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A incrível e antiga tecnologia usada em The Mandalorian

The Mandalorian é uma grata surpresa, um western travestido de Star Wars, com algo igualmente clássico: Ele usa técnicas de VFX de 1930, aperfeiçoadas.

4 anos atrás

Séries como The Mandalorian às vezes são acusadas de fugir da verdadeira essência do cinema, ao dependerem de efeitos visuais e coisas que não existem, mas em verdade o cinema sempre foi a arte da ilusão, os primeiros filmes de Georges Méliès eram exercícios de tecnologia, criando e implementando trucagens.

De certa forma, a série de Jon Favreau bebe na mesma fonte do cinema de antigamente, e seu mais avançado recurso tecnológico é um aprimoramento de uma técnica há muito abandonada.

Quando George Lucas precisou de um cenário desértico para representar Tatooine, levou a produção de Star Wars para a Tunísia. Quando precisou de um lugar extremamente frio para ser Hoth, escolheu Curitiba, mas dado o custo-Brasil optou pela segunda opção, Noruega.

Uma série de TV não pode se dar a esses luxos, com cenários mudando a cada episódio os custos seriam astronômicos, e The Mandalorian já é a série mais cara da atualidade, custando US$ 100 milhões por temporada. Mais de US$ 15 milhões por episódio.

Tradicionalmente esse tipo de filme é feito com tecnologia de tela verde (tecnicamente chroma key se refere somente a vídeo), quando uma imagem é composta trocando um fundo verde por um cenário pré-filmado ou renderizado, mas isso tem alguns problemas.

Muito é exigido dos atores, que precisam interpretar sem nenhuma referência de cenário ou dos personagens virtuais. É comum termos a impressão de que os atores estão falando para o vazio.

Alguns diretores usam técnicas de pré-visualização para posicionar os atores e compor as cenas em ambientes virtuais, dando a eles uma ideia aproximada do resultado. Essas técnicas usam, em geral, gráficos bem crus, é só para visualizar mesmo.

O que foi feito em The Mandalorian foi bem diferente, é o contrário da tela verde, e é baseado na técnica de retroprojeção, inventada na década de 1930. A técnica é bem simples: você filma uma imagem de fundo, projeta a imagem invertida em uma tela, coloca o ator na frente da tela e pronto, temos uma composição.

Isso foi usado em praticamente todas as cenas de diálogos em carros do cinema, dada a dificuldade de iluminar e capturar áudio em um carro em movimento. Ao invés da rua, o carro fica parado, em um estúdio silencioso, com contrarregras balançando a suspensão e uma tela ao fundo passando a estrada.

Isso foi brilhantemente satirizado em Aperte os Cintos: O Piloto Sumiu!:

Óbvio, é uma técnica manjada, o resultado é bem falso e ela caiu em desuso, era mais eficiente usar um fundo verde e inserir o cenário na pós-produção, mas eis que várias tecnologias amadureceram, e o resultado é o que a Industrial Light & Magic batizou de... StageCraft.

Ao invés de uma tela de retroprojeção, temos um conjunto de telas de LED envolvendo o cenário, num total de 28 megapixels de resolução. Essas telas rodam uma aplicação usando a Unreal Engine da Epic Games, o mesmo motor gráfico dos jogos que a gente tanto gosta.

Os cenários virtuais são projetados em tempo real, com todas as animações, efeitos de luz, tudo.

Agora o melhor de tudo: Não é uma simples tela passando um filme, as animações são renderizadas em tempo real por algo que muito provavelmente deve ser quase capaz de rodar Crysis, e o diretor pode pedir alterações e refinar detalhes ali mesmo.

Neste vídeo da IL&M dá para ver direito como a coisa funciona:

Pelo menos 50% das cenas de The Mandalorian foram feitas usando essa tecnologia, e os atores adoram, a imersão é muito mais real, eles conseguem ver onde estão atuando, e foge-se dos cenários claustrofóbicos.

Fora que há outro efeito colateral excelente: essa tecnologia não serve para filmagem de cenas 3D.

This is the way.

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