrever, algo que raramente vemos num jogo eletrônico e que mesmo em outras mídias não é fácil de ser alcançado.

Enfim, hoje entendo as dificuldades pelas quais Ueda e sua equipe tiveram que passar, afinal animar aquele ser e refinar a sua impressionante inteligência artificial deve ter dado um trabalho absurdo. Para quem tem ou já teve um cachorro (ok, mesmo que sem penas ou asas), é praticamente impossível não ficar parado em alguns momentos apenas observando as ações e reações do Trico, o que só ajuda a tornar o jogo ainda mais sensacional.

Depois de pensar sobre o assunto e ainda digerindo tudo o que o The Last Guardian me proporcionou, cheguei a conclusão de que não consigo definir qual o jogo de Ueda-san que mais gosto, pois para mim, cada um deles conseguiu me tocar de uma maneira diferente e me conquistar por suas próprias qualidades. O que sei é que em se tratando de videogames, arrisco a dizer que talvez ninguém consiga criar aventuras tão fantásticas — na acepção da palavra — quanto Fumito Ueda.

Já sobre o futuro, coincidentemente nos últimos dias a conta do genDESIGN no Twitter publicou uma arte conceitual do projeto que eles estão desenvolvendo no momento e embora ela não revele muita coisa, me permito acreditar que outra obra de arte esteja vindo por aí.

 

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