Carlos Cardoso 4 anos atrás
O público costuma achar que filmes são obras prontas e acabadas, e que filmes com finais alternativos são raros, mas em verdade é comum um filme ter mais de um final. Isso pode acontecer na fase de roteiro, finais alternativos podem chegar a ser filmados e em alguns casos eles até vão para os cinemas, são muito mal-recebidos e mudados rapidamente.
Nesta listinha vamos ver os 10 finais que a maioria de nós nem sabia que existiam, mas que mudaram bastante (ou não) os filmes.
A deliciosa farofa de Roland Emmerich encheu os cinemas em 1996, com a então impensável situação de catástrofe global promovendo a cooperação entre inimigos jurados. É um filme que se sustenta até hoje, os efeitos especiais são decentes, o discurso do Presidente é absolutamente empolgante e Will Smith é Will Smith.
O elenco como um todo é excelente, quem diria que um ator veterano piroca das ideias como Randy Quaid faria um excelente piloto veterano piroca das ideias como Russell Casse, e ele é o motivo da mudança. No filme que todo mundo viu voluntários são convocados e a coisa menos realista nesse filme de invasão alienígena acontece: Um piloto alcoólatra desequilibrado que não pilota jatos desde o Vietnã recebe as chaves de um F-18 superHornet.
No final Russell Casse tenta um tiro desesperado contra o canhão dos aliens, o míssil trava, e ele se sacrifica em um ataque kamikazi, e o cinema inteiro celebra o velho bastardo.
Na versão alternativa ele é enxotado do grupo de pilotos, mas reaparece no último momento, com um míssil amarrado a seu biplano. É um final fraco, o sacrifício fica telegrafado, e os aliens se mostram extremamente incompetentes ao não conseguir derrubar um avião da Primeira Guerra Mundial.
Todo mundo lembra do final sombrio, com Sarah Connor pegando a estrada com John, rumo a um futuro incerto mas com esperança de que a Humanidade poderia melhorar e se salvar do apocalipse robótico. Só que essa não foi a primeira ideia de James Cameron. Ele queria um final bem mais definitivo, otimista.
A versão alternativa encerrava com uma Sarah Connor velhinha, gravando seu podcast num parque em uma Washington futurista. A humanidade estava vivendo um período de prosperidade, o Dia do Julgamento veio e passou sem problemas, John Connor é um Senador e todos viveram para sempre, o que significa que não tivemos Terminator Genesys. OK, eu preferia esse final.
Ao invés de terminar com uma festa regada a suco Gummy, o filme deveria terminar com um funeral, igual ao episódio I, mas ao invés de um personagem como Qui-Gon Jinn, que ninguém conhecia ou tinha qualquer apelo emocional, a ideia era matar... Han Solo.
Céus, consegue imaginar isso? Idiotas de Hollywood matando Han Solo para gerar drama. brrr. Felizmente George Lucas interveio e acabou com essa ideia idiota, com o mais nobre dos motivos: Iria atrapalhar a venda de bonequinhos do Han.
Enquanto ninguém está vendo a Rose sobe na amurada do navio oceanográfico e joga no mar o diamante que todo mundo estava procurando, logo depois ela vai pra cama, morre vira fantasminha e encontra o Leo DiCaprio, transformada em novinha, claro pois mesmo fantasma o Leo tem critérios.
Na versão alternativa ela é flagrada pela tripulação, mas antes de jogar o diamante na água faz um longo e entediante discurso sobre o valor da vida do universo e tudo mais, etc etc bla bla bla eu não consegui terminar de ver. O mais inacreditável é que Bill Paxton, depois de gastar milhões de dólares atrás do tal diamante apenas começa a rir, ao invés de amarrar uma âncora no pescoço da véia maldita e empurrar os dois amurada abaixo.
O filme que transformou Julia Roberts numa estrela é um dos filmes com finais alternativos mais cruéis já pensados. A história é uma clássica Cinderella. Em um muito de fantasia aonde uma mulher com o visual de Julia Roberts é uma dama que troca favores por dinheiro, e bem baixo na hierarquia, fazendo trotoir em Hollywood Boulevard, quando na vida real é mais fácil se achar uma Divine Brown (não google).
Richard Gere é um milionário entediado que a contrata por um fim de semana por US$3 mil, eles se apaixonam, ele fala a clássica "eu vou tirar você desse lugar" e vivem felizes para sempre.
Em uma das versões iniciais o filme estava longe de ser uma comédia romântica. A personagem de Julia Roberts era amargurada, viciada em drogas e ressentida. Richard Gere era um ricaço mal-educado grosseiro e amargurado, que usa a Julia Roberts, paga e no final vai cada um pro seu lado. Um campeão de bilheteria com certeza.
Sam Raimi fez o primeiro Evil Dead com orçamento de conserto de geladeira. Sem grana pra criar um monstro decente, quase todas as cenas do demônio eram em primeira pessoa, a câmera correndo na floresta rente ao chão foi um visual tão marcante que é copiado até hoje em todo filme de terror ou suspense. A história virou uma trilogia, graças ao público cult que se formou em torno do diretor e de seu grande astro, o impagável inimitável Bruce Campbell, que parece ser quem mais se diverte nisso tudo.
Ash Williams comeu o pão que o diabo amassou com a mão que ele teve que decepar, no final do segundo filme vai parar em tempos medievais pega fica com a princesa, homenageiam Ray harryhausen, enfrenta mini-mes e com auxílio de Merlin volta para os tempos modernos, graças a uma poção que o faria dormir por vários séculos.
No final original ele volta a seu emprego normal como vendedor de um magazine, quando é atacado por um deadite e encerra o filme no delicioso estilo exagerado da série:
Na versão alternativa, usada algumas vezes na TV, Ash, que é um completo idiota, erra a conta e toma gotas demais da tal poção, acordando em um futuro apocalíptico aonde a terra foi devastada, presumivelmente pelos deadites.
Esse final foi aprimorado na deliciosa e muito errada Ash vs Evil Dead, série que durou três ótimas temporadas. No último episódio Ash salva o mundo mas sofre muitos ferimentos. É resgatado por um grupo secreto e colocado em animação suspensa. Ele acorda em um futuro pós-apocalíptico, com uma moça dadivosa meio ciborgue, uma nova mão biônica e um carango envenenado (ok essa expressão me botou no grupo de risco do Coronga).
Eu já perdi a conta da franquia, me desinteressei depois que escalaram até a bonequinha Winona Ryder pra participar dos filmes, sendo que a única coisa que ela faria diante de um Alien é dizer "xô, bicho feio", mas Ripley teve excelentes aventuras, que nem deveriam acontecer se Ridley Scott tivesse a palavra final no primeiro filme.
O filme que contraria a regra de George Lucas, que ninguém usa roupa de baixo no espaço termina com Ripley embarcando na cápsula de escape depois de matar o alien. Na versão original de Ridley Scott, que graças ao doce lorde Satã não foi filmada, Ripley perde a luta com o Xenomorfo, que arranca sua cabeça com uma dentada. A última cena é uma gravação no diário de bordo, com o Alien falando com a voz da Ripley. Entendeu? Pois é, nem eu.
Dizem que os produtores falaram que se ele filmasse isso o dinheiro secaria.
Indicado a 10 Oscars e tendo vencido três, Rocky é um dos clássicos da História do Cinema, e como não poderia deixar de ser, faz parte do nosso pacote de filmes com finais alternativos. É um raro e bem-vindo filme aonde o mocinho perde no final, ao menos em termos.
Tecnicamente um empate, Rocky e Apollo Creed lutam até o fim de suas forças, os juízes muito contrariados acabam escolhendo um vencedor, Apollo, mas Rocky também é um campeão, pois recuperou o respeito de sua esposa e seu treinador.
A ideia original era bem diferente, no roteiro original Rocky aceitaria suborno para entregar a luta, e usaria o dinheiro para ajudar sua esposa a abrir uma pet shop. Não exatamente o herói inspirador...
O primeiro filme foi uma daquelas tempestades perfeitas aonde tudo deu certo, tudo conspirou para funcionar, inclusive a excelente química entre Danny Glover e o Führer, o jeito certinho de Murtaugh era a perfeita e oposta resposta à porralouquice de Riggs, o que rendeu quatro excelentes filmes e uma série estranhamente boa mesmo sem o elenco original.
Claro, até o filme ser editado e testado ninguém tinha certeza se daria certo, e um final bem mais fechado foi feito. Nele Riggs e Murtaugh se despedem, com Roger dizendo que está pensando em se aposentar, ambos apertam as mãos, cada um indo pro seu lado. Dada a instabilidade psicológica de Riggs, muito provavelmente ele meteu uma bala no coco alguns dias depois.
Heim? Você bebeu? Blade Runner tem uns 20 finais alternativos, Rachael morre Rachael vive Deckard mata ela o Olmos mata ela Deckard é replicante, Deckard não é, com narração, sem narração, versão do diretor, versão estendida versão definitiva versão final agora vai... tenho tempo pra isso não, irmão.
Acredite em mim, veja o original de 1982 e tá bom, alguns filmes funcionam melhor sem versões alternativas.