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6 quadrinhos do selo Vertigo para fugir um pouco dos super-heróis

O selo Vertigo, da DC Comics é voltado para histórias adultas, que fogem do estilo de super-heróis, com mais liberdade criativa, Conheça as melhores

4 anos atrás

O selo DC Vertigo era, até janeiro de 2020, a parte "adulta" da DC, com quadrinhos sérios, sombrios, violentos, às vezes com nudez, palavrões e conteúdo não-apropriado para crianças. Como forma de arte, quadrinhos são apenas um meio, usado para contar todo tipo de história. Apenas o desconhecimento e a falta de curiosidade fazem com que a gente associe o meio automaticamente a gente com a cueca por cima da calça.

Embora tenham histórias magníficas, o quadrinho de super-herói do dia-a-dia não é realmente a coisa mais criativa do mundo, as grandes editoras possuem processos extremamente democráticos, personagens ficam indisponíveis o tempo todo e há décadas e décadas de continuidade a ser mantida, ignorada, refeita. A liberdade criativa acaba sendo bem pequena, uma história como Watchmen jamais poderia sair em um gibi de linha.

O Selo Vertigo permite que os autores fujam disso tudo, e o resultado são títulos memoráveis. Então, sem mais delongas, seja lá o que sejam delongas, vamos a alguns sem nenhuma ordem em especial:

1 - Preacher

Criado pela mente doentia de Garth Ennis e brilhantemente ilustrado pelo finado Steve Dillon, Preacher conta a história de Jesse Custer, um pastor alcoólatra de uma cidadezinha do Texas que é possuído por Gênesis, filho profano de um anjo e uma demônia e talvez a criatura mais poderosa do Universo, a ponto de Deus fugir. Custer ganha o dom da Palavra, podendo comandar qualquer um a fazer o que ele quiser.

A história foi publicada entre 1995 e 2000, foram 66 edições, 5 especiais e uma mini série em 4 números do Santo dos Assassinos. Nesse pacote temos pervertidos, ovelhas, uma organização secreta, o Graal

Não este.

Que vem mantendo a pureza da linhagem genética de Cristo, permitindo apenas cruzamento entre parentes diretos. Eles querem produzir um messias e provocar o Apocalipse. Ah sim, temos um vampiro marrento gente-boa, uma família de psicopatas, dois detetives sexuais atrapalhados... Preacher é diversão garantida, um road movie desenhado.

Preacher foi publicada na íntegra no Brasil pela Panini, está disponível em sete volumes especiais.

2 - Livros de Magia

Timothy Hunter é um garoto inglês, de óculos, que descobre que é ou tem potencial de ser o maior bruxo de sua geração. Para ele é ensinado magia por grandes feiticeiros e tem uma coruja mágica de estimação. Se isso te lembra alguma coisa, aviso que a história saiu bem antes de Harry Potter, mas Neil Gaiman desistiu de reclamar depois que a Rowling faturou umas dez mil toneladas de dinheiros para a editora e os estúdios, e a DC Comics é uma pequena subsidiária do grupo Time-Warner, e por pequena eu digo receita de US$ 47,5 milhões por ano. Só o primeiro Harry Potter faturou US$ 975 milhões nas bilheterias.

E sendo honesto, fora a caracterização as histórias divergem totalmente. Tim Hunter é levado em uma mini série de quatro partes de 1990 a uma viagem onde explora a parte mágica do Universo DC, lindamente escrita por Neil Gaiman. Ciceroneado por personagens como John Constantine, Dr Oculto, Mister Io e o Desafiador, Tim conhece do princípio dos tempos até o Fim do Universo, em uma amálgama de mitologias, ficção científica e magia.

Depois de um hiato Livros de Magia começou a ser publicado como série fixa, com 75 números entre 1994 e 2000, e até hoje vários bons títulos mantém vivo o personagem.

3 - Monstro do Pântano

Originalmente a história do Monstro do Pântano era um quadrinho convencional de terror, o cientista morto por bandidos de uma indústria malvada, mergulha todo contaminado de produtos químicos em um pântano e volta como um monstro. Allan Moore recontou a história, transformando Alec Holland em apenas um template, o Monstro do Pântano se torna um Elemental, o campeão do Verde.

As histórias passam a envolver questões ecológicas, sobrenatural, mitologia nativa... no arco Gótico Americano surge John Constantine, que guia o Monstro do Pântano através dos Estados Unidos, enfrentando ameaças sobrenaturais, culminando em uma guerra entre a luz e as trevas. Nas histórias que se seguem Moore leva o personagem para o espaço, para algumas das melhores histórias de ficção científica já feitas em quadrinhos.

O Monstro do Pântano tem décadas de ótimas histórias, com temas filosóficos, teológicos e às vezes puro total e descontrolado terror, mesmo. Com direito a momentos de pura comédia, como quando o Monstro do Pântano usa o corpo de John Constantine para fazer uma filha (longa história) e aproveita para uma pequena vingança; tatua uma arvrinha na bunda do disgramado.

4 - Y: The Last Man

À primeira vista a premissa é tentadora; uma praga mata todos os indivíduos com cromossoma Y, deixando vivos apenas mulheres e militantes que acham que biologia é uma construção social. E um sujeito chamado Yorick Brown.

Ser o último homem na Terra em um mundo repleto de mulheres soa como uma fantasia adolescente, e o sujeito já faz as pazes com o destino sabendo que vai morrer de Snoo-Snoo.

Na prática Yorick é algo de um monte de grupos que querem sequestrá-lo para ser usado em pesquisas para reverter a praga, outros acham que ele é o culpado, pois é o único homem sobrevivente, e querem sua cabeça.

Escrita por Brian K. Vaughan, a história durou 60 números, entre 2002 e 2008, ganhou vários prêmios e influenciou todo um estilo de histórias de viajantes solitários em sagas.

5 - Lúcifer

Lúcifer Estrela da Manhã, o primeiro entre os caídos, o mais formoso dos anjos, que depois de 10 bilhões de anos se entediou de comandar o inferno, entregou a chave para Morpheus e montou uma boate em Los Angeles.

Criado por Neil Gaiman em Sandman, Lúcifer logo se tornou um personagem adorado pelos leitores, o que é raro pois personagens muito poderosos costumam ser chatos, mas mesmo sendo a segunda criatura mais poderosa do Universo, Lúcifer manteve a linha de boas histórias. Em seu penúltimo arco ele cansou de brigar e criou um Universo só pra ele, cuja única regra era que nenhum deus demônio ou entidade sobrenatural deveria ser adorada.

Lúcifer é a melhor série da Vertigo para quem curte intrigas palacianas metafísicas, e também tem o efeito comprovado de ser ótima para espantar cunhadas chatas carolas, é só deixar o gibi em cima da mesa.

6 - Sandman

É uma heresia alguém ainda não ter lido a Obra-Prima de Neil Gaiman, mas vá lá.

Sandman remonta ao personagem de mesmo nome criado em 1939, então um detetive que usava uma máscara com respirador e uma pistola de gás tranquilizante. O nome é uma referência ao personagem folclórico conhecido no Brasil como João Pestana, uma entidade que jogaria areia mágica nos olhos das crianças para elas dormirem, e a "remela" que a gente coça no olho pela manhã seria resto dessa areia.

Neil Gaiman mudou TUDO.

Sandman, que atende por muitos nomes, mas parece preferir Morpheus, é um dos Perpétuos

Não deste tipo.

Que são... arquétipos. Temos Desejo, Delírio, Destruição, Destino, Desespero, Sonho e Morte, pra quebrar a harmonia do original em inglês com todo mundo começando com a Letra D.

Sonho começa a história aprisionado por 70 anos em uma redoma de vidro por um bando de ocultistas, o que ocasiona toda sorte de problemas pois o Senhor do mundo dos sonhos não está em seu castelo. Gaiman relaciona com isso vários casos reais, como a misteriosa epidemia de Doença do Sono, que surgiu em 1916, durou vários anos e desapareceu misteriosamente.

Sandman é um sonho (DSCLP) de referências, de folclore africano a deuses chineses obscuros, de anjos a bruxas gregas thessalônicas, da Revolução Francesa ao nada politicamente correto método de fazer com que uma musa inspire um escritor.

Sem contar o melhor brinde de todos os tempos:

Sandman se espalha por 75 números, e nem arranha a quantidade de histórias possíveis com os personagens e hoje títulos como The Dreaming mantém viva a criação de Neil Gaiman.

Se desta lista toda você for escolher só um, leia Sandman. Não há arcabouço mais completo, não há universo mais tão bem amarrado. Somente Sandman pode contar em um número uma história sobre César Augusto, imperador romano, baseada em relatos reais e em outro número mostrar a vida de Norton I, o primeiro e único Imperador dos Estados Unidos da América.

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