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NASA descobre o Planeta da Noite Sem Fim

O planeta habitável tem um lado eternamente noturno

4 anos atrás

O cientista J. B. S. Haldane uma vez falou: "suspeito que o universo não seja só mais estranho do que imaginamos, mas mais estranho do que conseguimos imaginar". E quanto mais desenvolvemos meios de estudar o universo, coisas mais estranhas aparecem, como o Planeta da Noite Sem Fim, TOI 700 d.

Olha lá o Planeta da Noite Sem Fim

TOI 700 d orbita uma estrela chamada TOI 700, que não tem nada demais, não é nenhum Rao. É uma anã vermelha com 0,4 massas solares, metade da temperatura de nossa estrela e localizada a 101,4 anos luz de distância da Terra.

A estrela além de TOI 700 d, possui mais dois planetas e o que é especial aqui é que embora TOI 700 c seja um gigante gasoso, com 7,48 massas terrestres, TOI 700 b possui apenas 1,07 massas da Terra e TOI 700 d, 1,72.

O que é impressionante aqui é que esses planetas foram sequer identificados. Estamos falando de 100 anos luz. A Enterprise de James Kirk, em fator de Dobra 6 levaria 169 dias para fazer a viagem. Até pouco tempo não teríamos esperança de detectar algo tão pequeno quanto uma Terra, mas os novos telescópios espaciais e sondas como a TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) mudaram isso.

A TESS utiliza uma técnica que mede a variação de luz de uma estrela, durante o trânsito de um planeta, essa variação consegue informar dados como período orbital, distância da estrela, tamanho aparente do planeta, etc.

É assim que se mede o Planeta da Noite Sem Fim

Claro, essas variações são um pentelhonésimo de micronada, os detectores e algoritmos usados são insanos, mas a TESS foi projetada para isso e as descobertas não param de chegar, tornando TOI 700 d um lugar cada vez mais interessante.

Primeiro de tudo, ele fica no limite da Zona dos Cachinhos Dourados, como é chamada a região habitável na órbita de uma estrela, frio o bastante para ter água líquida, mas não tão frio que seja um planeja congelado (estou olhando pra você, Hoth).

Agora o mais curioso: todos os planetas desse sistema solar passam por um efeito chamado travamento por maré, causado pelo "atrito" entre o planeta e a estrela. Como os corpos não são exatamente esféricos, uma parte do planeta acaba sendo mais atraída pela gravidade do que o outro lado, com isso o planeta vai girando cada vez mais devagar em torno de seu eixo, até o ponto em que o período de translação em torno de seu eixo é o mesmo de sua órbita.

Isso é raro? Não mesmo, temos um exemplo aqui no nosso quintal:

A Lua, depois de alguns milhões de anos teve seu período de rotação reduzido, até sincronizar com sua órbita em torno da Terra, por isso ela tem um lado oculto (não um lado escuro, sorry Pink Floyd, se vocês entendessem de astronomia se chamariam Queen).

Esse tipo de fenômeno em uma lua é interessante, mas não se compara a um planeta, os cientistas estão todos assanhados imaginando e simulando todas as possibilidades. A primeira e óbvia conclusão é que TOI 700 d é o Planeta da Noite Sem Fim, com um lado permanentemente na escuridão, um paraíso para vampiros, amantes e vigias noturnos, fabricantes de lâmpadas e gente feia.

O outro lado, permanentemente dia, recebe todo o calor e luz da estrela. Agora imagine como isso afeta o clima do planeta. Quais os efeitos a longo prazo nos padrões de vento, chuvas, marés? Será um lado congelado e o outro tomado por furacões?

Uma possibilidade é que TOI 700 d seja um "planeta-olho", nome dado por causa do efeito visual de um hemisférico com zonas térmicas concêntricas:

TOI 700 d, o Planeta Da Noite Eterna é um excelente candidato para um mundo habitável, e sua estranheza vai além de seu clima totalmente alienígena. Imagine uma espécie que evolua nesse planeta. Por milhares de gerações acostumados à escuridão ou à luz, sem ideia do conceito de dia ou de noite. Um dia um explorador se aventura nas zonas desconfortavelmente frias ou quentes e seu mundo vira do avesso.

Em sua novela de 1941, O Cair da Noite, Isaac Asimov conta a história de um planeta em um sistema com vários sóis, e que uma vez a cada 300 anos uma conjunção entre esses sóis faz com que o planeta experiencie... uma noite. As pessoas ficam loucas de desespero com a escuridão e as nunca vistas estrelas.

Os hipotéticos habitantes de TOI 700 d não correm esse risco, mas do mesmo jeito que muita gente nunca viu o mar, muitos deles nunca terão visto a noite, a não ser em descrições, filmes e planetários.

De todas as situações envolvendo os tais habitantes do planeta que deve ter um nome local melhor que TOI 700 d, há uma que me deixa especialmente triste, pois por mais tecnologia que tenham, mesmo que desenvolvam viagens espaciais, eles nunca serão capazes de algo tão simples quanto sentar em uma praia e assistir a um pôr-do-sol.

Pôr do sol que não tem no Planeta da Noite Sem Fim

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