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Coronavirus - Perguntas e respostas sobre a nova ameaça

Coronavírus é o nome do momento, uma família de vírus que, por uma nova mutação está se espalhando no oriente. Vamos aprender se ele é perigoso mesmo.

4 anos atrás

O Coronavírus, ou mais precisamente a cepa 2019-nCoV, surgiu na China, com seu primeiro contágio em humanos acontecendo em dezembro de 2019. No momento ele já infectou 6.507 pessoas em 20 países, com 132 mortes confirmadas. Seu potencial de contágio é maior do que o da SARS e do Ebola, mas esse fato é apenas clickbait.

Neste artigo vamos ver em que pé está a epidemia, saber que diabos é o Coronavírus, o que ele faz, quais os riscos para a gente no Brasil. Ah sim, o primeiro fato é que a charge abaixo foi publicada em um jornal dinamarquês, o que irritou o governo comunista em Pequim, que exigiu a retirada da imagem, então não olhe para ela, ok?

1 - O que é o Coronavírus?

Primeiro de tudo, ele não é novo. Coronavírus é um grupo de vírus com semelhança genética suficiente para serem colocados no mesmo balaio. São vírus bem comuns, que por volta de 8.000 AC começaram a divergir e infectar diversas espécies. Hoje temos Coronavírus que vivem em humanos, morcegos, porcos, vacas, frangos e dromedários ou camelos, mas o vírus nunca tem certeza pois de dentro não dá pra contar as corcovas.

As variedades diferentes em espécies diferentes causam sintomas diferentes. Em porcos e vacas, diarreia. Em galinhas, bronquite, em ratos, hepatite. Em humanos... resfriado. Sim, existem sete variedades de Coronavírus que infectam humanos, a maioria é parte das centenas de vírus diferentes que causam o resfriado comum. Nosso sistema imunológico (a menos que você tenha farreado muito nos anos 80) está sempre a postos, e lida com eles sem problema.

Exceto quando os vírus ignoram a Damares e começam a evoluir. Uma mutação aqui, outra ali e um belo dia um vírus que vivia feliz e serelepe em morcegos acorda descobrindo que ele agora pode viver dentro de humanos, que convenhamos é bem mais espaçoso.

2 - Então ele veio do morcego?

Do barro é que não veio. Análises do código genético do 2019-nCoV mostraram 96% de semelhança entre ele e os Coronavírus que infectam morcegos. A localização do primeiro contágio em Wuhan, China, aponta para uma origem específica:

Uma das comidas esquisitas que os chineses adoram (Thanks, Mao) é... sopa de morcego, mas o contágio não se dá através do consumo. Nenhum pobre vírus conseguiria sobreviver a um processo de cozimento usando óleo de sarjeta (não clique). A contaminação se dá durante o preparo, quando pessoas usando facas afiadas são expostas a morcegos crus cheios de sangue contaminado. Uma esfregada de nariz e pronto.

3 - E como ele se espalha tão rápido?

O Coronavírus se espalha através de micropartículas, pode ser saliva de um beijo, um espirro caprichado ou aqueles perdigotos nojentos daquele sujeito do seu trabalho que tem aquela babinha branca no canto da boca.

É a mesma forma de contágio de um vírus comum da gripe, mas existem vários fatores que determinam se ele é mais ou menos contagioso. Existe um termo pra isso, o Número Básico de Reprodução, ou R0. Se esse valor for inferior a um a doença não é contagiosa, se for igual a um as chances são que cada paciente contaminado contagie outra pessoa.

câmera termal contra Coronavírus

Shopping na Tailândia com câmera termal identificando pessoas com temperatura acima da média

Doenças mais sérias tendem a ter um R0 menor, pois não dá tempo pro paciente ter contato com muita gente. Ebola por exemplo tem um R0 entre 1,5 e 2,5. Já sarampo, tem um R0 entre 12 e 18, é uma doença altamente infecciosa por ser contagiosa mesmo sem apresentar sintomas e esse é o problema com o Coronavírus 2019-nCoV. As pessoas levam entre dois e dez dias para apresentar sintomas e nesse meio-tempo estão em contato com um monte de gente, viajando, espirrando na salada...

4 - O Coronavírus é tão mortal assim?

Em termos. A taxa de mortalidade do vírus está em torno de 2%, desde dezembro de 2019 foram 139 mortes, nos últimos quatro meses 8.200 americanos morreram de... gripe comum. Tétano tem uma mortalidade de 50%. Mulheres grávidas com varíola, mortalidade 65%. Raiva, 99%. Do outro lado, Malária tem taxa de mortalidade de 0,3%, hepatite A, 0,3%.

Duas variações do Coronavírus, a SARS (Síndrome Aguda Respiratória Grave) tem 11% de mortalidade e a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) tem assustadores 45% de taxa de mortalidade, felizmente no caso da MERS o contágio só se dá por contado direto com fluídos de dromedários (ou camelos, sei lá).

5 - Então o Coronavírus não ser tão mortal é bom?

Ele pode não matar mais do que bala de carabina, que veneno estricnina, que peixeira de baiano, mas esses 2% não são boa notícia.

Doenças extremamente mortais são um problema que se resolve sozinho. Quando o Ebola com 90% de mortalidade dizima uma aldeia, as pessoas, bem, morrem e não há como a doença se espalhar. Uma doença que mata, mas mata pouco viaja muito, o tratamento é negligenciado, as pessoas não ligam para as advertências e o resultado é uma epidemia generalizada.

A China tem 1,5 bilhões de habitantes, 2% disso são 30 milhões de pessoas. Se a doença se espalhar sem controle por todo o planeta, isso significa 156 milhões de mortos e a real possibilidade de uma mutação mais letal surgir a qualquer momento.

6 - Então vamos todos morrer?

Citando as imortais palavras do filósofo Alex Hopper, você vai morrer, eu vou morrer, todos vamos morrer, mas não hoje. Todos esses números são para situação sem controle, e depois do vexame da SARS no começo da década, a China está correndo atrás, investindo em contenção, tratamento e erradicação. Outros países estão cancelando voos, colocando viajantes em quarentena e alertando a população.

Sim, o valor de 2% de mortalidade é alto, a Gripe Espanhola, entre 1918 e 1920, matou 100 milhões de pessoas, com uma taxa de mortalidade de 2,5%, e isso em um tempo sem aviões transportando gente contaminada pelo globo, mas temos uma compreensão muito maior do funcionamento das infecções virais, modelos epidemiológicos, logística operacional, etc. Claro, isso não ajuda se você fizer parte dos grupos de risco e morar em uma região afetada.

7 - Quem corre risco e quais os sintomas do Coronavírus?

Tirando alguns malditos mutantes que são imunes, todo mundo corre risco de pegar o Coronavírus, se entrar em contato com alguém contagioso, mas as mortes estão concentradas em idosos, crianças e pessoas com o sistema imunológico fragilizado, tipo filhos de antivaxxers.

Os sintomas, bem... o Coronavírus é uma virose, então...

  • Tosse
  • Febre
  • Nariz escorrendo
  • Falta de ar
  • Dificuldade pra respirar
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda
  • Morte

Os sites oficiais citam morte como um dos sintomas, então se você morrer, cuidado, pode estar com Coronavírus.

Lembre-se: se você não entra em contato com viajantes do extremo oriente, se não trabalha em ambiente hospitalar e mora no Brasil, as chances de pegar o vírus são virtualmente zero. E não, ele não sobrevive muito tempo fora do corpo, então ele também não poderá te contaminar através das encomendas que ficam retidas em Curitiba, obrigado Correios!

8 - Então é tranquilo?

Não. É uma doença que tem potencial para matar milhões de pessoas, ele já matou mais gente do que a SARS, e caso ele chegue a algum shithol- país em desenvolvimento, sem infraestrutura, o bicho vai pegar. Bangladesh só tem condição de pesquisar cura de vírus no Plague, Inc.

Neste site aqui é possível acessar o mapa interativo abaixo, mostrando os países com casos de infecção e o número de infectados e mortos.

Caso a doença seja levada a sério vai ser contida, controlada e teremos escapado de mais uma. E um monte de gente irá pra internet reclamando que era alarme falso, que não existiu, que foi distração pra desviar atenções do impeachment do Trump ou do Fundão do Bolsonaro, bla bla bla.

O problema é que a China é o ambiente ideal para uma epidemia dessas. O governo não divulga dados reais pra não sair mal na fita, o pessoal lá na ponta não coloca dados reais nos relatórios pra não desagradar os figurões do partido, e pra piorar, eles têm o ambiente ideal para uma epidemia avassaladora: campos de concentração (eles chamam reeducação, mas depois da imagem de abertura estamos banidos lá mesmo...) com um milhão de muçulmanos Uighur vivendo em condições deploráveis.

Isso pra um vírus é um prato cheio de... seja lá o que os vírus comam, Bonzo sabor DNA?

9 - O Coronavírus tem cura?

A doença é uma virose, então embora existam alguns medicamentos aplicáveis, seu uso está sendo feito na base da tentativa e erro. O melhor tratamento para virose, como sua avó sabiamente recomendava é sopa (de galinha, não morcego), repouso, muito líquido e paciência. No caso de complicações, como pneumonia e falência renal, o bicho pega e o sujeito é colocado em respiradores e diálise (sim, ainda estamos na Idade Média).

O principal é em caso de sintomas, procurar o hospital para ser colocado em isolamento, se for o caso. Dessa forma evita-se novos contágios, e mata-se a epidemia.

10 - E uma vacina pro Coronavírus, é possível?

É possível, vários laboratórios já estão trabalhando nisso, mas vai levar alguns meses. O vírus ainda é muito novo, não há sequer uma amostra 100% pura para ser testada. É preciso identificar os antígenos que o vírus dispara, para codificar na vacina a mesma sequência, que fará o sistema imunológico aprender a identificar o vírus quando entrar em contato com ele.

What could possibly go wrong?

A vantagem é que hoje temos algumas tecnologias sinistras, incluindo vacinas de ácido nucleico, vírus modificados geneticamente para invadir nossas células e mandá-las produzir os antígenos gerados pelo Coronavírus.  Sim, vamos combater vírus com vírus.

Isso tudo, claro, leva tempo. As vacinas precisam ser validadas in vitro, testadas em animais (Sorry, Luisa Mell) e só então testadas em humanos. Normalmente um processo desses leva anos e anos, mas dessa vez será acelerado.

11 - Conclusão

O Coronavírus é parte do preço que pagamos por estar aqui. As mesmas mutações aleatórias que o tornam suscetível a pular entre espécies geraram espécies adaptáveis a um mundo sempre em mudança. Por milhões de anos o cérebro era um órgão sem muito brilho, ele cumpria suas funções, básicas e só. Então um raio cósmico, uma partícula radioativa ou um átomo que resolveu decair (maldito Heisenberg) gerou um erro de replicação do DNA, uma proteína ligeiramente diferente foi codificada.

Esses erros cumulativos geraram um proto-macaco com um cérebro um pouco maior que a média. Esse macaco interagia melhor com seu ambiente, e no que chamaremos de A Época em Que Era Cool Ser Nerd, esse macaco conseguiu se reproduzir (bons tempos). Logo macaquinhos mais espertos eram melhores em fugir de predadores, achar comida e encostar em pedras pretas.

Uma mutação gerou uma característica positiva que via seleção natural, criou um cérebro péssimo para sobreviver na natureza, pois demanda pelo menos 20% de energia do corpo, sofre de um monte de problemas que no mínimo fazem o sujeito tentar morder o cotovelo -ou pior- abrir um Tumblr, e não ajuda tanto na sobrevivência.

Só que esse cérebro desenvolveu inteligência em um nível nunca visto no resto da natureza. Desenvolveu uma capacidade de linguagem verbal, pensamento abstrato e hoje somos o fruto de bilhões de anos de evolução, uma espécie que já chegou a ter somente 40 mil exemplares, explorando o cosmos e enfrentando as mais terríveis doenças, não mais com medo e resignação, mas com esperança na Ciência. E convenhamos, de um lado um bat-vírus idiota, do outro 806 mil cientistas chineses.  Eu sei em quem apostar.

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